Pregador batista de aparência ingênua, com 33 anos, vivendo em uma pequena cidade do interior da Inglaterra, acabou se transformando em criador e verdadeiro gênio da indústria turística. Nascido de uma família pobre em 1808, acabou enveredando pelo trabalho missionário batista em Loughborough, depois de abandonar a escola e tentar vários outros empregos. O vilarejo perdido a 20 quilômetros de Leicester tinha um grupo pequeno na igreja, já que o pub era mais frequentado e reunia mais gente do que o culto e a pregação religiosa.

Passeando uma noite pelos arredores do povoado e pensando em um jeito de reverter a situação, ampliando seu rebanho de fiéis, Cook viu um trem. Uma visão que mudaria para sempre sua vida e a vida de milhões de pessoas no mundo inteiro. Era o primeiro trem de sua existência, da vida de Leicester e da vidinha monótona de Loughborough. No dia seguinte ele estava convencendo o gerente da companhia a ceder-lhe a lotação de um trem inteiro para uma viagem exclusiva, a preço reduzido, entre Leicester e Loughborough. Com segundas intenções, Cook pretendia aproveitar o evento para ter uma grande plateia, atenta ao seu discurso contra o álcool.

Deu certo: mais de mil pessoas reunidas no ambiente fechado ouviram Cook falar sobre os perigos e maldições do álcool. Foi um grande dia para a Igreja Batista. O sucesso provocou a generosidade da igreja, que ofereceu a Cook não só um salário melhor como um futuro promissor como missionário. Só que aí o jovem empreendedor tinha outros planos. Ao invés de tentar ensinar aos homens os caminhos pedregosos rumo aos céus, abandonou a paróquia e abriu uma agência de viagens.

Era a primeira agência de viagens do mundo. Baseado no sucesso do passeio turístico de trem, o primeiro da História, passou a organizar excursões dentro da Inglaterra, cobrindo o país inteiro em suas principais atrações. Acompanhava os grupos pessoalmente, atendia aos passageiros para que nada faltasse em conforto e dava explicações sobre os lugares visitados. Tornou-se assim o primeiro guia turístico do planeta. Mais tarde, sua esposa Marianne passou a acompanha-lo, ajudando no atendimento aos excursionistas.

O aumento da clientela obrigou Cook a escrever e imprimir os detalhes geográficos, históricos e étnicos de cada região, falando também de culinária, usos e costumes de cada localidade visitada. Nascia então o primeiro guia turístico impresso. Da Inglaterra para o continente europeu, foi fácil explorar novos destinos. Aproveitando a abertura da exposição internacional de Paris em 1855, Cook organizou a primeira excursão turística internacional levando um grupo de ingleses para a capital francesa. Cook não falava nem bonjourem francês, mas o talento para lidar com as pessoas fez da viagem de cinco dias um grande sucesso.

Meses depois, em 1856, Cook conseguiu reunir 50 compatriotas para uma visita a França, Bélgica e Alemanha: era o início do Grand Tour da Europa. Outra viagem foi organizada para a Suíça, desta vez já com 64 turistas que se aventuraram a subir os Alpes e atravessar o Mer de Glace na fronteira francesa. Os intrépidos excursionistas viajaram caminhando, em dorso de burros ou em carruagens puxadas a cavalo. E o pior: vestidos com os trajes com que estavam acostumados a passear pela Trafalgar Square ou Hyde Park.


Se não fosse Cook, que deixou a religião para ser empreendedor, o mundo do Turismo como conhecemos hoje nem existiria

Por volta de 1866, mais de um milhão de turistas, de quase todos os países europeus, já tinham viajado com a agência de Cook para todos os cantos do continente. Quando foi decidido que o escritório central da agência seria em Londres e seu filho já fazia parte da sociedade, a famosa marca Thomas Cook & Son era conhecida no mundo todo.

No início, os passageiros pagavam sua alimentação e acomodação do próprio bolso. Mas os contatos estabelecidos em diferentes países, fizeram Cook iniciar um atendimento mais completo. Foi pioneiro, mais uma vez, no sistema de pacotes turísticos, incluindo transporte, alojamento e refeições em uma tarifa única. Cook organizou também caravanas com mais de 60 peregrinos para a Terra Santa, com os passageiros viajando em dorso de cavalos e dormindo em tendas no deserto – uma atmosfera de aventura que fascinava aos turistas.

Em 1872, com 64 anos mas ainda cheio de energia, Cook empreendeu seu mais ambicioso projeto: uma viagem de volta ao mundo. Eram três ingleses, uma inglesa, quatro americanos, um grego e um russo, visitando os Estados Unidos, Japão, China, Cingapura, Índia, Ceilão e países árabes. A viagem em torno do planeta durou oito meses e foi até inspiração para o livro de Jules Verne, ‘Volta ao Mundo em 80 dias’, publicado em 1873. Cook aproveitou o sucesso do livro para organizar novos longos roteiros de volta ao mundo, que eram anunciados em todos os principais jornais europeus, atraindo centenas de viajantes.

Cook morreu aos 84 anos, tendo transformado o turismo em uma das mais ricas indústrias modernas. E pensar que tudo começou porque os habitantes de um povoado anônimo, no interior da Inglaterra, preferiam frequentar o pub em lugar de ir ouvir o pastor falar das delícias do paraíso e das desgraças terrenas!