O Cérebro adolescente: desafios e conhecimentos

Adriana Foz

Há controvérsias sobre a fase da adolescência. É um fenômeno moderno ou de fato faz parte da ontologia neurobiológica? 
 
Para os que concordam com a primeira afirmação, aqui lembro uma passagem da peça deShakespeare, Um conto de inverno, onde há mais de 400 anos atrás já se especificava uma fase especial entre 10 e 23 anos*. Lembro também que até pouco tempo não se tinha o conhecimento do que acontecia dentro do cérebro humano. Atualmente, por meio de MRI (Ressonância Magnética  do Cérebro) podemos ver e acompanhar o que acontece neste ainda misterioso órgão humano.
 
O fato é há pesquisas e descobertas das neurociências que evidenciam e explicam seu funcionamento e desenvolvimento. Um jovem de 13 anos, por exemplo, não tem apenas muito sono porque é folgadoou preguiçoso. Ele é sim mais preguiçoso porque muitas transformações estão ocorrendo em seu cérebro fazendo com que se produza hormônios e neurotransmissores que o levam a determinados comportamentos, pensamentos e sentimentos.
 
Entender o que se passa no cérebro adolescente é fundamental para orientá-lo e educá-lo. Não é porque seu cérebro apresenta uma estrutura chamada amígdala – que não é a da garganta – que está aumentada e mais ativa nesta fase e que é responsável pelas reações mais emocionais em detrimento das reações mais racionais, que devemos permitir que o jovem pegue o carro de seus pais na surdina da noite. Ou ainda que não acorde para a primeira aula porque ficou na internet – que dá muito mais prazer -, até altas madrugadas.
 
É possível explicar tais comportamentos por meio de pelo menos duas regiões cerebrais, que estão mais em evidência nesta fase etária. Uma delas, que faz parte do sistema límbico -região responsável pelas emoções dentre outros – é a que inclui a tal da amígdala. A outra região é chamada de região Pré-frontal.
 
A primeira área é onde se processa as emoções, onde se dá o sentimento da recompensa. Por isso a busca desenfreada pelo prazer é sempre prioritária para eles. Esta região sub cortical, está bem mais aumentada nesta fase etária, e é a região que ajuda a consolidar a memória e os impactos sociais. Processa as emoções fortes, tais como alterações de humor, agressividade e comportamentos sociais mais gregários.
 
Já o Pré-frontal, região que só termina de amadurecer por volta dos 30 anos, é onde se processa o controle mais racional de impulsos (breque frente aos riscos), a flexibilidade mental, motivação, tomadas de decisões (escolhas) e as adições. Como esta área ainda não está pronta ela fica mais ávida por buscar excitação e novidades em detrimento de se controlar diante de algo que foi ponderado. Isto quem faz é o cérebro de um adulto. Esta área num adolescente é como uma empresa cujo presidente está sempre em férias, só curtindo e buscando prazer.
 
Ora, se estas são as características cerebrais destes jovens, devemos deixar sua a orquestra cerebral sem um maestro? Ou ainda, deixar a empresa com o presidente sempre em férias? Se a adolescência é apenas um fenômeno moderno, creio que os pais e especialistas que lidam com o desafio adolescente, vão concordar que é preciso orientações para sua educação, hoje.

A educação molda o cérebro adolescente, diz a neurocientista, Sarah- Jayme B. Ao adulto cabe, então, a orientação, os limites. Cabe o pensar junto, cabem explicações, a busca pela informação competente e os nãos. Cabe a compreensão e a tolerância, mas não a permissividade ou a intransigência e intolerância.

Adolescência é uma fase rica de possibilidades que pode preceder um adulto saudável e feliz.

 * Trecho Um conto de inverno, de Shakespeare: “Desejara que não houvesse idade entre 10 e 23 anos, ou que a mocidade dormisse todo este tempo que só é ocupado em deixar com filhos as raparigas, aborrecer os velhos, roubar e provocar brigas. Tendo dito isto, a quem o conceberia caçar com semelhante tempo, se não a estes cérebros ferventes de 19 a 22 anos”.

Adriana Fóz é Educadora (USP), pós-graduada em Psicologia da Educação (USP), especialista em Psicopedagogia (Instituto Sede Sapientiae) e Neuropsicologia (CDN-Unifesp). Atende, em consultório, pacientes adolescentes e adultos. Também atende para reabilitação neuropsicológica com parceria interdisciplinar. Coordenadora geral do Projeto Cuca Legal – Programa de Prevenção em Saúde Mental nas Escolas (Psiquiatria/Unifesp). Pesquisadora CNPq em Neurociências na Educação. Consultora e autora de livros. 

Ministra cursos e palestras por todo o Brasil sobre temas relacionados à neurociência na educação em suas diversas vertentes.  Recentemente leva a palestra Plasticidade Emocional para o mundo corporativo, instituições e escolas.