
As órteses, dispositivos utilizados para alinhar ou corrigir alterações causadas em membros, são parte fundamental de diversos tratamentos ortopédicos, como o do pé torto congênito — má-formação nos membros inferiores que atinge que atinge de uma a duas a cada mil crianças nascidas no Brasil, de acordo com grupo social, segundo o Ministério da Saúde. O preço das órteses para este caso, porém, pode ser um obstáculo para as famílias, especialmente as de baixa renda.
Foi pensando nisso que o professor Sérgio Fernando Lajarin, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), começou um projeto de fabricação de órteses por meio da manufatura aditiva — também conhecida como impressão 3D — e termoformagem, técnica de moldagem de materiais plásticos. O trabalho envolve um estudo interdisciplinar e busca inovar a área da Tecnologia Assistiva, propondo alternativas mais baratas.
O laboratório Engenhar-MEC, coordenado por Lajarin e formado por cerca de 30 estudantes de Engenharia Mecânica e Terapia Ocupacional, já produziu dezenas de órteses do modelo Denis-Browne para uso de bebês com pés tortos que fazem tratamentos em hospitais de Curitiba. A ideia veio a partir de uma experiência pessoal: a filha do professor Lajarin foi diagnosticada com pé torto congênito ao nascer. Após um tratamento inicial com gesso, era o momento de utilizar a órtese, para que o pé da filha pudesse ficar no lugar.
Como é feita a órtese de Denis-Browne em impressoras 3D
Atualmente, o laboratório Engenhar da UFPR tem infraestrutura para produzir dois modelos de tamanhos das órteses de Dennis-Browne que atendem crianças de no máximo um ano. Após essa idade, devido ao crescimento do bebê, o tratamento demanda dispositivos mais personalizados.
Os modelos são produzidos pelos alunos participantes do projeto de extensão, que aplicam os conceitos de manufatura aditiva aprendidos na sala de aula e no laboratório.
“A gente não faz a órtese impressa diretamente, usamos a impressão 3D para fabricar o molde. Esse molde fabricado dura muito tempo”, afirma o professor Sérgio Lajarin. “Se chegar uma demanda de cinco pares, a gente consegue fazer de sete a dez dias, porque depende muito dos horários vagos dos alunos”.
O molde da tala foi produzido por meio do sistema CAD 3D aplicando conceitos de engenharia mecânica e design. As medidas para referência dos modelos foram tiradas em uma criança de três meses, a serem adaptáveis para atender o máximo de crianças possível.
“Com a tala impressa, fazemos a termoformagem de uma chapa de poliestireno, que chamamos ‘PS’, e fica com o formato da bota. Aí vai para fazer o acabamento, como furação, o revestimento com o EVA. O pessoal aqui fabrica essas alças com velcro e couro. Usamos a impressão 3D só em algumas peças”, explica o docente.
O processo de fabricação está no artigo “Órtese de baixo custo para tratamento de crianças com pés tortos”, publicado pelos pesquisadores do Engenhar na Revista Foco. De acordo com Lajarin, cada órtese leva cerca de quatro horas para ser produzida, com o custo total aproximado de R$ 50 sem considerar gastos com mão de obra, já que a participação no projeto de extensão é voluntária.