Inscrição para a principal prova do país custa R$ 197,50, o equivalente a 19,8% do salário mínimo;

Corrida de rua mais conhecida do Brasil, a São Silvestre abriu suas inscrições ao preço de R$ 197,50 – sim, você não leu errado. É o equivalente a 19,8% do salário mínimo atual, de R$ 998. Este valor será mantido até 22 de novembro (ou seja, pode aumentar ainda!). Mais do que criticar o preço – o que se tornou motivo de inúmeros memes e piadas nas redes sociais –, a ideia deste post é discutir o que significa este valor pensando no mercado de corridas de rua do país.

Não é incomum encontrar corredores que iniciaram neste universo com um propósito bem específico: finalizar a São Silvestre. Dali em diante, acabaram gostando e partiram para outros desafios: 5, 10, 21, 42, ultras. Nós fizemos a São Silvestre em 2013: particularmente, não é o tipo de prova que me atrai.

Os motivos? É mais festa do que corrida e há muita gente. Quando fizemos, levamos mais de 30 minutos para passar o pórtico, e os primeiros 5 quilômetros foram intransitáveis pela quantidade de pessoas nas vias. Particularmente, entendo valer fazer o investimento em outras grandes provas do que a SS – especialmente se você precisa viajar –, mas isso é algo muito pessoal.

Uma baliza de preços

O que não se pode negar é que, assim como a SS é a porta de entrada para muitos corredores, ela também baliza e indica os preços de provas Brasil afora. Via de regra, a SS lota todos os anos (cerca de 30 mil corredores) e deve ser assim mais uma vez, até em razão de sua mística.

Portanto, muitos organizadores continuam a subir os valores da prova, criando uma espiral complexa: quanto maior o valor da prova, mais o corredor espera do kit (qualidade da camiseta, itens distribuídos por patrocinadores, o que se entrega no pós-prova e etc). 

Dentro desta lógica, a tendência é que os valores continuem a subir, pois o organizador tem mais custos e novas demandas, e o consumidor (corredor) se torna ainda mais exigente – sentindo que tem mais razões para reclamar. Ou seja, em linhas gerais, torna-se uma relação que começa a fugir daquilo que parecia ser seu objetivo: a organização de uma prova com distância aferida, com hidratação e segurança.

O que esperar de uma prova?

Essa é uma questão complexa, porque cada pessoa pode ter uma resposta – e, além disso, existem diferentes perfis de corredores. Eu, particularmente, espero uma aferição correta da distância, segurança (especialmente em provas grandes, que trancam o trânsito de grandes cidades e irritam muitos motoristas malucos por aí), hidratação adequada e organização para a retirada do kit – se houver uma expo, melhor ainda.

Medalha é legal? Sim. Mas confesso que tenho muito mais recordações das provas do que da medalha em si. Camiseta é bacana? Sim. Mas estou disposto a pagar um valor menor por uma inscrição sem camiseta e sem medalha, por exemplo, desde que haja uma diferença de valor entre os pacotes oferecidos pelas organizações. Sei que há vários corredores com o meu perfil espalhados pelo Brasil, assim como aqueles que não abrem mão de um mega kit.

Chegamos em um ponto no qual as principais praças do Brasil contam com eventos semanais. Em Curitiba, quase todos os finais de semana temos uma prova para fazer – e o mesmo acontece em outras praças, como São Paulo e Rio de Janeiro, muitas vezes até com mais de uma prova no dia. E a questão é: até quando as provas serão viáveis com o aumento contínuo dos preços?

Em última análise, nós, corredores, teremos que fazer o filtro do que vale o investimento de tempo e dinheiro e daquelas que não merecem ser valorizadas, até mesmo para que o mercado amadureça.