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Foto: Cido Marques

Uma caminhada de três quilômetros pelo Centro de Curitiba, entre o Paço Municipal e o Bondinho da Leitura, revela uma galeria de arte a céu aberto. Ao longo do Calçadão da Rua XV de Novembro, cinco murais monumentais homenageiam grandes nomes da cultura paranaense, transformando fachadas históricas em suportes para a arte urbana.

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As obras, assinadas pelos muralistas Fernando Ferlin (Gardpam) e Marciel Conrado, retratam figuras como Poty Lazzarotto, Paulo Leminski, Barão do Serro Azul, Helena Kolody e Luci Collin. Mais do que intervenções visuais, os murais celebram a memória local e antecipam o espírito do 3º Festival da Palavra, que acontece de 10 a 14 de setembro em 24 espaços culturais da cidade. A edição de 2025 tem curadoria da escritora e crítica literária Luci Collin e homenageia a poeta Helena Kolody.

Poesia impressa no concreto

As homenagens a Kolody e Collin ganham destaque não apenas pelo legado das escritoras, mas também pela proximidade geográfica dos murais. Ambos estão localizados nas imediações do Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques, criando um verdadeiro diálogo entre palavra e imagem.

O mural dedicado a Helena Kolody ocupa a fachada de um edifício de 17 andares e estampa seu rosto ao lado de um dos versos mais célebres da poeta: “Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem da estrela um sol. Outros nem conseguem vê-la.” A obra é assinada por Gardpam.

A poucos metros dali, a lateral do Palacete Tigre Royal abriga a pintura de Marciel Conrado em homenagem a Luci Collin, autora de mais de 20 livros e vencedora de diversos prêmios de literatura e tradução. A obra é inspirada no poema Encarnado e dialoga com a paisagem urbana e a trajetória intelectual da curitibana.

Durante uma visita ao Centro, a publicitária Camila Isadora Maier, 38 anos, e sua mãe, Lídia Maier, 63, fizeram uma pausa para admirar a obra. “Às vezes, a gente passa tão distraída pela cidade e não repara. Mas quando tem uma imagem assim, a gente para, olha e lembra do que é bonito”, disse Camila.

Leminski, Barão do Serro Azul e Poty Lazzarotto

Na esquina da Travessa da Lapa com a Rua XV, o poeta Paulo Leminski ganha destaque com um mural de mil metros quadrados na fachada do Edifício Marechal Deodoro. O painel evidencia o icônico bigode do autor e celebra sua influência na cultura curitibana e nacional. Leminski é, inclusive, o grande homenageado da Flip 2025, principal festa literária da América Latina, realizada até 3 de agosto em Paraty (RJ).

Outro destaque é o mural do Barão do Serro Azul, na lateral da Associação Comercial do Paraná. A obra em preto e branco, também assinada por Gardpam, homenageia Ildefonso Pereira Correia — símbolo de resistência na Revolução Federalista e figura essencial para a história econômica do estado. O painel se integra ao entorno histórico, próximo ao prédio da UFPR.

Completando o circuito, uma homenagem ao centenário de Poty Lazzarotto (celebrado em 2024) pode ser vista na travessa que leva à Praça Zacarias. A pintura retrata o artista caminhando pelo calçadão com um desenho sob o braço, tendo ao fundo o Bondinho da Literatura — ícone da cena cultural curitibana.

Legislação e valorização da arte urbana

Desde 2023, Curitiba conta com uma legislação que regulamenta intervenções visuais em fachadas, como grafite, muralismo, pintura, mosaico, lambe-lambe e colagem, desde que sem fins publicitários. A norma, gerida pela Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU), estabelece um processo simplificado para obtenção de alvarás, incentivando a arte urbana em diálogo com o patrimônio arquitetônico da cidade.

A iniciativa permite que a capital paranaense floresça como polo criativo, unindo memória, arte e espaço urbano em uma experiência que transforma o cotidiano dos pedestres em um percurso poético e visual.