José Cruz/ABr

No Brasil, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que 4,2% dos adultos apresentam no mínimo um problema social ou de saúde, para si ou para terceiros, associado ao consumo nocivo de álcool. Em casos mais graves, o transtorno evolui para o diagnóstico de dependência ou, como é mais conhecido, alcoolismo.

“A dependência do álcool é uma doença complexa caracterizada por uma série de sintomas, com destaque para forte desejo de beber e a substituição de atividades importantes pelo consumo de bebidas. Além disso, a pessoa com problemas com álcool pode consumir mais álcool do que o planejado e não conseguir parar, mesmo quando há prejuízo para sua saúde ou relacionamentos”, explica a psiquiatra Olivia Pozzolo, pesquisadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, referência nacional no tema.

Esses sinais de alerta são muitas vezes identificados primeiramente por familiares e amigos, que podem desempenhar também um papel relevante no incentivo à busca por ajuda e na motivação do início e permanência no tratamento.

No entanto, a mudança de comportamento exige comprometimento e muito esforço, especialmente quando se trata de abuso de álcool ou a própria dependência do álcool. Por isso, o CISA selecionou algumas orientações para acolher e ajudar quem está passando por problemas relacionados ao consumo de álcool:

1)    Converse sem julgar: evite rótulos e julgamentos e ofereça escuta, informação e apoio necessário. Encontre o momento mais adequado para conversar, de preferência quando a pessoa estiver sóbria e em local com privacidade. É imprescindível fazer uma aproximação afetuosa e amiga, com respeito pela pessoa, sem acusá-la ou culpá-la por seu comportamento em relação à bebida.

2)    Demonstre compreensão: seja objetivo ao dizer que está preocupado com seus hábitos e que gostaria de auxiliar na procura por ajuda, dando exemplos de situações negativas que ocorreram com a pessoa em função do uso do álcool. Procure ajudá-la a perceber que pode ter desenvolvido uma doença e que as pessoas não esperam que ela consiga parar de beber sozinha.

3)    Mostre os pontos negativos do hábito: durante as conversas, tente mostrar que há o lado prejudicial do consumo de álcool. Faça com que a pessoa pese os motivos que teria para continuar e os motivos para interromper o uso, com o objetivo de reforçar o desejo de mudar.

4)    Encoraje o tratamento: incentive, sempre, a busca por tratamento. Nesse sentido, é importante tentar encaminhar a pessoa para um médico especialista o quanto antes. Somente ele poderá diagnosticar a doença e, caso positivo, iniciar o tratamento mais adequado. Há opções de apoio e tratamentos gratuitos no Brasil, como os Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS-AD), os hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou grupos de mútua ajuda, como Alcoólicos Anônimos (A.A.), que oferecem reuniões virtuais diariamente.

A boa notícia é que não importa quão grave o problema possa parecer, a maioria das pessoas com transtorno por uso de álcool pode se beneficiar de alguma forma de tratamento. De maneira geral, os estudos indicam que o tratamento pode ser eficaz, com redução de 40% a 60% no consumo, e a taxa de sucesso irá variar conforme alguns fatores, como a presença de outros transtornos mentais e comorbidades clínicas, motivação da pessoa e a gravidade do transtorno por uso de álcool.