Dor nas costas, nas pernas, no peito ou no abdômen, problemas de pele, complicações digestivas, insônia, cansaço exagerado, aperto na garganta, falta de ar, azia, palpitação e dores de cabeça… Apesar dos sintomas, os exames atestam que tudo está em ordem, não há nada de errado com a saúde desta pessoa e o estresse emocional pode ser a causa de tantas queixas. “É o que chamamos de somatização, ou seja, a transferência para o corpo, inconscientemente, das dificuldades sentimentais com as quais não conseguimos lidar”, explica a psicóloga Adriana de Araújo, especializada no tratamento de fobias.

A razão da somatização pode ser um trauma pela perda de uma pessoa querida ou a incapacidade de conviver com sentimentos como o medo, a frustração, a insegurança, a raiva, a culpa… “Assim que constata que a saúde está perfeita, a maioria das pessoas costuma sair do consultório tranqüila, mas uma minoria – cerca de 3% da população – não se conforma com o diagnóstico. O indivíduo tem certeza de que está enfermo e de que a doença é grave”, diz Adriana de Araújo.

E assim, inicia uma peregrinação de consultório em consultório, capaz de se estender por muitos anos. “Esta pessoa, de fato, está doente. O mal que a atinge é a hipocondria”, diz a psicóloga. Depois de passar por vários especialistas, tais como clínicos gerais, endocrinologistas, oftalmologistas, ortopedistas, ginecologistas, neurologistas e cardiologistas, ela, enfim decide procurar ajuda psicológica.

A hipocondria

A hipocondria é um estado psicopatológico em que o ser humano tem um medo mórbido de sofrer de um distúrbio progressivo em algum órgão. O hipocondríaco tende a supervalorizar a gravidade de males banais – como um resfriado – e a interpretar reações normais do organismo como se fossem problemas sérios de saúde. “Outra característica é a necessidade de falar sobre a ‘doença’ com todo mundo. Pode até tratar-se de carência afetiva, mas isso não significa que o indivíduo simule ou ‘finja’ os sintomas – ele sente realmente, as dores das quais se queixa e acredita mesmo que está doente”, afirma Adriana de Araújo, que também é autora do livro O Segredo para Emagrecer.

Independentemente da idade, quem tem predisposição a se tornar hipocondríaco é justamente aquele com maior dificuldade em lidar com as incertezas, perdas e tristezas da vida. “Quem consegue trabalhar bem as próprias emoções dificilmente desenvolverá um quadro como esse”, afirma Adriana.

Graus de hipocondria

A hipocondria momentânea ou leve, que qualquer um está sujeito a desenvolver em um estágio da vida, tende a desaparecer assim que o obstáculo emocional que a desencadeou seja superado. “É mais um quadro de somatização do que propriamente hipocondria”, diz a especialista.

Já a hipocondria severa, aquela em que a pessoa fica 24 horas por dia preocupada com a doença que acredita ter, precisa de tratamento. “Dificilmente esta pessoa conseguirá controlar os pensamentos mórbidos e superar a enfermidade sem ajuda profissional”, diz Adriana. Sem tratamento, sua vida transforma-se num inferno, não só pelo medo constante de ficar doente, mas pela angústia e depressão provocadas por esse pânico. Com o tempo, a própria instabilidade emocional que acompanha a hipocondria enfraquece o sistema imunológico e predispõe o organismo a doenças reais.

Tratamento

Medicação antidepressiva e terapia são a base do tratamento contra a hipocondria. “Reconhecer as emoções ruins que procuramos negar, por um mecanismo inconsciente de defesa, muitas vezes, já é suficiente para fazer cessar os sintomas, mas para isso é fundamental um auxílio específico. Não adianta tomar remédios, sem trabalhar os sentimentos que provocam as reações físicas”, explica.

“Em uma outra etapa do tratamento é importante que o paciente perceba que uma série de doenças e sensações desagradáveis podem ser apenas produtos da maneira de agir e de pensar de cada um. E o começo da cura acontece quando percebemos que somos os responsáveis pelo padrão de pensamentos que cultivamos: negativos ou positivos”, diz a psicóloga Adriana de Araújo.