
Nem sempre o isolamento social entre pessoas superdotadas Ă© sinal de timidez ou arrogĂ¢ncia. Uma nova pesquisa aponta que essa preferĂªncia pode estar relacionada a caracterĂsticas inatas do cĂ©rebro, ligadas Ă forma como essas pessoas pensam e interagem com o mundo.
Publicado recentemente pela Editora Atena, o estudo “A escolha por menos interaĂ§Ă£o social por superdotados: fatores relacionados Ă s necessidades inatas do cĂ©rebro”, assinado pelo PĂ³s PhD em neurociĂªncias Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pelo fĂsico e mestrando em psicologia Adriel Silva e pelo mestre em CiĂªncias EconĂ´micas Dr. AndrĂ© Di Francesco, analisa as bases neurocientĂficas e comportamentais por trĂ¡s do menor interesse social em indivĂduos com altas habilidades intelectuais.
Segundo os pesquisadores, a preferĂªncia por menos interações nĂ£o deve ser confundida com exclusĂ£o social. O estudo abre espaço para novas interpretações sobre o comportamento social de superdotados, afastando estigmas e trazendo uma visĂ£o mais cientĂfica sobre como suas capacidades cognitivas influenciam as relações sociais.
Comportamento dos superdotados aparecem na infĂ¢ncia
Segundo o estudo, esse padrĂ£o Ă© perceptĂvel desde a infĂ¢ncia. BebĂªs considerados precoces jĂ¡ demonstram menos interesse por estĂmulos sociais repetitivos e mais inclinaĂ§Ă£o para observações solitĂ¡rias. Essa tendĂªncia, com o tempo, transforma-se em uma forma de lidar com o mundo que prioriza introspecĂ§Ă£o, anĂ¡lise e profundidade.
“O superdotado tende a se frustrar com interações rasas e com a superficialidade de certas dinĂ¢micas sociais. Para ele, o diĂ¡logo sĂ³ se torna realmente interessante quando existe troca intelectual genuĂna”, explica Adriel.
Cérebro e genes
O estudo destaca que essa inclinaĂ§Ă£o Ă© influenciada por fatores neurobiolĂ³gicos e genĂ©ticos. Estruturas como a Default Mode Network (rede cerebral ativada durante momentos de introspecĂ§Ă£o) apresentam maior atividade em pessoas superdotadas. AlĂ©m disso, neurotransmissores como dopamina e glutamato, que regulam prazer, foco e aprendizado, atuam de forma distinta nesses indivĂduos.
Com base em anĂ¡lises feitas em grupos privados de alto QI, os autores observaram que essa preferĂªncia pelo distanciamento cresce com a idade, especialmente Ă medida que o superdotado percebe as limitações sociais em acompanhar seus raciocĂnios.
Quando o silĂªncio vale mais do que a conversa
A pesquisa ainda mostra que, para essas pessoas, estar entre outros nem sempre representa uma experiĂªncia de troca — muitas vezes, pode ser percebido como um custo emocional e cognitivo.
“A socializaĂ§Ă£o Ă© naturalmente dispendiosa. E, quando ela nĂ£o entrega estĂmulos significativos, passa a ser vista como um esforço inĂºtil”.
O estudo sugere que essa tendĂªncia nĂ£o deve ser corrigida, mas compreendida e respeitada, inclusive no contexto educacional. Ao entender essas particularidades, Ă© possĂvel criar ambientes mais inclusivos e ajustados Ă s necessidades de pessoas com alta capacidade intelectual.