sindrome do impostor
Síndrome do Impostor (Freepik)

Marcada pela sensação de inadequação e pela crença de que o sucesso não é merecido, a Síndrome do Impostor atinge milhares de profissionais. Especialistas alertam que, além de afetar a vida profissional, a condição pode estar associada a riscos emocionais graves.

Em um mundo permeado por pressão e expectativas, a Síndrome do Impostor surge como uma sombra enfrentada silenciosamente por muitos. Marcada pela sensação de inadequação e pela crença de que o próprio êxito resulta apenas de sorte ou engano, essa condição psicológica desafia a autoconfiança de diversos profissionais.

Embora não esteja oficialmente catalogada no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), apresenta características relacionadas à autossabotagem em contextos médicos e de psicopatologia.

Na maioria dos casos, afeta indivíduos altamente qualificados que, apesar do bom desempenho, duvidam da própria competência. Mesmo reconhecidas por outras pessoas, essas pessoas acabam sabotando o próprio trabalho por medo de falhas ou insucessos. A insegurança impacta diretamente a motivação e a capacidade de influenciar positivamente a si mesmos e aos demais.

“Um engenheiro competente pode ser abalado por um pequeno erro, reforçando a crença de incapacidade. Isso é chamado de pensamento disfuncional, uma visão negativa de si próprio que leva à autossabotagem. Mesmo diante de um trabalho bem executado, o indivíduo passa a acreditar que não é capaz, prejudicando sua autoestima e percepção de desempenho”, explica o psicólogo e professor do curso de Psicologia da UNINASSAU Olinda, Cleyson Monteiro.

De acordo com o especialista, pessoas afetadas pela Síndrome do Impostor geralmente possuem alto nível de formação, qualidade e entrega. No entanto, impõem expectativas exageradas a si mesmas, tornando-se mais suscetíveis à frustração diante de pequenos deslizes. Quem convive com esse quadro costuma ser excessivamente exigente consigo mesmo.

A relação entre a síndrome e o sofrimento psíquico também aparece em dados preocupantes. O último Anuário de Estatísticas de Suicídio (2024) aponta que grande parte das tentativas ocorre entre profissionais em idade produtiva, com destaque para mulheres, mas também com significativa participação masculina.

“A Síndrome do Impostor pode afetar a psique de maneira tão intensa a ponto de gerar ansiedade, depressão e melancolia, fatores associados a tentativas de suicídio. O indivíduo passa a acreditar que não está tendo sucesso e perde a capacidade de reconhecer seu próprio potencial”, ressalta Cleyson.

O psicólogo reforça ainda a importância do uso da chamada inteligência afetiva como ferramenta de enfrentamento. “Essa habilidade consiste em conciliar a frustração causada pela Síndrome do Impostor com práticas que devolvam sentido à vida. Isso pode ocorrer por meio do convívio social, da proximidade com pessoas queridas, de atividades prazerosas e da compreensão de que ninguém é perfeito. Todo ser humano é falível, e aceitar essa condição ajuda a reduzir a autossabotagem”, explica.

Para lidar com esse quadro, recomenda-se valorizar a qualidade do trabalho, receber feedbacks construtivos e participar de ambientes colaborativos que celebrem conquistas coletivas. “Compartilhar vitórias, debater fracassos e aprender em grupo são práticas que fortalecem não apenas a saúde mental, mas também a convivência profissional”, completa.

A Síndrome do Impostor, embora não seja uma condição clínica formal, pode agravar sentimentos de ansiedade, baixa autoestima e até isolamento. Nesse sentido, iniciativas como a campanha Setembro Amarelo, voltada à prevenção do suicídio, reforçam a importância de ampliar o debate sobre saúde mental no ambiente de trabalho e na vida cotidiana.