Como nasce um autêntico “puro”

Das plantações na região de Vuelta Abajo até a finalização nas fábricas, o tabaco passa por processos artesanais

Rodrigo Browne

É impossível encontrar um charuto cubano com preços baratos – até mesmo em Cuba. A explicação é simples: um autêntico puro (nome que é dado aos charutos cubanos) é um produto exclusivo e totalmente feito à mão, num processo artesanal que começa no campo e termina nas pequenas caixas de madeira. Na programação do vigésimo Festival del Habano, em Havana, os participantes puderam conhecer de perto todos os passos desta produção fantástica.

Esse ano o Festival del Habano, que aconteceu entre 26 de fevereiro e 02 de março, programou uma visita as plantações de Tabaco em Pinar del Rio – região de Vuelta Abajo – há cerca de três horas da capital cubana, onde era feita a colheita das folhas. E, em outro dia, um passeio nas fábricas La Corona e Partagas, que finalizam o tabaco transformando as folhas em charutos de marcas famosas como Cohiba, Montecristo e Partagas.

O que chama atenção em todo o processo de fabricação é a ausência total de máquinas industriais e fertilizantes. Tudo é absolutamente manual e artesanal, do começo ao fim. Na visita a plantação de Tabaco foi apresentada aos visitantes uma cooperativa (ao todo são mais de 70) que envolve 62 produtores rurais que, desde sempre, trabalham no campo com suas famílias. A plantação fica na zona rural da cidade de Pinar del Rio, localizada na região de região Vuelta Abajo, considerada a meca do melhor tabaco do mundo e produz a autêntica matéria-prima para todas as 27 marcas de charutos premium de Cuba.

A plantação do tabaco acontece naquelas terras há mais de 500 anos quando, antes mesmo da chegada dos espanhóis, em 1492, os índios já o fumavam em charutos rústicos. Durante o festival foi realizada uma conferência magistral do professor Eduardo Torres Cueva sobre O Significado Histórico-Cultural da Indústria de Tabaco de Cuba no Mundo e ele chamou atenção para pontos fundamentais na relação do tabaco com o povo cubano. Num deles lembrou que a produção do tabaco, ao contrário da cana de açúcar, sempre foi feita por trabalhadores livres.

Estas visitas as plantações de tabaco podem ser feitas regularmente por quem vai Cuba, e a melhor época é exatamente durante os meses de fevereiro e março quando começa a colheita e os campos estão absurdamente verdes. Depois de colhidas, as folhas do tabaco são armazenadas para secagem e posteriormente passam por processos de separação, cura e fermentação, até o envio para as fábricas em Havana.

Após a saída do campo, quando o tabaco chega a Havana ele é distribuído para diversas fábricas que vão enrolar e dar o acabamento nas folhas para que elas se transformem num puro. Mais uma vez é preciso destacar o processo totalmente manual. Só para ter uma ideia, na fábrica da La Corona trabalham pouco mais de 200 trabalhadores. Eles produzem, ao todo, 7 mil charutos diariamente, que representa cerca de 280 caixas de charutos/dia. Parece muito, mas não é. Existe uma crescente demanda no mercado mundial que acaba aumentando o preço do charuto.

Nesse processo de finalização nas fábricas a folha do tabaco, quando é enrolada para virar o charuto, passa por várias etapas. Primeiro, depois de selecionada para qual marca vai ser produzida, ela passa pela formatação – que é o tamanho/bitola que o puro vai ficar no final (são mais de 250 possibilidades!). A seguir eles são anilhados (que é o anel de papel em volta da folha) e finalmente são encaixotados para distribuição ao consumidor final.

Esse é um pequeno resumo de como nasce um puro. Um produto artesanal e feito com o melhor tabaco do mundo. Na semana que vem o Festival del Habano continua com um balanço final do evento.

O jornalista participou do Festival a convite da Habanos S.A.