Nos últimos anos, a testosterona tem ganhado espaço entre o público feminino, sendo promovida como um “elixir moderno”. A promessa? Aumento da libido, corpo mais definido e até rejuvenescimento. Mas será que esses efeitos são realmente comprovados — e seguros?
Segundo a endocrinologista Dra. Jacy Alves, o hormônio de fato exerce funções importantes no organismo feminino, mas o uso sem indicação médica pode trazer sérios riscos.
“A testosterona tem papel fisiológico muito importante na mulher, mas o uso indiscriminado, sem acompanhamento, pode se transformar em uma verdadeira bomba-relógio para a saúde”, alerta a médica.
Qual o papel da testosterona na saúde da mulher?
Apesar de ser mais associada aos homens, a testosterona também está presente no corpo feminino — em níveis significativamente mais baixos — e tem funções ligadas, principalmente, ao desejo sexual, à manutenção de ossos e músculos, e à disposição.
“Seus níveis caem de forma discreta e contínua a partir da terceira década de vida, independentemente da menopausa”, explica a endocrinologista.
Quando o uso é recomendado?
Atualmente, a única indicação reconhecida pelas diretrizes médicas para o uso de testosterona em mulheres é no tratamento do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH) em mulheres na pós-menopausa — e apenas após um diagnóstico criterioso.
“Antes de considerar a testosterona, é preciso investigar outras causas comuns da baixa libido, como transtornos emocionais, alterações hormonais, uso de medicamentos e questões de relacionamento”, ressalta a médica.
Além disso, a dosagem de testosterona no sangue não é indicada como rotina para mulheres saudáveis com queixas de libido. Ela só é recomendada quando se suspeita de excesso do hormônio, como em casos de síndrome dos ovários policísticos ou tumores hormonais.
“Não há evidências científicas que justifiquem o uso de testosterona para emagrecimento, aumento de massa muscular ou rejuvenescimento”, reforça Dra. Jacy Alves.
Nem toda queda de libido é hormonal
Sentir falta de desejo sexual não significa necessariamente que há falta de testosterona. Outras causas bastante comuns devem ser investigadas, como:
- Baixos níveis de estrogênio (comuns na menopausa);
- Transtornos emocionais, como ansiedade ou depressão;
- Efeitos colaterais de medicamentos;
- Sobrepeso ou obesidade;
- Conflitos no relacionamento afetivo ou sexual.
Os riscos do uso indiscriminado de testosterona:
- Crescimento de pelos no rosto e corpo;
- Acne intensa;
- Queda de cabelo;
- Alterações nos níveis de colesterol e aumento do risco cardiovascular;
- Danos ao fígado;
- Engrossamento da voz (geralmente irreversível);
- Possível dependência física e emocional.
O que diz a ciência?
O tratamento hormonal mais indicado para mulheres na menopausa segue baseado principalmente no uso de estrogênio, associado à progesterona em mulheres com útero. No Brasil, não há formulações de testosterona aprovadas exclusivamente para mulheres, o que faz com que muitas recorram a versões voltadas ao público masculino — prática contraindicada.
“A saúde sexual da mulher é complexa e não se resolve com soluções simplistas. O que parece uma ‘fórmula mágica’ pode ter um custo alto para a saúde”, conclui a Dra. Jacy.
Sobre a Dra. Jacy Alves
Médica formada pela UFSC, especialista em Endocrinologia pela SBEM e mestre pela UFPR com foco em diabetes, Dra. Jacy Maria Alves atua como endocrinologista desde 2014. É certificada em Medicina do Estilo de Vida e Obesity Medicine pela Harvard, professora da MevBrasil, e já trabalhou como pesquisadora na Clínica Quanta. Autora do livro Revolução Alimentar (2024), atualmente realiza pós-graduação em Neurociências pela PUC-RS e cursa Cuisine Santé. É membro de diversas sociedades médicas e já recebeu prêmios acadêmicos nacionais.