No próximo voo, quando bater a sensação de ansiedade em forma de frio na barriga, falta de ar ou suor gelado, a melhor coisa a fazer é olhar ao redor. Por detrás das aparências tranquilas ou indiferentes, sempre se encontraquem tem muito medo, mas tenta disfarçar a própria angústia.

Segundo estatísticas, dois em cada cinco passageiros do transporte aéreo no Brasil têm medo de avião. É um indicador antigo, do Ibope, resultado de uma pesquisa feita em 2003 — o instituto de pesquisas não voltou ao assunto desde então —, mas que é aceito entre os estudiosos do problema, como a psicóloga e ex-comissária de bordo Rosana D’Orio Bohrer.
Rosana saiu dos corredores das aeronaves para atuar no treinamento de equipes de comissários e, hoje, também trata viajantes vitimados pela chamada aerofobia, o medo de voar. Pelo seu divã, conta, já passaram mais de mil casos desde 1998.
Segundo a psicóloga, aviões são ambientes férteis para potencializar emoções extremas. Dentro de uma aeronave, todo mundo está com o ânimo e as percepções alteradas, afirma. Seja pela empolgação de conhecer ou retornar a algum lugar, a tristeza de uma viagem emergencial por problemas familiares, o alívio da volta para casa, a expectativa de um reunião ou evento de trabalho. Dificilmente um passageiro está em seu pleno equilíbrio.

Pessoas controladoras e centralizadoras têm bastante tendência a ter medo de avião porque sabem que, durante o voo, estarão totalmente nas mãos de outros, sem nada a fazer a não ser confiar. Não ter as rédeas da situação pode ser assustador. Mães são alvo fácil do medo, especialmente as de crianças pequenas viajando sem os filhos, que costumam ser tomadas pela sensação de que não podem faltar.
Em casos extremos, em que a pessoa se sente impossibilitada de viajar de avião, a psicóloga recomenda procurar tratamento especializado. Segundo Rosana, o índice de sucesso, ou seja, de viajantes que voltam a voar ou conseguem se sentir melhor a bordo, chega a 88%.