De acordo com o dicionário, moda é o “uso passageiro que rege, de acordo com o gosto do momento, a maneira de viver, de vestir etc; fantasia, gosto, maneira ou modo segundo o qual cada um faz as coisas”. E beleza é “perfeição agradável à vista, e que cativa o espírito; característica do que ou de quem provoca admiração e/ou de identificação por seu conteúdo".

Apesar dos significados diferentes, moda e beleza são conceitos que, em geral, são interpretados equivocadamente como complementares. Muitos acreditam que, se algo foi criado por um estilista, faz parte de uma coleção famosa, foi protagonista nas passarelas ou caiu no gosto de famosos modelos, deve ser obrigatoriamente um artigo enquadrado no seu ideal de beleza. E não é bem assim.

No último ano, essa discussão veio à tona quando algumas marcas muito renomadas aderiram ao conceito ugly fashion em suas coleções, com peças que chamam a atenção por causarem algum desconforto visual e serem consideradas "feias". Uma que temos visto bastante é o ugly sneaker ou dad sneaker, que entrou nas passarelas de marcas como Louis Vuitton e Balenciaga e hoje estão disponíveis nas vitrines de várias lojas.

Para quem não se conforma com essa tendência, há várias reflexões e explicações para ela. Para o jornalista Marc Bain, do portal internacional de notícias Quartz, a beleza se tornou tão básica que o único lugar possível para o fashion é a feiura. A verdade, ainda de acordo com o jornalista, é que definir o que é feio é mais difícil do que definir o que é belo. Essa complexidade, que vive na compreensão subjetiva de cada um, mas que causa algum grau de desconforto em todos, é o que constrói o imaginário do feio na moda e concretiza sua manifestação como arte.

Já um artigo da Business Insider aponta dois motivos principais para a ascensão desse controverso fashion. O primeiro é a preferência por roupas e calçados confortáveis, motivo que garantiu sucesso e estabilidade para marcas como Crocs. O segundo mora na afirmativa It's finally cool to be uncool. Para toda tendência existe uma contra tendência de igual força e valor cultural. Em um mundo vaidoso, repleto de feeds de Instagram impecáveis e belezas inquestionáveis, tem atitude mais radical e desobediente do que representar o feio? O mais irônico a respeito disso é que eventualmente o protesto vira tendência, que em algum momento alcança o gosto geral e, por consequência, acaba perdendo o fator rebeldia e indisciplina no caminho!

Ainda que a origem do movimento seja genuína e que as primeiras aparições tenham gerado reações avessas, o movimento acaba perdendo seu propósito na mesma medida que passa a ser amplamente consumido. É uma conta simples: o lucro vem, mas não legitima.

No fim, algo não se pode negar: o ugly fashion é a prova de que a autoconfiança é o melhor look e que cada peça de roupa deve ser escolhida para favorecer quem a usa. Feio ou bonito, harmônico ou esquisito, o guarda-roupa tem a única e importante missão de contribuir na comunicação da nossa personalidade e de como queremos ser percebidos. Nenhuma mensagem, seja tendência ou contracultura pode dominar a nossa própria mensagem ou quem somos essencialmente.  A moda deve ser meio e nunca fim.