O perfeccionismo é muitas vezes visto como uma busca saudável por excelência, mas também pode se transformar em um gatilho para sofrimento emocional. Um novo estudo liderado pelo Pós PhD em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela em parceria com o psiquiatra Dr. Flávio H. nascimento, explora as bases neurobiológicas desse traço de personalidade, revelando como ele pode ser tanto um aliado quanto um inimigo do bem-estar.
De acordo com a pesquisa, regiões específicas do cérebro, como o córtex cingulado anterior (ACC) e o córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC), exercem um papel central na forma como lidamos com erros e estabelecemos padrões.
“Essas áreas são responsáveis pelo controle executivo e pelo monitoramento de erros, funções essenciais para regular o comportamento. Alterações nesses circuitos podem transformar a busca por excelência em um ciclo de autocrítica destrutiva”, explica o Dr. Fabiano de Abreu.
O papel dos neurotransmissores
O estudo destaca que o equilíbrio químico no cérebro é determinante para definir se o perfeccionismo será adaptativo ou prejudicial. Baixos níveis de dopamina nessas regiões e excesso de glutamato na amígdala estão associados ao chamado perfeccionismo mal-adaptativo, caracterizado por rigidez cognitiva, ansiedade e medo intenso de falhar.
“Quando a amígdala está hiperativada, falhas são interpretadas como ameaças, gerando emoções intensas e um padrão de pensamento inflexível. Isso aumenta a autocrítica e reduz a capacidade de lidar com erros”, detalha.
Por outro lado, no perfeccionismo adaptativo, há uma regulação eficiente desses neurotransmissores, permitindo manter altos padrões sem comprometer a saúde emocional. Nesses casos, erros são vistos como oportunidades de aprendizado, e não como fracassos.
Algumas pessoas têm tendência ao perfeccionismo?
Além das bases biológicas, o estudo também analisou a influência do ambiente. Críticas na infância, pressão social e expectativas elevadas podem potencializar predisposições neuroquímicas para o perfeccionismo disfuncional.
O trabalho ainda chama atenção para indivíduos superdotados, que apresentam uma prevalência maior de traços perfeccionistas. Embora muitos exibam o perfil adaptativo, a exposição a pressões excessivas pode levá-los ao padrão mal-adaptativo, com impactos significativos na saúde mental.
“Não podemos dizer que o perfeccionismo saudável é exclusivo dos superdotados. Pessoas com boa regulação emocional também podem apresentar esse perfil. O problema surge quando há desequilíbrio entre fatores biológicos e pressões externas”, conclui o Dr. Fabiano de Abreu.