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Cigarro eletrônico (Reprodução/Ministério da Saúde)

Coloridos, com cheiro doce e design atrativo, os cigarros eletrônicos conquistaram espaço como alternativa ao cigarro tradicional. No entanto, por trás da estética lúdica e dos sabores artificiais, o vape esconde substâncias capazes de causar doenças respiratórias graves.

Rafaella Carvalho da Silva, professora de Fisioterapia do CEUB e especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória, alerta para o crescimento no número de atendimentos a jovens com sintomas como tosse persistente, chiado no peito e cansaço ao menor esforço. Em alguns casos, as sequelas podem ser irreversíveis.

Mesmo os dispositivos sem nicotina oferecem risco: os componentes do vapor são agressivos, irritam e inflamam as vias aéreas, danificam células pulmonares e comprometem a respiração. O quadro é ainda mais preocupante entre adolescentes, cujo sistema respiratório ainda está em formação. “Muitos jovens já apresentam sintomas típicos de doenças pulmonares crônicas, algo que antes era comum apenas em adultos fumantes com anos de exposição”, observa Rafaella.

Embora o cigarro eletrônico pareça menos nocivo, também compromete a saúde pulmonar. “O vapor aquecido contém substâncias químicas, aromatizantes, micropartículas e até metais pesados que, ao entrarem em contato com os pulmões, geram inflamação e danos celulares permanentes”, explica a fisioterapeuta.

Segundo a docente, a presença de nicotina — quando existente — potencializa os riscos. Além de causar dependência, ela eleva a probabilidade de complicações cardiovasculares, como acidente vascular encefálico (AVE) e tromboembolismo pulmonar (TEP). Mas mesmo sem nicotina, os dispositivos permanecem perigosos. “A ausência da substância não elimina os danos. As lesões nas vias respiratórias podem ocorrer com ou sem ela”, enfatiza.

Entre os sinais de prejuízo à função pulmonar estão: tosse crônica, chiado, excesso de muco e falta de ar durante atividades leves. “Muitos jovens relatam que passaram a se sentir mais cansados, com dificuldade para subir escadas ou praticar esportes que antes faziam com facilidade”, relata a professora.

Embora não reverta completamente os danos estruturais, a fisioterapia respiratória atua na reabilitação da função pulmonar e no alívio dos sintomas. “Utilizamos exercícios para melhorar a oxigenação, reduzir a inflamação e fortalecer a musculatura respiratória. Também ajudamos no controle do estresse e da ansiedade durante o processo de abandono do vape”, detalha.

Em casos mais graves, como a bronquiolite obliterante — doença pulmonar rara, mas já associada ao uso de cigarros eletrônicos —, a fisioterapia complementa o tratamento médico, buscando melhorar a eficiência respiratória e minimizar o impacto das crises.

Prevenção começa com informação

A professora chama atenção para o número crescente de jovens que chegam ao consultório com sintomas respiratórios relacionados ao uso do vape. “Muitos começaram a usar achando que era inofensivo. O problema é que, por serem jovens, demoram a perceber os danos. Isso só agrava a situação e aumenta o risco de lesões permanentes.”

Para ela, o combate ao uso precoce precisa começar em casa e nas escolas. “É essencial desmistificar a ideia de que o cigarro eletrônico é seguro ou menos nocivo. Pais, professores e profissionais da saúde devem estar bem informados e atuar como multiplicadores, apresentando dados científicos de forma clara, acessível e próxima da realidade dos jovens”, finaliza.