O laboratório farmacêutico Boehringer Ingelheim anunciou hoje que, por decisão própria, retirará das farmácias do mundo inteiro o xarope Silomat. Estudos indicaram que o princípio ativo do produto – o cloridrato de clobutinol – aumenta o risco de arritmia cardíaca (alteração nos batimentos do coração).

O Silomat foi lançado no mercado mundial em 1961. A empresa calcula que 200 milhões de pessoas já utilizaram o produto no mundo.

Ao Brasil, chegou em 1967 e hoje é o quinto antitussígeno (produto que combate a tosse) mais vendido do País Por ano, são comercializados 2,5 milhões de unidades, incluindo as versões com antialérgico (Silomat Plus) e em gotas, que também serão retiradas das farmácias.

No Brasil, seis laboratórios produzem versões genéricas do Silomat. Esses medicamentos, pelo menos por ora, não serão retirados das farmácias.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entidade responsável pela liberação de medicamentos no País, foi avisada hoje da decisão da Boehringer Ingelheim e só tomará alguma decisão após ler os documentos enviados pela empresa, de origem alemã.

Dinheiro devolvido – As farmácias terão de devolver os produtos ao laboratório. As pessoas que o compraram também. A Boehringer Ingelheim informou que devolverá o dinheiro. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 0800-702-4170. A empresa publicará anúncios nos meios de comunicação e enviará instruções aos médicos para que não receitem mais o Silomat.

As dúvidas sobre o xarope surgiram em 2004, quando um estudo independente mostrou que o medicamento provocava alterações no tecido do coração. Diante desse resultado, o governo da Alemanha solicitou à empresa mais pesquisas. A nova conclusão foi parecida com a primeira.

A empresa esclarece que nenhum dos 48 voluntários que participaram do estudo chegou a ter arritmia. “O que se verificou foi uma predisposição para a arritmia. E, mesmo assim, o risco é muito baixo”, explica José Carlos Breviglieri, diretor médico da Boehringer Ingelheim no Brasil.

Segundo Breviglieri, os efeitos adversos são passageiros isto é, desaparecem assim que se deixa de consumir o xarope. Não existe, ainda de acordo com ele, risco de os efeitos aparecerem no futuro. “Pacientes que já utilizaram o cloridrato de clobutinol não devem se preocupar”, acrescenta.

Alternativas melhores – Para os médicos brasileiros, foi uma surpresa a retirada repentina de um medicamento que está no mercado há 40 anos. A ausência do produto, porém, não os preocupa.

“Os xaropes, em geral, são muito antigos e não passaram por comprovações científicas adequadas”, explica o médico Rafael Stelmach, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia. “Os pneumologistas, principalmente os mais novos, não indicam mais os xaropes, que são um paliativo. Existem alternativas melhores.”