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(Marcelo Camargo/ABr)

Segundo a pesquisa realizada pelo DataCamp, 51% dos brasileiros consideram uma transição de carreira, em busca de novas oportunidades profissionais. Com a participação de 500 pessoas em fevereiro deste ano, 76% dos participantes enxergam o setor de tecnologia como o caminho mais promissor.

Já o estudo conduzido pela Maturi, em parceria com a NOZ Inteligência, em 2024, indica que 70% das mulheres maduras e 65% dos homens acima dos 45 anos estão em processo de mudança profissional.

Segundo o consultor de carreira da ESIC Internacional, Alexandre Weiler, a transição de carreira é cada vez menos vista como um movimento de risco e mais como um caminho de amadurecimento profissional. “A ideia de permanecer em uma única função por décadas já não faz sentido para a maioria dos brasileiros. Hoje, as pessoas buscam realização, flexibilidade e novas perspectivas, mesmo que isso signifique recomeçar em outra área. Além disso, a ascensão da tecnologia como área de interesse não se limita aos jovens, mas atravessa gerações, atraindo desde recém-formados até profissionais com vários anos de experiência”, afirma.

Esse fenômeno, de acordo com o consultor, reflete mudanças profundas no mercado global, como a digitalização acelerada, a automação e a expansão do trabalho remoto, que abriram portas para que profissionais de diferentes setores enxergassem na tecnologia não apenas estabilidade, mas também inovação e crescimento. “A tecnologia se tornou transversal. Mesmo quem não atua diretamente com programação pode migrar para funções relacionadas a dados, marketing digital, gestão de projetos ágeis ou experiência do usuário. O campo é vasto e acessível para quem tem disposição de aprender”, observa Weiler.

Idade x mudança de carreira

Ao comentar os dados da Maturi, que destacam o alto índice de transição entre profissionais maduros, Weiler ressalta que esse grupo já não enxerga o fator idade como barreira. Pelo contrário, a experiência acumulada se torna um ativo valioso em novas funções. “O mercado brasileiro ainda precisa avançar em políticas de diversidade etária, mas os profissionais 50+ já perceberam que mudar de área pode ser uma forma de manter a relevância e até de conquistar posições mais alinhadas ao propósito pessoal. É uma tendência que veio para ficar”, analisa.

Outro ponto relevante é a busca crescente por qualidade de vida e flexibilidade, já que muitas transições não são motivadas apenas por salários maiores, mas pela possibilidade de conciliar trabalho e vida pessoal. “As gerações mais novas não aceitam abrir mão do equilíbrio, e isso influencia também os profissionais mais experientes, que começam a priorizar jornadas mais sustentáveis. Nesse contexto, mudar de carreira deixa de ser um tabu e passa a ser uma estratégia de bem-estar”, pontua Weiler.

Para quem deseja dar esse passo, Weiler sugere algumas práticas importantes:

1 – Autoconhecimento: mais do que um exercício de reflexão, é um processo estruturado de identificar habilidades que podem ser transferidas para outros setores, compreender quais valores pessoais são inegociáveis e definir objetivos de longo prazo. Isso inclui analisar experiências anteriores, mapear pontos fortes e fracos e entender o que realmente gera motivação e satisfação no trabalho.

2 – Capacitação contínua: investir em cursos, treinamentos e certificações que estejam alinhados às tendências de mercado, principalmente em competências digitais, análise de dados, comunicação estratégica e soft skills. Segundo Weiler, o profissional que adota uma postura de “aprendiz constante” ganha vantagem competitiva e se adapta com mais rapidez às novas demandas.

3 – Rede de contatos: ampliar conexões de forma genuína, participando de eventos, palestras e comunidades profissionais online ou presenciais. A construção de networking não deve ser apenas transacional, mas baseada em trocas de conhecimento e colaboração. Weiler lembra que muitas oportunidades surgem por meio de indicações e conexões bem cultivadas.

4 – Mentoria: buscar orientação com profissionais experientes que possam compartilhar vivências, alertar sobre armadilhas comuns e sugerir caminhos mais assertivos. Mentores funcionam como atalhos, ajudando a acelerar aprendizados e a ganhar confiança em uma nova área. Essa relação também serve para expandir contatos e visibilidade no mercado.5 – Planejamento: estruturar a mudança de forma estratégica, estabelecendo metas claras, prazos realistas e uma análise financeira que permita atravessar o período de transição sem insegurança excessiva. Planejar também significa testar novas áreas por meio de projetos paralelos, freelas ou cursos práticos antes de dar o passo definitivo.