Três em cada quatro pessoas com glaucoma na América Latina não sabem que têm a doença. O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo e surge quando o nervo óptico sofre danos, geralmente pela pressão elevada dentro do olho. Essa lesão provoca perda lenta da visão periférica até estágios avançados, quando o comprometimento já é irreversível.
Por não apresentar sintomas evidentes no início, é conhecido como o “ladrão silencioso da visão”, dificultando o diagnóstico precoce. No Brasil, estima-se que mais de 1 milhão de pessoas convivam com a doença e que 2% da população acima dos 40 anos esteja em risco, mas a maioria desconhece o problema.
A ampliação do rastreamento populacional é hoje um dos principais desafios da saúde pública, e a Inteligência Artificial tem papel fundamental nessa mudança. O RetinaLyze, software de triagem que analisa imagens da retina e do nervo óptico, permite que exames simples e acessíveis identifiquem precocemente sinais de glaucoma e outras doenças oculares, como diabetes e degeneração macular.
O sistema utiliza algoritmos treinados em milhões de casos para comparar cada imagem capturada com um banco de dados extenso, conseguindo diferenciar olhos normais de olhos doentes, inclusive em fases iniciais. No glaucoma, a tecnologia mede pixel a pixel a quantidade de hemoglobina nos vasos do nervo óptico e consegue mapear áreas de baixo fluxo sanguíneo, características da doença, com alta precisão.
O exame de retinográfia pode ser feito por técnicos em oftalmologia, tanto em aparelhos portáteis como os mais sofisticados. É feito o download das imagens no software e o processamento demora poucos segundos para ter a análise concluída.
O impacto na saúde pública pode ser decisivo. O exame, além de confiável, é barato, portátil e de fácil execução, o que permite a aplicação em clínicas populares, postos de saúde e programas de telemedicina. Em regiões com carência de oftalmologistas, a ferramenta amplia o acesso, evita que casos passem despercebidos e reduz a sobrecarga do sistema, já que estudos apontam que a triagem com este exame permite diminuir em até 60% a carga de trabalho dos médicos. Essa economia de tempo e recursos permite que os especialistas concentrem seus esforços em pacientes com maior risco, aumentando a eficiência no atendimento.
Dados globais reforçam a urgência da adoção de estratégias preventivas. Em 2020, cerca de 76 milhões de pessoas tinham glaucoma no mundo, número que deve ultrapassar 110 milhões até 2040. Na América Latina, aproximadamente 75% dos casos permanecem sem diagnóstico, índice que preocupa diante do envelhecimento populacional e do crescimento das doenças crônicas. No Brasil, a falta de políticas públicas de rastreamento sistemático faz com que a maior parte dos diagnósticos aconteça apenas em estágios tardios, quando parte da visão já está perdida e o tratamento só consegue frear o avanço da doença.
A chegada de soluções como o RetinaLyze traz a oportunidade de mudar essa realidade, integrando tecnologia ao cuidado coletivo. Mais do que um recurso para especialistas, trata-se de um instrumento de saúde pública, que pode ser implementado em larga escala, com baixo custo e grande impacto social. Ao permitir que milhões de brasileiros tenham acesso a exames preventivos, a Inteligência Artificial pode reduzir drasticamente os casos de cegueira irreversível e melhorar a qualidade de vida da população.