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Operação a distância foi realizada com êxito entre Cascavel e Campo Largo. (Divulgação)

A primeira telecirurgia robótica da América Latina foi realizada no Paraná. O procedimento, com êxito, foi realizado entre os municípios de Cascavel e Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O sucesso representa um avanço e marca uma nova era na medicina brasileira que permitirá a realização de procedimentos complexos a distância.

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A operação, que conecta o console do robô no CEONC — Centro de Oncologia de Cascavel (CEONC) — ao animal de experimentação em Campo Largo, foi conduzida por equipes de dois especialistas: na cidade de Cascavel, o cirurgião Paolo Salvalaggio comandou o procedimento a partir do console, enquanto em Campo Largo, o cirurgião Leandro Totti Cavazzola realizava a gestão da cirurgia no robô MP1000, instalado na Scolla — Centro de Treinamento de Cirurgiões.

A operação demonstra a segurança da cirurgia remota em território nacional, abrindo caminho para uma democratização do acesso à alta complexidade cirúrgica. Marcelo Loureiro, operador e idealizador do projeto, destacou a importância do feito: “É a primeira vez no Brasil que realizamos uma telecirurgia entre dois pontos dentro do país. Isso é crucial porque testamos a tecnologia e a infraestrutura de conexão em nosso próprio território, diferente das experiências internacionais que envolvem conexões internacionais.”

O projeto conta com o apoio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), na figura do Secretário Aldo Bona, reforçando uma parceria institucional e colaborativa.

Desde sua primeira ocorrência em 2001, uma telecirurgia havia vivido um hiato de mais de 20 anos, tendo ressurgido com força a partir de 2023, impulsionada por avanços tecnológicos chineses capazes de viabilizar procedimentos dessa magnitude globalmente. 

Procedimentos a distância podem atender áreas remotas do Brasil

Durante as três horas de teste, a estabilidade do sinal — com um atraso de apenas 10 milissegundos, ou um centésimo de segundo — foi considerada um registro para procedimentos dessa complexidade. A experiência reforça que cirurgias de grande porte, de 3 a 5 horas, podem ser realizadas com segurança total. “Qualquer cirurgia compatível com tecnologia robótica pode ser adaptada para telecirurgia no Brasil, desde que haja infraestrutura adequada”, afirma Loureiro. 

Para moradores de regiões remotas, os benefícios se mostram ainda mais relevantes: profissionais altamente especializados poderão operar pacientes à distância, tornando acessível uma assistência de alta complexidade onde hoje ela é escassa. “Estamos falando em democratizar a excelência cirúrgica, diminuindo as distâncias entre médico e paciente”, reforçando o auxílio.

Como foi o procedimento?

O procedimento mobilizou uma infraestrutura tecnológica de ponta, composta por dois robôs — um no CEONC, equipado com console de comando, e outro na Scolla, com braços articulados — além de um módulo de telecirurgia para decodificação de sinais. A tecnologia de comunicações envolve fibra óptica, internet móvel 5G, 6G e satélite, garantindo uma transmissão estável. 

A escolha do robô MP1000, do fabricante Edge Medical, foi fundamental, seguindo protocolos rígidos de segurança. A instalação da infraestrutura de conexão, realizada pela equipe da Ligga, apresentou alta estabilidade ao longo de toda a operação.

Medidas de redundância foram adotadas, incluindo duas vias de transmissão de dados e três backups de energia — energia da especificação, uma usina fotovoltaica de alta capacidade e um gerador a diesel. Equipes técnicas do Brasil e da China, em Curitiba e Cascavel, supervisionaram todos os passos, garantindo o funcionamento perfeito do sistema. 

“Hoje, estabelecemos um padrão de qualidade que nos permite caminhar para avanços e cirurgias reais em humanos com segurança. É o sistema de saúde brasileiro dando passos decisivos na adoção de tecnologias de ponta, consolidando-se como um centro de referência em inovação, precisão e excelência na capacitação de profissionais em cirurgias minimamente invasivas”, comemora o cirurgião Marcelo Loureiro.

Próximos passos e avaliações do Comitê de Ética

Com a regulamentação da telecirurgia no Brasil, o sucesso do estudo piloto em animal abre caminho para procedimentos em pacientes humanos. Loureiro destaca que todas as variáveis estão controladas para essa transição, e que a prioridade continua sendo a segurança do paciente e a validação dos protocolos. 

O Comitê de Ética enfatiza que a experiência foi um estudo controlando em ambiente experimental, sem transmissão ao vivo por questões de segurança, buscando que os procedimentos futuros tenham máxima segurança e eficácia.