
Em cerimônia na manhã deste domingo (7) na praça São Pedro, no Vaticano, o papa Leão 14 canonizou o beato italiano Carlo Acutis (1991-2006), tornando-o o primeiro santo millennial (nascidos entre os anos de 1981 e 1996) da Igreja Católica.
A cerimônia seria realizada inicialmente no dia 27 de abril, durante o Jubileu dos Adolescentes. No entanto, com a morte do papa Francisco, ela foi adiada até este domingo, juntamente com a canonização de outro italiano, Pier Giorgio Frassati (1901-1925), que morreu aos 24 anos, de poliomielite, em 1925.
Canonização
A canonização é um marco para a Igreja Católica, que dá as boas-vindas a um santo adolescente, que jogava videogame e tinha uma vida comum. Por isso, Acutis também é conhecido como “santo influenciador”, “influenciador de Deus”, “padroeiro da internet” e “primeiro santo de tênis e calça jeans”.
Para uma praça São Pedro tomada por cerca de 70 mil fiéis, a maioria jovens, o papa Leão 14 disse que a canonização de Acutis é um convite para “todos nós, especialmente para os jovens, a não desperdiçar nossas vidas, mas a direcioná-las para o alto e transformá-las em obras-primas”.
“Todos vocês, todos nós juntos, somos chamados a ser santos”, disse o pontífice durante a celebração.
Acutis foi beatificado em 2020 pelo papa Francisco após o Vaticano reconhecer o que foi considerado seu primeiro milagre: em 2013, o brasileiro Matheus Vianna, 3, curou-se totalmente de uma má-formação congênita no pâncreas após ter contato com uma camiseta de Acutis, em Campo Grande (MS).
Segundo milagre
O segundo milagre reconhecido, que o levou à canonização, foi a recuperação da estudante Valeria Valverde, da Costa Rica, que sofreu um grave traumatismo craniano após cair de bicicleta em Florença, na Itália. Com a filha desenganada, a mãe viajou até a Igreja Santa Maria Maior, em Assis (Itália), onde o corpo de Acutis está exposto, e pediu sua intercessão. Dias depois, a hemorragia desapareceu e Valeria se recuperou totalmente, surpreendendo os médicos.
Leão 14 ainda destacou que Acutis e Frassati foram exemplos de santidade e de auxílio aos necessitados.
“Carlo… gostava de dizer que o céu sempre nos esperou, e que amar o amanhã é dar o melhor de nós hoje”, disse o pontífice.
Nascido em Londres
Nascido em Londres, em 1991, Carlo era filho dos italianos Andrea Acutis e Antonia Salzano. Diagnosticado com leucemia, ele morreu em 2006, aos 15 anos, na cidade de Milão, para onde a família se mudou quando ele tinha apenas 3 anos.
Antes de se tornar um ícone de santidade para as gerações de “nativos digitais”, o jovem Carlo Acutis levou uma vida completamente normal, quase banal, sem nenhuma grande diferença em relação às demais crianças e adolescentes de sua geração. Fascinado pela internet, “gamer” e fã de franquias de jogos como Mario Bros. e Pokémon.
Seus pais, Andrea e Antonia, pertenciam a famílias italianas abastadas e, quando ele nasceu, viviam em Londres. O pequeno Carlo foi batizado numa paróquia católica londrina, mas foi muito cedo com a família para Milão.
Fé
De acordo com os familiares, um dos primeiros sinais da atração que a fé exerceria para o garoto se deu quando ele tinha apenas três anos, com a morte de seu avô materno, Antonio Salzano. Carlo estava presente quanto Salzano recebeu a unção dos enfermos (antes conhecida como extrema-unção, sacramento oferecido a quem tem uma doença grave) e, após a morte do avô, teria sonhado com um pedido da parte dele para que a família rezasse por sua alma.
Enquanto os pais trabalhavam, o menino frequentemente ficava aos cuidados de babás estrangeiras, entre as quais uma irlandesa e outra polonesa, ambas católicas fervorosas, que ajudaram a saciar parte da sua curiosidade sobre temas religiosos. Fez a primeira comunhão aos sete anos e passou a frequentar a missa e receber a Eucaristia com frequência, levando os pais a acompanhá-lo, até que se tornaram praticantes também.
Adolescência
Ao chegar à adolescência, Carlo se tornou catequista e passou a se interessar cada vez mais por computadores, dominando linguagens básicas de programação e editando vídeos engraçados de seus animais de estimação.
Amigos de adolescência contaram à revista britânica The Economist que Acutis não costumava conversar sobre temas religiosos, embora passasse a impressão de ser mais rigoroso que os demais meninos em temas morais.
Webmaster
Durante a adolescência, Acutis se notabilizou como “webmaster” de sites com temática religiosa e de caridade. A pedido de um sacerdote da escola jesuítica onde fazia o ensino médio, criou um portal que promovia o voluntariado. Também montou um catálogo online de 187 milagres eucarísticos (associados à crença de que a hóstia e o vinho se transformam no corpo e sangue de Cristo durante a missa) e às aparições da Virgem Maria consideradas verídicas pela Igreja.
Antonio D’Averio, 24, que estava na praça São Pedro neste domingo, chamou a canonização de “uma mão estendida da Igreja para nós, jovens”. Ele disse que trabalhava como programador e se identificou especialmente com a história de Acutis.
“Ele também era apaixonado por ciência da computação”, disse o jovem. “Para um santo… certamente é algo novo. É também algo que, na minha opinião, era necessário.”
A doença que levou à morte do garoto foi rápida. Em 1º de outubro de 2006, procurou atendimento por causa da garganta inflamada e, ao longo de uma semana, apareceram sintomas mais graves, como sangue na urina. Depois de mais exames, os médicos concluíram que ele tinha uma forma incurável de leucemia. Ele acabaria morrendo em 12 de outubro. Segundo a família, Acutis ofereceu a Deus seu sofrimento em favor do papa (na época, Bento 16) e da Igreja durante os dias de internação.