Bem Estar Inclusão & Aventura

Projeto em Curitiba leva crianças com deficiência para se aventurar em trilhas

Desde 2022 já foram realizadas mais de 30 ações voluntárias, e grupo ganhou recentemente mais uma cadeira Julietti

Rodolfo Luis Kowalski
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Voluntários carregam a cadeira Julietti morro acima (Foto: Matheus Sizoto Roque)

Desde o final de 2022, um projeto de Curitiba vem transformando sonhos em realidades, possibilitando que pessoas com deficiência (PCDs) – principalmente crianças – subam uma montanha ou tomem um banho de cachoeira, entre outras aventuras. Trata-se do Inclusão & Aventura (I&A), uma iniciativa voluntária que nos últimos anos realizou mais de 30 ações em diferentes lugares, impactando mais de 50 famílias. Trilhas, rapel, passeio de jipe, canoagem e passeio de triciclo foram algumas das aventuras já realizadas.

No último dia 13 (um sábado), inclusive, o Bem Paraná teve a oportunidade de não só acompanhar de perto, mas de participar mesmo de uma ação do grupo. Na ocasião, os voluntários levaram o Antônio (Tom) e o Gustavo (Gus), para o Cânion da Faxina. Lá, os dois jovens puderam aproveitar a paisagem montanhosa e ainda tomar um banho de rio, na parte de cima de uma grande cachoeira. Gus, aliás, é uma espécie de mascotinho do I&A, com participação em diversas iniciativas do grupo. Em São Luiz do Purunã, ele foi convidado para participar ao lado de Tom para estrear a nova cadeira Julietti, doada recentemente ao projeto.

“Faço várias aventuras, mas nunca me esqueço da primeira aventura que tive. É uma coisa que não consigo explicar até hoje, a felicidade que eu estava. Eu olhava e falava ‘consegui, consegui subir a montanha’. Eu até brinco com ele [Roque], digo que quero fazer o Pico Paraná. Esse é meu maior sonho, subir a maior montanha daqui”, conta o jovem aventureiro, explicando ainda a sensação de estar em contato com a natureza e agradecendo àqueles que se dedicam para tornar seu sonho algo possível.

“É maravilhoso estar aqui. Eu fico muito feliz, é uma sensação incrível, eu me sinto reconectado. Você pensa mais em como está sendo a sua vida, como vão ser os próximos anos… É sempre bom ter essa conexão com a natureza. E ver todas essas pessoas, acompanhando, ajudando… Esses voluntários aí, eu não consigo explicar. Eles dão o coração, eles dão a vida, dão tudo pra gente ficar feliz. Eles dão tudo pra gente, então eu queria deixar meu muito obrigado a cada um que está aqui”, declarou o garoto.

Ações mensais, fila de espera e o começo de tudo

As ações do I&A acontecem, via de regra, mensalmente. em alguns eventos, como passeio de Jeep, remata e rapel, mais famílias são atendidas. E a partir de agora, nas ações em trilhas com a cadeira Julietti, dois PCDs poderão ser atendidos por vez, o que deve ajudar a desafogar a demanda represada.

“Hoje estreamos a segunda cadeira, que foi uma doação. Veio num bom momento. Temos uma fila de 30 PCDs para participar do projeto e, com uma só cadeira e um evento por mês, levaríamos dois anos, dois anos e meio para fazer um evento com todos, e isso se ninguém mais entrasse na fila, que só tem aumentado. Agora, com duas cadeiras, acredito que conseguimos atender uma demanda um pouquinho maior, levando dois PCDs em cada evento. E também adquirimos uma cadeira de corrida, então vamos entrar para o ramo das corridas de rua”, relata Robson Lopes Roque, idealizador do Inclusão & Aventura.

A ideia de criar o projeto, conta ele, veio da vontade de proporcionar a cada vez mais pessoas o privilégio de estar na montanha, imerso na natureza. “Todo montanhista ajuda um ao outro. É um dos valores maiores que a gente vê entre os montanhistas. Eles dividem água, levam uma mochila… E isso [uma trilha] é uma coisa que eles [PCDs] nunca imaginaram que poderiam fazer. Aí alguém vai lá e fala para eles que podem fazer… É como você entrar na fila de espera para ter um coração novo, é algo que dá um sopro de vida, uma esperança nova. E as crianças, principalmente, tem que se divertir, tem que brincar”, destaca ele.

Como funciona o projeto

As ações do I&A acontecem mensalmente. As atualizações são feitas via redes sociais, principalmente o Instagram (@inclusaoeaventura) e o WhatsApp. Para participar, seja como voluntário ou como um novo aventureiro, o primeiro passo é entrar em contato via Direct do Insta. No caso das pessoas com deficiência, faz-se uma avaliação para saber o que ela deseja fazer, qual seu condicionamento e também necessidades específicas. Já os voluntários também devem mandar mensagem para receber orientações sobre como funciona o projeto e depois participar de um grupo de WhatsApp.

Durante uma ação, é possível ajudar de maneiras diversas. Uma delas, naturalmente, é ajudando a carregar as cadeiras Julietti, que levam as crianças com deficiência até o topo da montanha ou para perto de uma cachoeira. Outra forma é ajudar carregando mochila, água ou comida. Mas o importante mesmo, destaque Roque, é querer ajudar.

“Ser um voluntário é você estar com o coração aberto pra ajudar o próximo. É algo que começa pelo coração da pessoa. E daí, claro, necessita um certo condicionamento físico para fazer uma trilha, subir uma montanha. Isso daí é item de segurança. Eu sempre falo para a galera a questão da bota, também. Bato muito nessa tecla porque a gente sabe do terreno, pode escorregar e tudo mais. Mas acho que o primeiro de tudo é querer. E você querendo, você vem perguntar, né? Se a pessoa se interessou, quer saber como que é, vem e pergunta. Com certeza ela vai encontrar as respostas dela e ela vai encontrar o espaço dela dentro do grupo, que é um grupo grande, uma família grande”, afirma.