Duas operadoras com vinte anos de mercado – uma na Croácia (Aurora Maris) e outra em Curitiba (Dnipró Gold)– se associaram para trabalhar programas na Europa e nos Balcãs. O resultado foi a formação de um grupo de paranaenses viajando pelo 28º país a ingressar na Europa Comunitária, na descoberta das belezas naturais, da história e do imenso acervo cultural de uma terra ainda pouco conhecida dos brasileiros, mas que, embora seja do tamanho de Sergipe, acolheu em 2012 (alô Embratur!) 12.3 milhões de turistas . Claro que os profissionais titulares das duas operadoras têm muitos anos mais de experiência no Turismo. Mas a coincidência das duas décadas como operadoras se repete : ambos têm Sergio como nome.
O famoso cemitério de Zagreb é roteiro turístico, pelos jardins e obras de arte ao ar livre
No grupo do Paraná, médicos, advogados, engenheiras, todos encantados com tantas belezas na terra feita de pedras, céu aberto e mar de um tom de azul como não há igual no mundo.
Não havendo voos diretos entre o Brasil e a Croácia, o início da viagem foi a sempre renovada Viena, capital da Áustria, romântica e cheia de atrações. Vamos deixar para falar de Viena em outra ocasião, porque nosso objetivo agora é a Croácia.
Paranaenses na Igreja de San Marco, reconstruída sobre ruínas do século XIV, quando recebeu o telhado com escudos do triplo reino e da cidade de Zagreb.
VARANDA PARA O MEDITERRÂNEO
Com um idioma e uma gastronomia muito peculiares, com seculares tradições, a Croácia é uma região onde o estilo de vida italiano está sempre presente, lembrando que a raíz é romana: fachadas em cores fortes, centros históricos bem marcados na arquitetura veneziana, jardins floridos, a beleza única de suas praias, ilhas paradisíacas e um incrível patrimônio cultural. As mais de mil ilhas no Mar Adriático (1.185) espalhadas no azul cobalto de suas águas ainda transparentes, são acolhedoras desde os tempos pré-históricos. Combinando três grandes civilizações – romana, eslava e germana –, hoje acolhe milhões de turistas de todos os cantos do mundo, vivendo essencialmente de seus visitantes.
A população é de apenas 4.403 habitantes, mas o país tem sete locais declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco, além de mais de onze eventos Patrimônio Imaterial, como a Festa de San Blas, padroeiro de Dubrovnik.
A costa é uma sucessão de agradáveis baias, pequenas penínsulas e ilhotas, em um litoral caprichoso que Cassidoro, ministro do rei ostrogodo Teodorico, definiu como a terra que é o prazer dos ricos e a felicidade dos discretos.
No alto da Torre Lotrscak um canhão anuncia, diariamente, o meio dia. Lembra o ano de 1242, quando Gradec foi proclamada cidade real livre
ZAGREB
A capital da Croácia é também o centro científico, cultural, econômico, político e administrativo da República da Croácia. Sede do Parlamento croata, do Governo e da Presidência, é o centro da comunicação internacional. Protegida dos ventos frios do norte pela montanha Medvednica, se abre na planície graças ao rio Sava. Perto de um milhão de pessoas – um quarto da população de todo o país – vive na capital, que acolhe povos de toda a Europa.
A arquitetura reflete as diferentes culturas que formaram a identidade do país. Estudos arqueológicos mostram que há 35 mil anos antes de Cristo, durante a Idade da Pedra, a região já era ocupada. Celtas e romanos deixaram suas marcas para sempre e a cidade como se apresenta hoje, data da Idade Média, com os povoamentos em duas colinas: a secular Gradec e a eclesiástica Kaptol. O primeiro documento escrito sobre Zagreb é de 1094, quando o rei Ladislav da Hungria estabeleceu a diocese de Kaptol. A Catedral ainda domina o horizonte com suas torres de estilo neo-gótico. Durante a invasão mongol na Europa Central, em meados do século XIII, os tártaros arrasaram a Hungria e o rei Béla IV procurou refúgio em Zagreb. Em gratidão, Béla deu a Gradec o título de cidade livre. Hoje um canhão na Torre Lotrscak anuncia diariamente o meio dia, lembrando essa independência.
O Pescador, escultura da primeira fonte da Cidade Alta, de 1911. Os lampiões ainda são a gás, acesos todas as tardes por 2 funcionários, encarregados dos 200 exemplares do século 19.
O único portão que sobrou da Idade Média foi Kamenita vrata, que sofreu incêndio em meados do século 18 (1731). Milagrosamente se salvou do incêndio o ícone da Virgem Maria, que se mantém no mesmo lugar da muralha, na Porta de Pedra. Nossa Senhora da Kamenita Vrata é homenageada como padroeira de Zagreb e sua festa acontece no dia 31 de maio, quando é realizada procissão. A data também é considerada como o dia da cidade de Zagreb. Ao lado da porta, a escultura de Dora Krupiceva se refere à personagem do romance de August Senoa, primeiro romance histórico croata (1871) que se passa no século 16, contando a história da jovem plebeia enamorada de um nobre, um amor não correspondido. Dora vivia na rua de Pedra, número 5 (Kamenita ulica) e sua estátua de bronze é obra de Ivo Kerdic (1929).Na mesma rua funciona até hoje a farmácia mais antiga de Zagreb, inaugurada em 1355 .
As duas colinas foram adversárias no passado e hoje o vale divisório se transformou na rua mais movimentada da cidade, Tkalciceva, só para pedestres, lotada de lojas de artesãos, bares e restaurantes, destaque na cidade alta. Uma escultura de bronze faz homenagem às prostitutas, que tinham casas na região, no passado. Outra escultura lembra Marija Juric Zagorka (1873-1957), jornalista e escritora croata. De família nobre, viveu muito antes de seu tempo, tendo sido a primeira mulher jornalista profissional e eterna combatente pelos direitos iguais entre homens e mulheres. Seus romances misturavam histórias de amor com elementos da história nacional. O mais famoso é a Feiticeira de Gric, contando a perseguição à chamada feiticeira de Zagreb.
Na Porta de Pedra, única que sobrou da Idade Média, a estátua da personagem romântica, história de um amor não correspondido
Na cidade alta o ponto central é a Igreja de San Marco, onde antes ficava a praça principal de Gradec antiga. Construída no século XIII em estilo românico, foi restaurada por Herman Bollé em estilo neogótico em fins do século XIX, quando foi instalado o telhado colorido, com brasões do triplo reino da Croacia, Dalmacia e Eslavonia e o brasão da cidade de Zagreb. Na região estão também a sede do governo croata, o Parlamento, o Museu Histórico Croata, o antigo palácio municipal, o Museu de Arte Naif,( um dos trinta museus da cidade).Os lampiões ainda são a gás , como no início do século XIX e dois funcionários se encarregam diariamente de acender as mais de 200 lanternas.
Pode parecer exótico, mas o cemitério Mirogoj, aos pés do monte Medednica, é parte do roteiro turístico. Criado em fins do século XIX, tem uma arcada monumental, pavilhões e cúpulas projetados por Herman Bollé. Lá grandes artistas assinaram esculturas e pinturas nos túmulos dos principais personagens croatas, transformando o lugar no mais bonito cemitério da Europa, em meio a jardins e alamedas arborizadas.Uma verdadeira galeria de arte a céu aberto.
O grande ponto de encontro de todos é a praça Ban Josip Jelocic, coração da cidade, no estilo austro-hungaro, dominada pela estátua equestre do Conde Jelacic. Fica logo abaixo das escadarias que levam ao popular mercado Dolac, de frutas, flores, legumes e artesanato, sempre colorido por suas barracas vermelhas.Está alimentando o povo de Zagreb desde 1930. Uma estátua no alto da escadaria – Kumice – perpetua a tradicional vendedora. Outra estátua junto ao mercado flores é o de Petrica Kerempuh, personagem da literatura croata, profeta plebeu,sulfuroso crítico da atualidade. Suas aventuras estão no livro de Miroslav Krleza, Balada de Petrica Kerempuh (1936).
Escultura famosa é O Pescador, de Simeon Roksandic, de 1011. Foi a primeira fonte da Cidade Alta.Na rua Radiceva uma estátua de São Jorge chama a atenção: é a única que representa São Jorge rendendo homenagem ao dragão, já morto.
Na Porta de Pedra, o pequeno ícone da Virgem Maria é local de peregrinação. A santa é homenageada em 31 de maio, data também de Zagreb
Prédios barrocos, mansões luxuosas, foram construídos nos séculos 17 e 18. Os jesuítas ergueram a igreja de Santa Catarina, com todo o esplendor barroco eclesiástico. Zagreb tornou-se um centro universitário já no século 17, um dos mais antigos da Europa, e instalou sede do governo, enquanto as diferenças desapareceram, até a unificação dos dois lados, em 1850.
Indústria,comércio e transporte transformaram a cidade no século XIX e, em 1862, a linha férrea conectou Zagreb com as principais capitais europeias. Surgiram praças e parques espaçosos, monumentos, prédios como os da estação ferroviária (Glavni kolodvor), a Academia de Ciências e Artes, a Biblioteca da Universidade, o Teatro Nacional, colégios e muitos palácios particulares. Depois da Primeira Guerra Mundial, a Croácia desligou-se da monarquia austro-húngara e tornou-se parte do reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, o novo estado formado pelos povos eslavos do sul. A modernidade continuou a surgir, até a Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra, a Croatia, com Zagreb como capital, tornou-se uma das seis repúblicas da Yugoslavia. Hoje o rio Sava tem doze pontes conectando o norte ao sul, a cidade velha à Novi Zagreb. Foi em 1991 que o Parlamento Croata proclamou a independência como estado soberano.
DESTAQUES
A gravata nasceu na Croacia. Era uma echarpe que os militares usavam e costumavam deixar com suas namoradas, quando partiam para batalhas. Os croatas que foram servir no exército francês durante a Guerra dos Trinta Anos chamaram atenção dos nobres franceses, com suas echarpes de seda colorida. E até o Rei Sol, Louis XIV, passou a usar a echarpe, depois transformada em gravata e moda em toda a Europa. Para comprar um modelo autêntico é preciso ir até a Ottagono, a mais famosa galeria comercial de Zagreb, de forma octogonal e abóbada central em vitral. A galeria tem a joalheira do único ourives da cidade que ostenta um diploma de belas artes. Seu trabalho em medalhas pintadas à mão já recebeu prêmios. A galeria liga a sofisticada rua Ilica, de 6 quilômetros de comprimento, com a Praça das Flores.
Curiosidade: a caneta esferográfica – Penkala – foi inventada na Croácia, por Eduard Slavaljub Penkala, conquistando o mundo.O inventor Penkala (1871-1922) também construiu o primeiro aeroplano croata, que voou pela primeira vez em 1910.Em seu nome foram patenteadas 80 criações.
SOUVENIR
Na Radicéva 10, estão as mais tradicionais jóias assinadas de Zagreb, feitas em ouro e prata.A Lapidarium, de Zlatarna Mario, também aceita encomenda de jóias desenhadas pelo cliente. As peças únicas levam assinaturas de renomados designers e artistas, como Mario Nokaj, Dean D., Ivan Midzc, Stjepan Baja, Isabelle Bianchi Marchesseau, Irineja Cubela, entre outros. Vale investir em uma lembrança tão especial.
COMIDINHAS
Paprenjak é um doce que mistura nozes, mel e pimenta, um bom contraste que combina com a cidade tão diversificada. Licitar é um biscoito feito com massa de mel, originário do norte da Croacia, uma herança cultural desde o século XVI. Na época eram feitos pelos Medicari. Tem forma de coração e é dado como símbolo de amor e amizade, em ocasiões especiais. Costuma ser usado também como enfeite de Natal. Os joalheiros fazem os Licitar em ouro e prata ,combinando com esmalte vermelho, pedras preciosas, formando colares, pulseiras, pendentes.
A cozinha croata mistura temperos de muitas culinárias, já que a história e a geografia influenciaram os pratos regionais. O mais tradicional é o Strukli, que pode ser cozido e assado, doce ou salgado. Peru com mlinci (massa em tiras) é prato do interior da Croacia. O bife Zagreb é feito com carne de vitela recheada com queijo e presunto, mais ou menos com o famoso Wiener Schnitzel austríaco. Queijos artesanais –svijezi sir – e embutidos são encontrados no mercado Dolac, conhecido como Ventre de Zagreb. Por lá funcionam doçarias, padarias, lanchonetes. E que ninguém saia da cidade sem conhecer o doce kremsnita, massa folhada recheado de creme, tradição da cidade de Samobor. Outros doces: os strudels de maçã, queijo ou cerejas. Coisas que podem ser provadas no restaurante Okrugljak, famoso pela autêntica cozinha croata, que serve também a massa em camadas,recheada com queijo, prato salgado, como entrada.
APRENDA A DIZER
Bom, fácil não é. Falar croata é coisa para…croatas. E ainda a escrita tem aqueles sinais, que modificam pronúncia e nem existem em nossos computadores. Mas dá para tentar:
Furt = sempre
Frtalj = um quarto
Plac = mercado, praça
Gemist = vinho branco com água mineral gasosa
Puca = garota, mocinha
Purger = habitante de Zagreb
Ura = relógio
Snicl = bisteca
Gelender = corrimão
Fest = com força
Virsle = salsicha de Viena
Fasnik = carnaval
Grincajg = mistura de verduras para sopa
Ulica = rua
Stube = escada
Put = caminho
Trg = praça
Most = ponte
Cesta = estrada
Hvala = obrigado, talvez a palavra mais importante