São mais de 180 mil quilômetros de trilhas e caminhos na França, levando até Santiago de Compostela, na Espanha. Incluindo a basílica de Saint Michel em Bordeaux, a igreja de Saint Jacques em Compiegne, a catedral Saint Etienne de Bourges, a ponte Valentré em Cahors, o hospital Saint Jacques em Figeac, a abadia de Saint Gilles du Gard, todos monumentos inscritos como jóias da arquitetura e Patrimônio Mundial da Humanidade, em dezembro de 1998, na reunião de Quioto, Japão.

No total, foram  69 monumentos de 13 regiões francesas a integrarem a lista das maravilhas do mundo. Dispersadas aos quatro cantos da França, célebres ou desconhecidas, todas estão ligadas por caminhos que foram percorridos na Idade Média pelos peregrinos de toda a Europa, atraídos pelo túmulo de Santiago de Compostela, movidos pela fé.

São quatro as rotas principais, cujos nomes evocam um passado longíquo: há a via Tolosana, que parte de Arles e passa por Saint Gilles du Gard, Montpellier, Saint Guilhem le désert, Toulouse, Auch, Pau e  Somport. Era o caminho escolhido pelos italianos, que atraversavam os Alpes. A via Podiensis, que parte de Puy em Velay para Conques, Cahors e Saint Jean Pied de Port; a via Lemovicensis, que sai de Vézelay para Saint Leonard de Noblat,  Périguex, Bazas e Saint Sever e, por último, a via Turonensis, que parte de Paris e atravessa Tours, Poitiers, Bordeaux, Das. A última via recebia os peregrinos vindos da Europa do Norte atravessando Nord, Picardie, Ardennes e Champagne.

PELOS CAMINHOS ESQUECIDOS
Esquecidos durante séculos, os caminhos de Santiago e suas múltiplas ramificações, recebem agora, novamente, peregrinos do mundo todo. Seguindo a fé que move montanhas ou simplesmente acompanhando as ondas da moda, para experimentar os prazeres de uma aventura única, homens, mulheres e jovens sobem e descem ladeiras, escorregam em pedras, chegam exaustos ‘as pousadas espalhadas pelos caminhos. Uns fazem uma peregrinação verdadeira, outros escolhem trechos da rota, para caminhadas mais leves, mas todos  aproveitam das rotas turísticas, que também podem ser percorridas  de carro ou bicicleta.
Cada trecho é fonte de surpresas, de novos domínios sobre si mesmos, da descoberta do seu interior na solidão,  mas também de encontros inesperados, do conhecimento de profissões rurais, costumes regionais, paisagens variadas e de um patrimônio cultural e arquitetural fora do comum.

No ritmo de uma caminhada, ao sabor de pequenos caminhos, a França oferece alguns de seus melhores panoramas. Sempre há quem procure multiplicar confortos e atrações ao longo do caminho, dando vida nova ‘as estradas. Pousadas e casas de família abrem portas para acolher os peregrinos de passagem. Em Charente Maritime, 140 quilômetros de rota foram preparados para  seguir a trilha dos antigos peregrinos. A antiga via de Puy foi balizada com as cores GR 65 ( GR – Grand Randonnée, em branco e vermelho, GR de Pays, itinerários de pequenas rotas, em amarelo e vermelho).

ARQUITETURA ÚNICA
No final do século XI e no século XII, nas rotas existentes foram surgindo dezenas de igrejas, abadias, monastérios, testemunhando a beleza da arte romana. Há mais de 800 construções de todos os tipos, ligadas ‘a peregrinação de Santiago na França. Entre as mais famosas, a basílica de Sainte Marie Madeleine, com pedras de duas cores e uma nave de 62 metros de comprimento, que domina o alto da colina de Vézelay. Na Borgonha a terra se nutre de história: era na colina que São Bernardo fazia pregações durante a segunda cruzada; o rei da França Philippe Auguste e o rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão, se encontraram na região em 1190, antes de partir para a terceira cruzada. Assim como Vézelay, Le Puy em Velay é uma cidade santa da Idade Média. A velha catedral, acima da cidade, do alto de suas escadarias, é atração. A arquitetura é única, com influências mouriscas e orientais, marcando ainda mais a aura de mistério do lugar  e da capela Saint Michel, construída no século X sobre uma chaminé de vulcão de 83 metros de altura, já desgastada pela erosão, e a estátua da Virgem, pesando 835 toneladas, esculpida com material de 213 canhões de guerra, pilhados ao enemigo, durante a batalha de Sebastopol!. Se Saint Martin de Tours foi destruída durante a revolução francesa, a basílica de Saint Sernin de Toulouse conserva até hoje seus duzentos e sessenta capitéis romanas com decoração vegetal.

No Midi-Pyrénées as esculturas ricas em detalhes nas igrejas preenchem os caminho de Santiago de beleza. Em Moissac, 24 estátuas de velhos com barbas iguais e roupas idênticas são cristalizados em atitudes diferentes. Percorrendo as rotas carregadas de história, o peregrinos descobre ao mesmo tempo as vilas e cidades mais belas da França.

Com Conques, no meio das montanhas de Rouergue e a abacial romana decorada com vigtrais de Pierre Soulages, suas  velhas casas nas ruelas estreitas, com madeirame aparente; como Lauzerte, acima dos vales de Barguelonne  e do Lendou, cidade medieval que abriga também fachadas romanas, vestígios de muralhas e um antigo convento; e Saint Bertrand de Comminges, aos pés dos Pirineus, com sua grande catedral e seu claustro romano. No vale de Gellone, a abadia de Saint Guilhem le désert, encaixada em um estojo selvagem de pedras, fica junto da cidade que acompanha as curvas do rio e da terra. Aos pés dos montes de Aubrac, no Lot, Estaing é cidade de pouco mais de 600 habitantes, que guardam um patrimônio arquitetural de fazer inveja ‘as cidades mais importes. Ao longo dos séculos, a pequena cidade medieval foi sendo enriquecidade com um castelo de torre quadrada, uma ponte gótica, uma igreja do século XV, construída sobre vestígios de uma edificação religiosa romana, e casas do Renascença. Nos caminhos de Santiago, a menor das vilas sempre terá um tesouro em pedras, que bem merece uma parada. Poucos são os que conhecem Pons e seu hospital datado de 1160-1170, destinado originalmente a acolher aos peregrinos; também é quase desconhecida a igreja Saint Pierre d’Aulnay, obra prima de arte romana, perdida nos confins de antigas províncias de Poitou e de Saintonge  e poucos viram a torre inclinada de La Clauze, a decoração com animais de Villeret d’Arpchier, a igreja em pedra rosada de Perse, as três igrejas romanas de Melle.
Nos 5 000 mil quilômetros de rotas de Santiago, não faltam bons motivos para viajar e se encantar.

E SE VOCE FOR

  • Se decidir partir sozinho, avise seus parentes e amigos, o proprietário da pousada escolhida, o hoteleiro do caminho. Mesmo sem grande importância, um acidente pode acontecer e complicar sua vida.
  • A França  colocou numerosas cabines telefônicas e é muito bem aparelhada pelas redes de telefones celulares. Anote os números que possam ser úteis, como o de residência local, do Escritório de Turismo na região, da polícia.
  • Para ser utilizado somente em caso de urgência, use o 112, número de chamada européia de atendimento, que orienta automaticamente para os centros de socorro mais próximos.
  • Procure se informar, a cada dia, sobre os prognósticos da meteorologia, porque o clima muda muito rapidamente, principalmente nas montanhas
  • Escolha a rota, estude o terreno e o caminho antes de partir e não superestime sua capacidade física. Não pense que pode agüentar mais do que seu corpo permite. São numerosos os guias para os diferentes tipos de trajeto , indispensáveis para esclarecer sobre a rota escolhida e também para encontrar com facilidade as atrações locais.
  • Cuide na escolha de seus equipamentos. Pouco peso, com roupas adaptadas ‘as variações de temperatura. Mas, principalmente, cuide dos pés, que tanto nas pequenas caminhadas como nas grandes rotas, estarão suportando seu corpo e fazendo a parte principal do trabalho.  Corte bem as unhas, envolva os pés com ataduras, use meias grossas, mesmo quando estiver com sandálias.
  • Leve apenas o necessário: chapéu ou boné, impermeável, agasalho sobre roupa leve, medicamentos básicos, comida. Máquina fotográfica e binóculos ajudam a ver e a rever.