São Paulo, 04 (AE) – Foram 40 minutos até a jabuti cair no sono depois da anestesia. Então, os veterinários começaram o trabalho que consistia em serrar uma parte do casco para conseguir retirar os ovos de dentro do animal. O procedimento, que durou pouco mais de uma hora, foi realizado em março no Hospital Veterinário Anhembi-Morumbi, em São Paulo.

A jabuti, cuja idade ninguém sabe ao certo, estava com um problema comum da espécie: dificuldade em expelir os ovos. “Quando os ovos são retidos por muito tempo, vão apodrecendo e causam uma necrose do tecido do animal que pode levar à morte”, explicou Christianni Padovani De Biaggi, professora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi e responsável pela cirurgia.

Segundo ela, a etapa mais demorada da operação foi a anestesia – do tipo inalatória. “Por causa do metabolismo lento do animal, até fazer efeito foram quarenta minutos.” No caso de um cachorro, por exemplo, ele estaria anestesiado em cinco minutos.

Com a paciente, que pesa 7,5 quilos, virada de barriga para cima, a cirurgiã fez a abertura no casco com uma serra apropriada. O corte foi de cerca de 10 cm x 10 cm. Com uma espécie de talhadeira, a médica conseguiu chegar até o oviduto, ou seja, o útero da jabuti. A partir daí, sete ovos foram retirados manualmente, um a um.

Com uma resina acrílica, do tipo da usada pelos dentistas, o casco do réptil foi colado novamente. Os ovos foram levados por um aluno que os colocaria em uma incubadora. Mas são poucas as esperanças de que nasçam bebês jabutis. Mesmo fora do cativeiro, exige-se várias condições, como temperatura e profundidade dos ovos enterrados, para que vinguem. Segundo Christianni, os proprietários de jabutis fêmeas devem ficar atentos para o problema da retenção dos ovos. Mesmo sem contato com o macho, elas podem gerar ovos. “É importante que se observe se elas estão fazendo força para expeli-los.”

A paciente se recuperou e já foi para casa. Ela pertence ao Departamento de Parques e Áreas Verdes (Depave), órgão da Prefeitura de São Paulo que cuida da fauna silvestre. Ela chegou ao local doada pela dona, que tinha um casal, mas quis se desfazer da fêmea. O que se sabe é que com a última dona ela viveu cerca de 20 anos. Um jabuti pode viver 80 anos.