
Setembro é o mês dedicado à conscientização sobre a importância da doação de órgãos, o chamado “Setembro Verde”. Balanço divulgado pelo Ministério da Saúde no último mês de junho, mostra que o Brasil bateu um recorde histórico no número de transplante de órgãos e tecidos: foram mais de 30 mil procedimentos realizados no ano de 2024. O índice supera o recorde anterior, de 2023, quando foram realizados 28.700 transplantes no país. Entretanto, o balanço positivo contrasta com o número de doadores efetivos, que registrou queda: foram 4.120 doadores em 2023 e 4.086 no ano passado. O Ministério informou ainda que, atualmente, 78 mil pessoas aguardam doação de órgãos no país. As maiores demandas são por rim, córnea e fígado.
Especialista
Especialista em transplante de órgãos abdominais do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), o cirurgião Igor Luna Peixoto explica que, em muitos casos, o transplante é a única saída quando ocorre a falência de um órgão. “Como se trata de um recurso naturalmente escasso e dependente exclusivamente da doação, sem esse ato de doar seria impossível salvar uma grande quantidade de pessoas todos os anos. A maioria dos hospitais possui uma comissão intra-hospitalar para doação de órgãos e tecidos para transplante (CIHDOTT). Essa equipe de profissionais faz uma busca de pacientes que estão em condições irreversíveis de recuperação neurológica, organizando todo o fluxograma necessário para cumprir todas as exigências necessárias ao diagnóstico de morte encefálica”, explica o médico, que também é professor convidado da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR).
Familiares
Outro ponto crucial nesse processo é a abordagem aos familiares, já que se trata de um momento delicado e de muita dor. “Esse processo é acompanhado de um suporte psicossocial especializado, pela equipe da CIHDOTT do hospital, e deve sempre deixar claro para a família que não há reversão para a condição neurológica do paciente (morte encefálica), e que o órgão doado pode efetivamente salvar vidas. Apesar de estar em morte encefálica, a viabilidade dos órgãos para transplante depende também da condição clínica do doador. Manter os órgãos e sistemas funcionando adequadamente após o diagnóstico de morte até a doação é o principal desafio. Para isso, é importantíssima a capacitação adequada de equipes de UTI que possam lidar com potenciais doadores”, explica Dr. Peixoto.
Processo idôneo e regulamentado
É importante ressaltar que o processo de doação de órgãos é extremamente regulamentado e idôneo, seguindo protocolos rígidos e mundialmente aceitos do diagnóstico da morte encefálica. “Os órgãos doados são destinados conforme prioridade definida pelo Sistema Nacional de Transplantes, sem interferência de fatores externos”, conta o especialista, que destaca a importância da conscientização sobre o tema. “É necessário conscientizar a população a expressar o desejo de ser doador de órgãos aos seus familiares, pois essas são as pessoas que definirão o desfecho da doação”, finaliza.