A mulherada não se contenta mais em chorar no ombro da melhor amiga quando se sente sacaneada pelo namorado, marido, “rolo” ou amante. Muitas delas recorrem à rede mundial de computadores para denunciá-los, contando para todas as internautas o que ele aprontou.
No site “Não Saia com Ele”, dezenas de homens considerados cafajestes já foram “fichados”. Nome, foto, endereço no Orkut e reclamação sobre o acusado são divulgados diretamente pelos visitantes da página web www.naosaiacomele.com.
A publicitária Clarissa Krempel, de 24 anos, denunciou no site um homem que filmou uma transa com sua amiga sem autorização e divulgou o vídeo entre seus conhecidos. “Ela teve de mudar de cidade, pois não agüentou ser tão discriminada”, conta. “Casos assim devem ser denunciados.”
A criadora do site, a advogada Amber Filgueiras, de 30 anos, afirma que sua intenção era abrir um espaço para o desabafo das mulheres na web. “Compartilhar a dor com outras internautas pode ser um alívio para quem teve uma decepção amorosa”, diz. Amber se inspirou no site norte-americano Don’t Date Him Girl (https://dontdatehimgirl.com/).
A maioria das reclamações se referem a traição. “Mas muitas mulheres escrevem só porque estão com dor-de-cotovelo e querem se vingar do ex”, diz. Ela acha que o site virou mais um endereço de humor do que de utilidade pública.
Mas o estudante Dark, de 18 anos, que prefere não se identificar não viu graça nenhuma ao descobrir que seu rosto estava estampado no site, ao lado de um texto cheio de acusações.
“Não me considero um cafajeste, pois nunca fiz nenhuma mulher de boba”, diz.
Outro site que põe supostos canalhas na fogueira é o blog “Homem é Tudo Palhaço” https://tudopalhaco.blogspot.com/. Com muito sarcasmo, quatro amigas que moram no Rio contam histórias de “palhaçadas” vividas por elas mesmas ou por suas conhecidas.
Todos os homens, cedo ou tarde, fazem palhaçadas, segundo uma das “donas do circo”, a jornalista Roberta Carvalho, de 35 anos. “O talento circense é inerente à natureza masculina”, diz.
Roberta diz não publicar nomes dos envolvidos nas histórias. “Mantemos o anonimato para não expor as pessoas e evitar processos judiciais”, diz. O jornalista Mário Rosa, autor do livro “A Reputação na Velocidade do Pensamento” (Geração Editorial), que discute imagem e ética na era digital, observa que a popularização da internet transformou os conceitos de público e privado. “Todos estamos mais expostos”, alerta. “E poucas pessoas percebem o risco que estão correndo.”