Envelhecer é o grande temor dos nossos dias, apesar de inevitável. É também o tema de “O pêndulo”, espetáculo em cartaz no Portão Cultural de 12 de julho até 7 de agosto.

A diretora Sílvia Monteiro concedeu entrevista exclusiva ao blog A Vida É Palco sobre a obra:

1) Como vê o processo de envelhecimento na sociedade brasileira?

SÍLVIA: Em termos de trajetória de envelhecimento acesso dados do IBGE que apontam que a população brasileira será composta por cerca de 25,5% de pessoas com mais de 65 anos até 2060.  Eu tive o prazer de conviver com nonagenários na minha família, de ainda ter a companhia dos meus pais (ambos passaram dos oitenta) mas, envelhecer no Brasil significa enfrentar desafios, principalmente para as pessoas com baixo poder aquisitivo que não conseguem suprir suas necessidades básicas, pois o país não está preparado para essa nova realidade que está posta. É natural que com o aumento da idade aconteçam as mudanças físicas, psicológicas, neurológicas, fisiológicas e sociais que causam uma alteração no jeito de relacionar que o idoso tem com as outras pessoas, consigo mesmo e com o ambiente em que vive. Acredito que para construir uma relação respeitosa e amorosa com as pessoas de mais de 60 anos (eu tenho mais de 60 anos) é necessário que o Estado nos dê a importância devida que essas mesmas pessoas não sejam consideradas inúteis para o trabalho (ou para a diversão), que sejam respeitadas e que tenham garantidos a saúde, o bem-estar psicológico e social, independência, segurança e participação em diferentes setores e contextos. Os personagens de O PÊNDULO dizem, ao longo da peça: “Eu não morri. Eu ainda estou aí, no mundo. Eu sou agora. Eu ainda tenho tempo. Eu ainda estou no tempo.”

2) Como podemos estimular as pessoas a apreciar os mais velhos?

SÍLVIA: É difícil gostar do que não se vê. A peça fala especialmente disso, do tornar-se invisível, perder a voz, perder a relevância, perder o espaço. Para apreciar é preciso enxergar. Um primeiro passo, imagino, seria perceber que os velhos não são um problema. Os velhos são pessoas que têm problemas (mas quem não tem?) que precisam ser resolvidos urgentemente! A possibilidade da participação social em diferentes contextos, nos diferentes setores da vida, é um antídoto contra a invisibilidade. Visíveis, sendo visíveis os encontros são possíveis e os afetos serão possíveis;

3)Qual a relação do pêndulo e o tempo na peça?

SÍLVIA: Rubem Braga começou a dar voltas na minha cabeça “(…) Eu podia então falar sobre a velhice falando sobre o crepúsculo. (…) O crepúsculo é o dia chegando ao fim. O tempo se acelera: como se transformam rápidas as cores das nuvens, no seu mergulho na noite! E, paradoxalmente, o tempo fica imóvel, paralisado num momento eterno.”

O pêndulo do relógio oscila indiferente à vida. Com suas batidas vai dividindo o tempo em pedaços iguais: horas, minutos, segundos. A cada quarto de hora soa o mesmo carrilhão, indiferente à vida e à morte, ao riso e ao choro às quedas (a peça fala de tantos modos que caímos e que levantamos)

O tempo que nos interessa, em O PÊNDULO, é o tempo das batidas do coração. “O relógio somos nós”, diz nosso personagem. Suas batidas dançam ao ritmo da vida – e da morte. Por vezes tranquilo, de repente se agita, tocado pelo medo ou pelo amor. Dá saltos. Tropeça. Trina. Segue. Continua indo. Até que a gravidade vença.

SOBRE O ESPETÁCULO

O Pêndulo” estreia em Curitiba no Portão Cultural

Com direção de Silvia Monteiro e dramaturgia de Luiz Carlos Pazello, “O Pêndulo” faz temporada de 12 de julho a 07 de agosto no Portão Cultural- Auditório Antônio Carlos Kraide. Os atores Ranieri Gonzalez, Thadeu Peronne e Cicero Lira interpretam o mesmo personagem aos 20, aos 40 e aos 60 anos. As sessões ocorrerão de quarta a sábado às 20h e aos domingos às 18h. A estreia para o público em geral inicia em 15 de julho. As três sessões anteriores estão sendo destinadas para públicos dirigidos. A entrada é franca e os ingressos são limitados para 50 pessoas por apresentação. O acesso para reservar os ingressos será liberado uma semana antes de cada sessãona página do evento na Sympla. O Chekin (validação do ingresso) será feito de forma presencial no local do evento – impreterivelmente – até 45 minutos antes da sessão escolhida. Acesse: https://www.sympla.com.br/o-pendulo__1624360 .

O artista, o tempo e a invisibilidade 

O enredo de “O Pêndulo” aborda temas como o impacto do tempo e suas consequências, provoca reflexões relacionadas ao efeito da gravidade (principalmente quando envelhecemos) e mostra a trajetória de altos e baixos da vida do personagem/artista. Para o autor Luiz Carlos Pazello, sempre estamos em movimento e “quando o pêndulo para a gravidade vence”. Segundo Pazello, a dramaturgia destaca o tema da velhice, porém o foco não está no ato de envelhecer, mas toca num ponto delicado que permeia o contexto da peça: “Quando envelhecemos nos tornamos invisíveis”.

A diretora Silvia Monteiro diz que o resultado se traduz num espetáculo contemporâneo, delicado, com a potência da vida, dos momentos de quedas aos recomeços. Silvia comenta ainda que mesmo quando estamos parados “continuamos indo”. Silvia explica que o espetáculo deve atrair o público porque cada pessoa que for assistir, irá se identificar com o personagem apresentado em três momentos da vida. “As pessoas terão a oportunidade de vivenciar uma experiência única, com múltiplas sensações. O público irá se emocionar, provavelmente lembrar de momentos vividos ou daqueles que ainda possam vivenciar, mas também vai se divertir”. 

Para o diretor de produção e ator Cicero Lira, estrear “O Pêndulo” no Auditório Antônio Carlos Kraide-Portão Cultural é um marco importante na carreira artística. “Há 30 anos fizemos uma curta temporada no Kraide da peça Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza e com direção do saudoso Laercio Ruffa. O espaço é significativo e marca meu retorno aos palcos”, destaca. Lira também revela que o Kraide é um espaço que lançou grandes nomes do teatro paranaense e que o dramaturgo Luiz Carlos Pazello participou como ator da reestreia do Kraide, após a reforma em 2012.

Sessões com intérprete de Libras

Serão realizadas oito sessões com intérprete de Libras da peça “O Pêndulo”, democratizando ainda mais o acesso ao espetáculo. As datas para os interessados se programarem e reservarem os ingressos – antecipadamente – são as seguintes: 16, 17, 21, 22 e 23 de julho e 04, 05 e 07 de agosto. Ao acessar a área “Ingressos” da peça O Pêndulo na Sympla, haverá um botão “Intérprete de Libras” disponível para as referidas datas com exclusividade para esse público que contará com o apoio da tradutora e intérprete Talita Grünhagen. A produção do espetáculo esclarece que a cota é limitada e que o chekin para validar o ingresso deve ser feito de forma presencial até 45 minutos antes da sessão da data selecionada. Ao se dirigir ao local do espetáculo, haverá indicações de atendimento exclusivo para melhor conforto dos interessados.

Contrapartida Social

O Projeto cultural “O Pêndulo” oferece para a comunidade como Contrapartida Social, a Oficina “Meu tom, seu tom, nosso tom” – Em busca do envelhecimento ativo” ministrada pela musicoterapeuta Claudimara Zanchetta e pela terapeuta ocupacional Fabiana Alexandre da Silva. A Oficina será realizada em quatro encontros com duração de 1h15 cada um e circulará em Núcleos Regionais da Fundação Cultural de Curitiba.

Estão sendo ofertadas cerca de 40 vagas e a Oficina será realizada durante a temporada do espetáculo. A Oficina está sendo direcionada para professores da Rede Pública, cuidadores de idosos, familiares, profissionais da área de saúde e pessoas da terceira idade. O tema, desde 2002, faz parte das políticas afirmativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao propor ampliar o olhar da sociedade para a questão, considerando a qualidade de vida e autonomia do idoso, respeitando o contexto e a singularidade de cada um. A Oficina será realizada de forma prática, utilizando instrumentos musicais para a sensibilização dos participantes.

 

Ficha Técnica

Dramaturgia: Luiz Carlos Pazello

Direção: Silvia Monteiro

Elenco: Ranieri Gonzalez, Thadeu Peronne e Cicero Lira

Cenógrafo/Figurinista: Paulo Vinícius

Maquiador/Caracterizador: Marcelino de Miranda

Iluminador: Clever d’Freitas

Sonoplasta: Ilton Correia

Designer Gráfico: André Coelho

Criador imagens audiovisuais: Pablo Colbert

Assistente de direção: Débora Karan

Preparador Corporal: André Sarturi

Produção: Suzana Souto e Amanda Gomes

Diretor de Produção: Cicero Lira

Coordenador Projeto: Luiz Andrioli

Realização e Produção: CL Produções

Incentivo: Grupo Uninter e Grupo OpusMúltipla Comunicação&Marketing

Projeto realizado com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba. 

Serviço:

Peça: “O Pêndulo”

Local: Portão Cultural – Auditório Antônio Carlos Kraide

Endereço: Av. República Argentina, 3430 – Portão

Temporada: 12/07 a 07/08

Horário: 20h (quarta a sábado) e 18h (domingo).

Entrada Franca 

IMPORTANTE: As reservas devem ser feitas antecipadamente na página do espetáculo na SYMPLA. O chekin (validação do ingresso) ocorrerá de forma presencial 45 minutos antes do horário da sessão escolhida no local do evento. Os ingressos são limitados.

FIQUE ATENTO: A data de liberação para você reservar o seu ingresso gratuito ocorre uma semana antes da sessão pretendida.