Cristo Ressuscitou – Christós Anésti – é a exclamação de vitória e liberação para os gregos, dissipando as trevas do mundo. Significam que as portas do Hades cederam diante Dêle.

É assim o coração da Páscoa Ortodoxa, celebrada com fervor nas ilhas gregas, e em todo o mundo onde houver descendentes da terra que deu a Democracia aos homens, e fez os deuses do passado conviverem com a humanidade. Onde houver alguém com sangue grego nas veias, com certeza haverá na Páscoa os tradicionais ovos pintados de vermelho, simbolizando o novo Adão, o Cristo, primeiro nascido de uma nova criação.

Depois de quatro anos de medidas severas no controle da economia, a Grécia volta a crescer e espera aumento no fluxo de turismo internacional. Belezas não faltam, com suas ilhas espalhadas no mar azul, cada uma com identidade e características próprias, todas cheias de tradições.

Uma alegria rara na primavera grega é a quantidade de flores que formam tapetes nos campos, debaixo de laranjeiras e limoeiros que recortam no horizonte o céu azul. A grande maioria das ilhas gregas ainda permanece intocada na sua beleza original. E os raros visitantes são sempre recebidos com sorrisos e palavras de boas vindas.

A Páscoa é a data mais importante na liturgia da Igreja Ortodoxa. Baseada no calendário Juliano, sempre cai no domingo depois da primeira lua cheia da primavera. A Sexta Feira Santa, é o momento mais solene dos rituais da Páscoa. Velas são decoradas com fitas brancas e vermelhas como um sinal de luto.

No sábado, às onze horas, das janelas de Corfu chovem grande potes de cerâmica, jogados nas calçadas, um hábito antigo, que representa a justa raiva do povo contra o traidor Judas. Ainda no sábado acontecem as procissões solenes e missas, até que na meia-noite é anunciado que Christós Anésti, dando início ao repicar dos sinos nas igrejas e aos espetáculos de fogos de artifício. Em todos os restaurantes e tavernas as pessoas confraternizam e trocam os ovos coloridos de vermelho.

O Dia da Páscoa é dia da fartura, começando com uma sopa de carneiro engrossada com gema de ovo e arroz. O ponto alto do almoço é o carneiro assado, servido ao som das guitarras, violinos e o bouzouki, instrumento de oito cordas.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Descobertas também acontecem nos museus, repletos de belezas gregas

IGREJA ORTODOXA
Com milhões de fiéis no mundo, a ortodoxia constitui uma das principais expressões do cristianismo, embora seja mal conhecida no Ocidente. Nascida em 1054, no quadro do Império Bizantino, de uma longa rivalidade jurídica e dogmática entre Roma e Constantinopla, a Igreja Ortodoxa nunca deixou de ter em seu seio autonomias, decorrentes dos constantes problemas políticos na Europa oriental.

Assim, junto aos quatro patriarcados originais – Constantinopla, Alexandria, Antióquia, Jerusalém – com Roma perdendo essa função, surgiram ainda outras igrejas independentes, na Grécia e em Chipre, e quatro novos patriarcados: Moscou (restaurado em 1918), Belgrado, Bucareste e Sofia. Apesar das divisões estruturais, a Igreja Ortodoxa procura hoje assegurar uma unidade espiritual.

Tendo proclamado no século XIX a independência de sua Igreja, a Grécia foi o único país a reconhecer a ortodoxia como religião de Estado, sob autoridade do Arcebispo de Atenas.


Pequenas capelas, igrejas ou basílicas: em todas haverá paredes tomadas por ícones e muita arte

DESTINO TURÍSTICO ÚNICO
Com seus contornos irregulares, batidos pelo mar de grandes ondas e pelos ventos fortes, a Grécia é um país múltiplo, um verdadeiro mosaico de regiões e ilhas. Terra entre o Oriente e o Ocidente, sempre foi a mais exposta, a mais aberta aos espaços, aceitando todos os tempos. De invasões e anexações, ao longo de lutas seculares, continuou afirmando sua cultura, essa consciência de uma identidade grega que a Igreja Ortodoxa soube manter contra todas as dominações.

Sete grandes ilhas formam o arquipélago grego Jônico. A ilha mais importante é Corfu. Além da posição geográfica no lado ocidental da Grécia, além do seu clima, foi a história que conferiu ao povo das ilhas uma fisionomia original. Antes de serem agregadas, em 1864, na Enosis (União) do jovem reino grego, elas foram vassalos da república de Veneza, tomadas pela França, até se tornarem protetorado inglês.

Assim Corfu – ou Kerkira – a mais veneziana das ilhas e cidades gregas, tem na Esplanada, praça principal e local de todas as manifestações populares importantes, um campo para os fãs de cricket, jogo que só os ingleses gostam e entendem. Isso, junto das arcadas do Listón, uma réplica da rua Rivoli de Paris.

Mas os homens gregos não mudaram com o tempo, e conseguem combinar o mais longínquo passado com os dias do presente, reinventando diariamente uma tradição cultural que foi cantada pelo grande poeta Denys Solomos, criador do Hino à Liberdade, hoje o hino nacional grego.

O arquipélago de clima suave, guarda os terraços com muros de pedras secas, contornando as casas brancas entre pinheiros, ciprestes, laranjeiras e limoeiros, muitas oliveiras, algumas delas centenárias. São paisagens exuberantes, cheias de sol a partir da primavera, como em todos os países mediterrâneos.

Diante de um copo de ouzo, bebida nacional feita de uvas e anis, locais e turistas jogam conversa fora em Zakinthos ou Kefalinia. No mundo isolado das ilhas, algumas pessoas ainda falam dialetos e alguns pescadores se dizem descendentes de piratas. Tudo com a benção do Pantokrátor, Deus todo poderoso, na terra em que jarras de vinho e de azeite de oliva representam o desejo de paz e de prosperidade.

Nas ilhas a vida segue o ritmo do coração, o que faz todo o charme para o visitante. As atividades são as tradicionais: pesca, cultura de oliveiras, cultivo de vinhedos, artesanato. Longe da industrialização, as regiões mantiveram velhas crenças, assimiladas há séculos aos rituais cristãos. Se, no passado, os pedidos de ajuda eram feitos para deuses e deusas, hoje o povo ortodoxo procura a paz material e espiritual, oferecendo a primeira colheita de azeitonas à igreja, que queima o azeite nas antigas lâmpadas. Para conhecer os humanos deuses gregos, basta visitar o Museu de Corfu, com uma rica coleção, onde se destaca Diana.

O tempo se esvai seguindo o calendário de festas religiosas e devoções pessoais. Em todo o arquipélago a paisagem é pontilhada com edifícios religiosos bem cuidados. A influência italiana se acomoda bem com as tradições ortodoxas, quando surge um campanário mais imponente. Cada igreja é consagrada a um santo, a mais importante será sempre a do santo padroeiro da ilha, São Jerônimo em Cefalonia (Kefalinia), São Denis em Zakinthos, São Esperidião em Corfu. Mas onde houver um pescador, haverá também um devoto do protetor dos marinheiros e pescadores de esponjas, São Nicolau.

Construída no século XVI para a comunidade estrangeira de Corfu, a igreja dos Estrangeiros foi projetada seguindo planos de uma igreja ortodoxa, em torno de um coro central orientado para Jerusalem,- onde as mulheres não podem entrar-, separado da nave pelo iconostase. Nessa divisão o visitante admira os preciosos ícones de Cristo, São João Batista, a Virgem Maria, o santo padroeiro. Na parte superior do iconostase são representados os Apóstolos e Pais da Igreja, dominados pela Santíssima Trindade.


Nos mosteiros ortodoxos os padres conservam a cultura e a religião oficial da Grécia

ESCALA NA GRÉCIA
Para quem viaja a Paris, a Grécia fica distante apenas 3 horas de avião. Um paraíso azul, onde o sol é a riqueza nacional. Cidade em ebulição – como Atenas -, ilha turística – como Santorini, terra de eternos mitos nas pequenas ilhas, que ainda parecem intocadas, tudo pode ser festa.

No sul do Peloponeso, destino escondido e quase selvagem; nas Ciclades, o feitiço dos cartões postais; em todos os cantos de tranquilidade, a chamada Gréciaterapia, combinando Oriente e Mediterrâneo, aridez e mar, ouzo, vinhos e bons pratos, com muita alegria de viver. E muita arte. Feita de esculturas antigas, mitologia, jóias assinadas por Ilias Lalaounis , Zolotas, Fanourakis. Em ouro martelado. Com turquesas e corais. Um luxo.

É preciso saber achar o destino perfeito. A pouca distância da febre de Myconos, se esconde Tinos, descoberta por artistas. É um lugar de culto, de fé, não um destino de férias. A ilha fica a 1h45 de catamarã de Atenas, partindo de Rafina, ou 20 minutos, partindo de Myconos. Os hotéis são poucos, mas há vilas para alugar.

Subindo a estrada, a cada volta surge uma surpresa: Triandàros, Kardiani, Arnàdos, Ystèrnia, Falatàdos, Volax, Pànormos, marcando a história de séculos, de milênios que guardam seus rochedos e pedras. Há até uma vila chamada Agàpi – Amor. Na praia de Pirgos, marcar encontro com o ouzo, o pistache, as frutas secas e os biscoitos de semolina, no bar em frente a uma árvore centenária.

Com 65 pequenas localidades, cada uma terá uma taverna, cada taverna suas próprias especialidades. Em Vollax, coração da ilha, o prato principal são os grelhados; em Kato Ysternia, vila do mármore ao oeste da ilha, os frutos do mar e crustáceos. No nordeste da ilha, frente ao porto de Panormos, a melhor cozinha local. No porto de Tinos são famosos os pratos com peixe fresco, a cozinha caseira, servida em minúsculas tavernas debaixo das arcadas.

Na lembrança, pedras, seixos rolados, rochas. Uma paisagem dura como o silêncio, escreveu o poeta Yànnis Rìtsos. Que, deportado, sem direito a escrever, desenhava rostos de jovens enamorados nas pedras do caminho, declarando a fé na beleza, afirmando que a alegria existe e que, apesar de tudo, a vida vale a pena ser vivida.


Barcos de pescadores convivem com iates de luxo, nas ilhas mais procuradas

NO MAR EGEU
Hydra foi uma ilha preservada, descoberta nos anos 60 por artistas sonhadores. Depois chegaram os multimilionários e suas estrelas do momento. Os iates se transformaram nos pulmões de Hydra, enquanto desfilavam Onassis e suas conquistas amorosas, herdeiros de grandes fortunas fabricadas nas colônias da Inglaterra, da França ou das guerras da Alemanha. Depois chegaram os artistas, os hippies, os deslumbrados, os jovens atléticos e os mais delicados, – os estrangeiros enfim.

Na ilha distante 1h30 de barco do Pireu, os anos sessenta eram iluminados por velas e lâmpadas a querosene. Não havia carros, apenas um jeep elétrico para transportar o lixo. O transporte, ainda hoje, é o charme para os turistas: charretes e burrinhos. E as tavernas na frente do caís continuam sendo o lugar de todos.

Faça as malas e procure seu melhor pacote de viagem. A Flot, que tem escritório em Curitiba, oferece um roteiro de 13 dias a partir de 1.770 euros, a partir deste mês de abril, até fins de outubro. O roteiro inicia em Veneza, passa por Pisa e Florença e chega a Roma, com visita opcional a Nápoles ou Capri. Um vôo de Roma a Atenas é o começo das descobertas da Grécia, colocando Mykonos, Kusadasi, Rhodes, Heraklion e Santorini nesta festa.

A operadora paranaense MGM tem cerca de sete roteiros diferentes, incluindo cruzeiro pelas ilhas. São viagens de 6 a 10 noites, bem diferentes entre si, para agradar a todos. Para se informar sobre rotas e horários de ferry, acesse danae.gr. Os catamarãs são modernos e confortáveis. Os ferries noturnos chegam e partem de Atenas, imensos. As passagens têm preços diferenciados,conforme o lugar escolhido. Que pode ser até uma cabine privativa, com banheiro e beliches.No deck class, o espaço é no chão mesmo, sempre escolhido pelos mochileiros. Há também a opção de cadeiras com assentos que reclinam, como nos aviões.


Cidades de sonho, que povoam o imaginário dos turistas

Na alta temporada – de maio a agosto, reserve passagens aéreas e bilhetes do ferry noturno com antecedência. Nas cidades mais procuradas, principalmente nas ilhas (Rhodes, Kos, Patmos, Santorini) as reservas antecipadas são indispensáveis no verão.

Para viagens internas de avião, acesse olumpicair.com – aegeannair.com – athensairways.com. Se quiser alugar um iate, com espaço para até seis pessoas, e pretender ser o comandante, será preciso certificado para dirigir e dispor de um mínimo de mil euros por semana. Levando o capitão junto, acrescente outros mil euros. Saiba mais no yachting.gr

Na terra de Zeus, onde Evròpi – Europa – fez seus estragos, ainda é possível viver a Grécia amada desde a Antiguidade. A outra Grécia. A ensolarada. A autêntica. Quem vai uma vez, sabe que voltará. Porque é possível se afastar da Grécia, mas é impossível abandona-la.

Então, como estamos perto da Páscoa, vamos desejando a todos Mir, Paco, Vrede, Rauha, Béke, Fred, Huzur, Polój, Pace, Frieden, Paix, Peace. Paz.

Porque Christós Anésti.


Moinhos, mar azul, areias brancas. Ninguém precisa mais para ser feliz