
Habilidades cognitivas, linguísticas e socioemocionais se manifestam em ritmos distintos, mesmo entre crianças da mesma idade, apontam estudos em psicologia. Por isso, identificar dificuldades de aprendizagem é uma questão complexa, uma vez que o desenvolvimento é altamente individual e sujeito a grande variabilidade.
Assim, o acompanhamento deve ser realizado por profissionais da escola e por pediatras, que podem observar padrões de desempenho e comportamento ao longo do tempo.
Os responsáveis também possuem um papel fundamental ao relatarem suas percepções fora da sala de aula. No entanto, qualquer avaliação definitiva deve ser realizada por especialistas capacitados, evitando rótulos precipitados que podem impactar negativamente a autoestima e o processo de aprendizagem da criança.
De acordo com a autora do material de Educação Infantil, psicopedagoga clínica, especializada em Alfabetização do Sistema Anglo de Ensino, Maria Célia Assumpção, é importante, de qualquer forma, que pais e professores estejam atentos a mudanças bruscas de comportamento, pois elas podem sinalizar as dificuldades da criança, indicando a necessidade de maior acolhimento e acompanhamento.
Segundo a especialista, embora o ensino de letras, sons e sílabas seja necessário, a ênfase exclusiva na memorização e na articulação mecânica desses elementos pode tornar a aprendizagem desmotivadora, afastando a criança da leitura e limitando a compreensão do sistema de escrita.
“O desafio é proporcionar experiências significativas com a linguagem escrita, em que professores e pais façam mediações adequadas, oferecendo suporte, incentivo e oportunidades de exploração lúdica e afetiva da leitura e da escrita. Para que a alfabetização seja, de fato, efetiva, a criança precisa compreender não apenas os mecanismos formais do sistema alfabético, mas também a função social da escrita”, destaca.
Além disso, a exploração lúdica das palavras permite que a criança compreenda princípios fundamentais da escrita, como o princípio da ordem em que cada letra ocupa um determinado lugar para formar as palavras. Maria Célia aponta que, conforme a criança interage de forma prazerosa com letras e sons, ela internaliza gradualmente a correspondência entre fonemas e grafemas, compreendendo como a escrita representa a linguagem oral.
“Essas experiências interativas e contextualizadas são essenciais para que a alfabetização seja efetiva, significativa e motivadora, construindo a aprendizagem de forma ativa e consciente, ajudando a criança a avançar no processo de alfabetização”, afirma.
Por isso, para ajudar os pais e professores, a especialista traz 5 dicas para auxiliar as crianças no desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita. Confira!
Ofereça contato com diferentes tipos de textos: o contato desde cedo com textos narrativos, informativos, poéticos e instrucionais ampliam o repertório de conhecimentos da criança;
Ensine estratégias de compreensão leitora: Mostre que é possível explorar o texto antes de ler ou ouvir a leitura, observando capa, título, imagens, legendas e marcadores;
Promova leituras compartilhadas em voz alta: essa é uma estratégia para fortalecer a relação entre oralidade e escrita e estimulando perguntas e reflexões sobre o conteúdo;
Incentive a criança a relatar oralmente: reproduzir o que entendeu desenvolve sua capacidade de interpretar e organizar ideias;
Ofereça experiências de escrita lúdicas: escrever textos como bilhetes, listas ou pequenos relatos, ajudando a familiarizar-se com o sistema de escrita de forma prazerosa e a construir autonomia e motivação. Segundo a especialista, é importante que essas estratégias sejam vivenciadas mesmo antes da leitura autônoma, com a mediação de adultos leitores que, ao ler em voz alta, oferecem suporte e significado às experiências iniciais com a escrita.
Por fim, Maria Célia aconselha que os professores e responsáveis priorizem sempre a leitura em voz alta para crianças pequenas. Essa prática é essencial, pois faz a mediação entre a escrita e a oralidade: por meio dela, a criança escuta os sons, o ritmo e o significado das palavras enquanto acompanha o texto escrito. É a única forma de possibilitar o acesso verdadeiro à linguagem escrita e de compreender o sistema de escrita de qualquer grupo linguístico. “Sem a leitura em voz alta, a criança não consegue internalizar a relação entre sons e letras, comprometendo o desenvolvimento da leitura e da escrita no futuro”, conclui.