As mudanças nas regras para emissão do visto americano estão movimentando agências especializadas em Curitiba. Taxas mais caras e obrigatoriedade de entrevistas para todos foram algumas das novidades estabelecidas durante o governo de Donald Trump nos Estados Unidos. Na tentativa de fugir das novas regras, os curitibanos correram para conseguir o documento o quanto antes.
No Brasil, o número de emissão de vistos caiu 25% nos primeiros cinco meses do ano, segundo levantamento de um escritório de advocacia imigratória com sede em Washington. No entanto, não é possível afirmar se a queda é pela falta de procura, ou pela taxa de rejeição dos vistos. Em Curitiba, por exemplo, o volume de solicitações aumentou.
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A diretora da Schultz Vistos, Cirlene Schultz, afirmou que do final de junho até agora o volume de solicitações cresceu de maneira expressiva, chegando a um aumento de até 40%. O primeiro impacto veio no dia 24 de junho, quando passou a ser exigido que os solicitantes enviassem o formulário DS-160 completo e imutável antes do pagamento das taxas e do agendamento.
“Antes conseguíamos pagar a taxa, reservar a data e depois ajustar os detalhes internos. Agora o processo ficou mais demorado, e cada etapa precisa ser concluída com antecedência”, explica Cirlene.
O que mais muda no visto americano?
Outra mudança importante entra em vigor já em 2 de setembro: todos os menores de 18 anos e maiores de 80 anos deverão comparecer presencialmente ao consulado, acompanhados de um dos pais, mesmo nos casos em que antes havia isenção da coleta de biometria.
Além disso, ainda sem data exata, o consulado deve implantar uma taxa adicional de US$ 250 por visto emitido, valor que será cobrado inclusive de crianças e idosos. Hoje, o custo médio de um visto, incluindo taxas e serviços, é de aproximadamente R$ 1.550. Com a cobrança extra, o valor pode ultrapassar R$ 2.500.
“Essa expectativa de aumento fez com que muitos brasileiros corressem para garantir o visto antes da mudança. Tivemos semanas de trabalho em ritmo dobrado, com clientes buscando agendar em qualquer unidade consular disponível no país”, relata a diretora.
Geralmente, quem está em Curitiba, prefere ir ao consulado em São Paulo, capital do estado vizinho do Paraná. Mas isso mudou nos últimos dois meses.
Preparo em meio à incerteza
Apesar da demanda elevada, Cirlene destaca que ainda há pontos nebulosos sobre como será feita a cobrança da nova taxa e se processos iniciados antes, mas concluídos após a mudança, também estarão sujeitos ao adicional.
“Nem sempre temos todas as respostas. O próprio consulado ainda não publicou instruções detalhadas. Estamos vivendo um momento de transição”, afirma.
Ela também observa que, embora o turismo de lazer deva perder fôlego com os custos mais altos, a procura segue firme entre quem realmente precisa do visto, como profissionais enviados por multinacionais, brasileiros com familiares nos EUA ou proprietários de imóveis no país.
“Quem chega até nós já vem decidido pelos Estados Unidos. Não recebemos clientes que desistem na hora, porque já procuram com um objetivo definido”, diz.
No turismo, outros destinos ganham espaço
Mesmo com os Estados Unidos no topo das demandas, outros países têm atraído o interesse de viajantes brasileiros. Segundo a Schultz, vistos para Austrália, Canadá, Índia e autorizações eletrônicas para outros destinos estão crescendo. A China, que voltou a abrir suas portas para turistas do Brasil, teve um salto de mais de 400% na procura pela CVC, uma das principais agências de viagens do país.
Ainda assim, o “status” de ter um visto americano válido permanece, já que ele permite facilidades em conexões internacionais e acesso a países como México e Canadá. “Ter o visto dos Estados Unidos ainda é um cartão de visita importante. Muitos solicitam mesmo sem viagem marcada, justamente para ter essa porta aberta pelos próximos dez anos”, explica Cirlene.