
O turismo literário tem ganhado força no Paraná. Impulsionado pelo centenário do escritor curitibano Dalton Trevisan, o cronograma de celebrações inclui inauguração de novas estruturas e atrativos na Pedreira Paulo Leminski e outras exaltações de ícones da literatura estadual pelo Brasil. Com isso, o Estado está no centro das atenções quando o assunto é literatura, história e turismo.
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O segmento, uma vertente do Turismo Cultural, é definido por viagens e roteiros baseados em produções literárias. Entre os exemplos estão visitas a destinos retratados em livros; viagens motivadas pelo interesse em conhecer mais da vida e do local que serviu de inspiração a um autor; bibliotecas, sebos, livrarias e locais que proporcionam contato mais próximo com o local; eventos de nicho; entre outros.
Turismo literário
“Quando se trata de turismo, é importante entender que o setor é amplo. Trabalhamos com alguns segmentos maiores, como cultural, gastronômico, religioso e outros, entendendo que a atividade é dinâmica, com ramificações e subdivisões”, disse Leonaldo Paranhos, secretário estadual do Turismo.
“É importante percebermos esses potenciais, mesmo nos recortes mais específicos, porque é dessa forma, também, que promovemos o Estado. Turistas gostam de variedade, tanto de serviços quanto de roteiros, abordagens e experiências, por isso o Paraná é um destino qualificado em mais este aspecto”, completou Irapuan Cortes, diretor-presidente do Viaje Paraná – órgão de promoção do turismo estadual.
Focada em turistas desse segmento, a empresa curitibana NomadRoots, fundada em 2013, trabalha com viagens personalizadas, entendendo gostos e descobrindo as histórias de seus clientes, além de reunir grupos mensais em um clube de leitura, o ClubeNomad, com 5 turmas presenciais em Curitiba e 1 turma virtual. Com base nas informações pessoais, a agência monta roteiros que conversam com o turista, em muitos dos casos, criando itinerários inspirados em livros.
“Nosso propósito é expandir a forma como as pessoas leem o mundo, por meio de roteiros e viagens inspiradas em obras literárias, ou até por cursos e abordagens durante o ClubeNomad. Em um dos mais recentes, realizamos o passeio da Curitiba Literária, inspirada em obras de Cristovão Tezza e Dalton Trevisan. Também já realizamos visitas guiadas no Memorial Árabe, no Museu Oscar Niemeyer, na Mesquita de Curitiba e por outros locais que mostram a importância do multiculturalismo do Paraná”, disse Paola Gulin, sócia da empresa.
Quais são os pontos de turismo literário no Paraná
Em Curitiba, outros exemplos práticos do segmento são: visitas a Biblioteca Pública do Paraná, sede de eventos nichados e com grande acervo de obras; a Casa Romário Martins, no Centro Histórico da Capital; entre outros.
É o que contextualiza Alessandra de Paula Xavier, turismóloga da Secretaria de Estado do Turismo (Setu-PR). “O Paraná tem vários autores e autoras renomados, que descrevem esses cenários e artifícios típicos da cultura e da vida dos paranaenses. Tudo isso serve como motivação para turistas visitarem o Estado, uma busca que tem aumentado. Assim como acontece com filmes, há um público que lê uma obra de Dalton Trevisan, por exemplo, e se interessa em visitar essa Curitiba meio mística, curiosa aos olhos de quem é de fora, retratada nas páginas”, explicou.
Ela ressalta que a vertente também se desenvolve em outras regiões. “Temos grandes nomes da literatura nacional aqui, como Helena Kolody, Domingos Pellegrini, entre outros, então é natural que haja fluxo desses turistas nos Campos Gerais, Litoral, Maringá, Londrina e afins. Por vezes, a busca do turista não está somente na obra, mas nos espaços em que aquele autor ou autora ocuparam, transformando os locais em centros culturais e turísticos”, disse.
O aspecto já é observado, inclusive, pelo poder público. Recentemente, a Prefeitura de Curitiba anunciou que vai criar um espaço cultural em homenagem ao escritor Dalton Trevisan – falecido em 2024 e que completaria 100 anos de vida em 2025. A iniciativa é fruto de uma parceria que será firmada com uma construtora, que adquiriu o terreno onde está localizada a residência em que o escritor viveu por quase 70 anos, no bairro Alto da XV.
Curitiba também ganhou a Rua da Música, com o Espaço Paulo Leminski, com conteúdo em parceria com o Instituto Leminski, e terá uma escultura em homenagem ao poeta curitibano Paulo Leminski dentro do Parque Jaime Lerner.
Turismo literário em expansão no Paraná
A Experiência Estórias e Flores, lançada pela empresa Broder, é um dos serviços que trabalha com o segmento no Paraná. Por meio de um roteiro com bicicletas elétricas e a charrete imperial, turistas fazem um passeio por pontos turísticos curitibanos, com base em um conto da escritora local Marinês Roedel.
O trajeto inicia no Memorial Árabe, com paradas no Bosque João Paulo II, Memorial Paranista, Orquidaria Rosita e Praça Nossa Senhora de Salette. Além dele, também há o passeio A Cor do Mate, que também passa por atrativos e serviços turísticos de Curitiba, com base em uma História em Quadrinhos (HQ) local, que busca valorizar a cultura da erva-mate na Capital.
Já o livro “Roteiro Literário Paulo Leminski”, do escritor Rodrigo Garcia Lopes, explora a vida e obra do poeta curitibano, destacando suas múltiplas faces e criando uma trajetória pessoal. O livro faz um convite, com um itinerário de locais que marcaram a vida de Leminski – ou foram marcados por ele –, entre bares, ateliês, bibliotecas e ruas, propondo que turistas e admiradores mergulhem na mente e nos costumes do poeta.
A autora Jussara Trentini também defende que visitações turísticas em cemitérios – por mais estranho que pareça – também fazem parte do segmento. Segundo ela, os locais são como um “livro a céu aberto”, contando histórias, retratando épocas e eternizando costumes. Ela cita a visita guiada que acontece desde 2011 no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, em Curitiba, que atrai tanto moradores quanto turistas de fora do Paraná.
“Em Curitiba o Cemitério Municipal realiza tours guiados com base na história, arquitetura e literatura. Um olhar além da dor e saudade daqueles que deixaram um ente querido dentro daquele espaço, entre muros que dividem dois mundos, pode-se ver que um cemitério é mesmo um livro contando a história através das marcas fragmentadas”, disse.