
Uma necessidade fundamental para o desenvolvimento infantil, brincar é mais do que diversão: No entanto, pesquisas apontam que as crianças estão brincando cada vez menos de forma livre e espontânea, em meio ao excesso de telas, agendas cheias de atividades e limitações impostas pelo ambiente urbano. Essa redução no tempo de brincadeira traz consequências diretas para a linguagem, a cognição e até mesmo para a autorregulação emocional.
Um estudo publicado na Frontiers in Psychology (2022) demonstrou que crianças com menos oportunidades de brincadeira livre apresentam atrasos de linguagem e dificuldades sociais mais acentuadas. Já a American Academy of Pediatrics reforçou em relatório de 2023 que o brincar é tão essencial quanto alimentação adequada e sono saudável para o desenvolvimento integral. No Brasil, dados do Instituto Alana revelam que crianças em grandes centros urbanos passam, em média, menos de duas horas por dia em atividades ao ar livre, tempo considerado insuficiente pelos especialistas.
Para a neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, o problema vai além da ausência de diversão. “O brincar livre estimula funções cognitivas como memória, atenção e criatividade. Quando a criança não tem espaço para inventar, imaginar e explorar, o cérebro perde oportunidades valiosas de desenvolver conexões fundamentais para a aprendizagem”, explica.
A fonoaudióloga Angelika dos Santos Scheifer acrescenta que a linguagem também é diretamente impactada. “Brincadeiras espontâneas, principalmente as de faz de conta, criam contextos de interação em que a criança amplia seu vocabulário, experimenta papéis sociais e exercita a comunicação. Sem esse espaço, o risco de atrasos de fala e dificuldades de interação aumenta”, afirma.
As especialistas ressaltam que não se trata de eliminar atividades estruturadas ou restringir a tecnologia, mas sim de garantir equilíbrio e momentos de brincar sem regras ou objetivos pré-determinados. “A qualidade desse tempo importa tanto quanto a quantidade. Um ambiente que favoreça a imaginação pode transformar o desenvolvimento da criança”, conclui Silvia.