Agência Brasil

Um estudo da Universidade de Jyväskylä, na Finlândia, indicou um fator pouco discutido: a predisposição genética ao sedentarismo. A pesquisa revela que essa tendência hereditária pode aumentar em até 20% o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares, incluindo a própria hipertensão arterial — uma das maiores causas de morte evitável no mundo.

Publicado no British Journal of Sports Medicine, o estudo utilizou dados genômicos de cerca de 330 mil finlandeses do projeto FinnGen. Liderados pela pós-doutora Laura Joensuu, os pesquisadores analisaram a relação entre fatores hereditários relacionados ao sedentarismo e a incidência de diversas doenças cardiovasculares, como hipertensão e infarto.

“O risco genético pode, muitas vezes, ser ainda mais relevante do que os fatores ambientais, como hábitos e alimentação. Mas é fundamental que as pessoas entendam que no geral: genética não é sentença. Ter uma predisposição não significa que o desfecho é inevitável. O acompanhamento com profissionais de saúde e a adoção de hábitos saudáveis podem modificar esse cenário e superar a influência genética”, enfatiza Ricardo Di Lazzaro, médico e doutor em genética pela USP, cofundador de Genera e responsável pela vertical de genômica pessoal de Dasa Genômica.

Indivíduos com maior propensão genética ao sedentarismo acumulam, em média, 30 minutos a mais de inatividade física por dia, aponta a pesquisa. Raffael Fraga, cardiologista e coordenador do check-up esportivo do Alta Diagnósticos alerta: “É essencial que as pessoas busquem se manter ativas, mesmo que sintam falta de energia.”

Tecnologia a favor do diagnóstico e da prevenção

Enquanto os estudos genéticos identificam riscos potenciais, a tecnologia médica avança para oferecer soluções mais precisas e acessíveis. Desde algoritmos de inteligência artificial capazes de detectar automaticamente doenças cardíacas em tomografias de tórax, até exames genéticos que identificam predisposição ao risco de desenvolvimento de problemas coronários. “A utilização da inteligência artificial no exame score de cálcio traz um avanço significativo na cardiologia preventiva. A capacidade de identificar automaticamente o acúmulo de cálcio nas artérias coronárias e na valva aórtica permite um diagnóstico precoce e mais preciso de doenças cardíacas, pois detecta sinais de alerta em pacientes que realizam tomografias por outros motivos, contribuindo para melhores desfechos clínicos e qualidade de vida dos pacientes”, afirma Dra. Fernanda Erthal, cardiologista da CDPI.

O Superintendente Médico de Inovação, Pesquisa e Educação da Dasa, Victor Gadelha, explica que as tomografias comuns para medir o score de cálcio requerem uma sincronização do aparelho com os batimentos cardíacos para gerar as imagens com nitidez. “Esse procedimento pode ser demorado e precisa de uma preparação do paciente para diminuir a frequência cardíaca. O laudo também costuma ser mais complexo. Já no exame com IA, essa identificação é feita automaticamente. A ferramenta permite identificar condições graves, como a estenose aórtica, com maior agilidade — um fator essencial para o tratamento precoce.”

Além das inovações em exames de imagem, os testes genéticos têm ganhado espaço como aliados na prevenção. Eles ajudam a mapear tendências genéticas para o sedentarismo, hipertensão e outras doenças cardiovasculares, permitindo que cada indivíduo tome decisões mais informadas sobre seus hábitos de saúde.

Um desafio global

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 17,9 milhões de pessoas morrem todos os anos por doenças cardiovasculares. No Brasil, essas condições lideram o ranking de mortalidade: entre janeiro e setembro de 2024, foram registradas 237.213 mortes2.

As pesquisas da Universidade de Jyväskylä, somadas aos avanços tecnológicos promovidos por instituições como a Dasa, reforçam a importância de entender a interação entre genética, comportamento e saúde do coração. A integração entre ciência, tecnologia e mudança de estilo de vida é mais do que necessária. Manter-se ativo e informado pode ser umas das chaves para uma vida mais longa e saudável.

  1. BRITISH JOURNAL OF SPORTS MEDICINE. Disponível em: https://bjsm.bmj.com/content/early/2025/03/26/bjsports-2024-109491. Acesso em: 22 abr. 2025.
  2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Doenças cardiovasculares (DCVs). Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cardiovascular-diseases-(cvds). Acesso em: 22 abr. 2025.