Presentes de Natal
Presentear (Crédito: Silvio Rauth Filho)

Pode parecer estranho, mas presentear demais pode esconder algo mais que simplesmente gentileza.

O ato de dar presentes, socialmente compreendido como um gesto de afeto ou generosidade, pode, na verdade, esconder padrões de personalidade desadaptativos, conforme revela o neurocientista e pós-PhD Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues.

O especialista detalha como certos comportamentos aparentemente positivos podem mascarar transtornos do grupo B da personalidade, como o narcisismo e o histrionismo.

Segundo Dr. Fabiano, o impulso de presentear de maneira exagerada ou fora de contexto pode estar mais relacionado à busca por validação do que ao altruísmo. “No Transtorno de Personalidade Narcisista, por exemplo, o presente é uma ferramenta simbólica de controle. Ele visa reforçar o ego doador, garantindo retorno emocional ou fidelidade relacional”, explica.

A mesma lógica se aplica ao Transtorno de Personalidade Histriônica, que se caracteriza pela busca incessante por atenção e teatralização das emoções. “Nestes casos, o presente não é para o outro, mas para o próprio impacto que ele causa”, diz o neurocientista, membro da Society for Neuroscience dos Estados Unidos e da Royal Society of Biology do Reino Unido.

A análise feita por Dr. Fabiano se apoia tanto em critérios diagnósticos do DSM-5 quanto em evidências neurobiológicas, como as alterações de conectividade entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico observadas em indivíduos com esses transtornos. “É uma questão de arquitetura cerebral: quem depende do olhar do outro para validar sua existência tende a teatralizar gestos que deveriam ser espontâneos”, completa.

Valor imaterial ao presentear

Em contraste, pessoas com menor necessidade de aprovação social e maior introspecção tendem a oferecer contribuições simbólicas, como ideias, conselhos ou disponibilidade emocional, em vez de presentes materiais. Para o pesquisador, isso pode refletir um sistema psíquico mais equilibrado, no qual o valor das relações não depende da teatralidade, mas da construção mútua.

“É preciso observar a motivação por trás do ato. Quando o presente não está a serviço da empatia, mas da manipulação ou da exibição, é preciso olhar além da embalagem”, conclui.

Um alerta para relações tóxicas

A fala do neurocientista também serve como alerta em tempos de hiperexposição e consumo emocional: “Nem todo gesto de afeto é genuíno. Há presentes que compram silêncio, fidelidade ou submissão. E isso precisa ser discutido”.

Sobre o especialista:

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues é pós-PhD em Neurociências, mestre em Psicologia, membro de sociedades científicas internacionais e um dos principais pesquisadores brasileiros em inteligência, genômica e comportamento. Atua no Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH) e é autor do modelo DWRI de inteligência expandida.