
O montanhismo e o turismo paranaense ganharão em breve um importante aliado. É que o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental (Simepar) instalará em breve as duas primeiras estações meteorológicas em áreas de montanha do Paraná. A medida permitirá um planejamento mais assertivo por parte de montanhistas e turistas, ajudando na previsão e monitoramento do tempo nestas áreas, que por conta do relevo irregular costuma sofrer com mudanças mais drásticas nas condições de tempo.
As duas estações ficarão em Morretes, no litoral paranaense, cidade que também é berço do montanhismo brasileiro. A primeira estação será instalada na próxima semana na base do Parque Estadual Pico Marumbi (PEPM) e ficará próximo à estação de trem Marumbi. A segunda estação, no prazo de até 60 dias, será instalada no topo do Pico Olimpo, o cume mais alto do conjunto montanhoso, com 1.539 metros de altitude.
De acordo com José Eduardo Gonçalves, gerente de Hidrologia e Infraestrutura do Simepar, a iniciativa tem o objetivo de permitir uma melhor compreensão sobre como o clima se comporta em áreas de montanha.
“As condições meteorológicas na serra são adversas. Sem os dados, sem o monitoramento, não é possível identificar a diferença. Por isso, a ideia é colocar um ponto de monitoramento a aproximadamente 1.500 metros de altura e um na base, que fica mais ou menos a 450 metros de altura em relação ao nível do mar”, detalha Gonçalves.
Auxílio aos montanhistas
Os dados de todas as estações meteorológicas são atualizados a cada 15 minutos e disponibilizados gratuitamente para a população no site do Simepar: www.simepar.br. As informações das novas estações poderão auxiliar os montanhistas e visitantes no planejamento das trilhas, aumentando a segurança de todos.
Participaram do estudo para definição dos pontos de instalação destas estações e da visita técnica, além da equipe do Simepar, o chefe da unidade Gabriel Camargo Macedo, representantes do Instituto Água e Terra, e integrantes do Cosmo (Corpo de Socorro em Montanha, organização civil formada por montanhistas e voluntários), com apoio da Assembleia Legislativa do Paraná.
Segurança
O Cosmo atua em primeira resposta nos atendimentos no Parque Estadual Pico Marumbi. Nos casos mais graves, o Corpo de Bombeiros é acionado. O grupo atendeu mais de 30 ocorrências entre 2022 e 2024 no PEPM – entre elas sete resgates graves. Entre as ocorrências, 31% foram no Olimpo e na Trilha Frontal. Segundo o grupo, preparo físico, hidratação e planejamento de horário evitariam 60% destes incidentes.
Para o vice-coordenador do Cosmo, Lineu Filho, as questões climáticas são primordiais para uma visitação mais segura. Com clima úmido, as trilhas ficam mais perigosas, mais lisas. O frio aumenta a condição para hipotermia, porque a temperatura fica mais baixa quanto mais alto a pessoa está. Já no verão, com temperaturas muito altas, há uma condição de amplitude térmica muito grande entre as diferentes áreas da trilha.
“Por todos estes motivos o monitoramento das condições climáticas favorece, porque com isso as pessoas podem optar por não ir se o tempo não estiver adequado, e também para pesquisa ao longo do tempo. Ter dados mais precisos sobre as condições climáticas no parque vai ajudar no manejo da visitação”, afirma Lineu.
O Parque do Marumbi
O PEPM possui atualmente 8.745 hectares de área e configura uma Unidade de Conservação da Natureza de Proteção Integral, ou seja, é um parque instituído com objetivo principal de conservar a rica biodiversidade local.
Parte de seus limites faz divisa com outras unidades como a Área de Proteção Ambiental Estadual do Piraquara, Parque Estadual da Serra da Baitaca e Parque Estadual da Graciosa. O PEPM recebe cerca de 8,5 mil visitas ao ano, e julho é o mês que recebe o maior público.
Berço do montanhismo
O Conjunto do Marumbi é formado por diversos picos que superam os 1.000 metros de altitude e possui, por questões de segurança, acesso autorizado apenas aos quatro principais: Pico Olimpo (1.539 m), Gigante (1.487 m); Ponta do Tigre (1.400 m); Abrolhos (1.200 m); e Morro Rochedinho (625 m).
O nome originário do mais alto, batizado pelos índios, era “Guarumby”, que em tupi significa “Montanha Azul”. Hoje ele recebe o nome de Joaquim Carmeliano Olimpio, que alcançou em 21 de agosto de 1879, pela primeira vez, estes 1.539 metros de altitude.
Esta conquista marcou o início do montanhismo por esporte no país, e por isso a Montanha do Marumbi é considerada o Berço do Montanhismo no Brasil. Até a conquista do Pico Paraná na Serra do Ibitiraquire, na década de 1940, o Marumbi, hoje Olimpo, era considerado o ponto mais alto do Estado. Devido à inclinação, a trilha para o Olimpo é considerada por muitos mais difícil do que a do Pico Paraná, ainda que a altitude seja menor.