Acervo pessoal

Publicado pela Quintal Edições, por meio de projeto aprovado na Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte (2020), o livro “O Mistério de Haver Olhos”, da escritora e jornalista curitibana Luciana Eastwood Romagnolli será lançado no dia 17/06 em live no canal do YouTube da casa editorial belo-horizontina. Durante o encontro virtual, haverá um bate-papo com a autora, exibição de videopoema dirigido pela cineasta mineira Clarrisa Campolina, o sorteio de exemplares e uma leitura de poemas realizada pela atriz baiana Laís Machado, que participou do FIT-BH 2018 com a peça-instalação “Quaseilhas” e do CineBH 2020 com o filme “Canção das Filhas das Águas”.

“O Mistério de Haver Olhos” pode ser entendido como um reencontro – quase um acerto de contas – de Luciana com a poesia. Foram poemas, principalmente os de Cecília Meireles e Fernando Pessoa, que estiveram entre suas leituras de cabeceira durante a adolescência, a impulsionaram à escrita e formaram sua sensibilidade estética numa cidade do interior paranaense (Umuarama), onde havia pouca oferta de atividades artísticas. No entanto, diante da perda do pai, assassinado em 2003, foi como se uma “[…] primeira/ muralha das/ muitas maiores/ que as chinesas” tivesse se erguido entre ela e a poesia.

Encontrados na seção “Essa coleção de objetos de não amor” (título que homenageia o poema “Quero”, de Carlos Drummond de Andrade), os versos acima, mais do que representar aquela angústia, também apontam para a própria jornada de desvelamento e refazimento que atravessa o livro. “São versos de uma vida inteira. Ciclos de vida, de nascimento e morte”, diz Luciana.

“O Mistério de Haver Olhos” se desdobra em seis diferentes seções, nomeadas com versos de Drummond, Pessoa e Cecília, além de Adélia Prado. “São frases que ficaram presentes na minha cabeça, me acompanhando, como se fossem passarinhos, ali, cutucando. De alguma forma, elas revelam o que estava pulsando no momento da escrita e ressoa em cada conjunto de poemas”, conta. No conjunto dos textos, Luciana identifica uma espécie de travessia “de um início mais mortificado para uma possibilidade de reaver a vida”.

Uma passagem pelo luto, especialmente a morte do pai, o que implicou no afastamento da poesia até sua reconexão com esta após o nascimento do filho. Outras questões como a posição da mulher na sociedade e a reflexão sobre a maternidade também estão projetadas no livro de forma que os temas se deslocam entre o público e o íntimo. Ao tratar desses aspectos, a escritora não buscou satisfazer discursos contemporâneos, e sim indagar de que modos o feminino ainda pode ser abordado, sem ficar restrito às identificações disponíveis.

“Estou interessada em abrir espaço para falar da dor, do luto, daquilo que não está cabendo nas discussões porque não está na moda nem engaja nas redes sociais. Há uma busca por outras facetas do feminino que para mim são importantes e eu já não estava encontrando espaço para elas”, observa. “Aí entra, por exemplo, uma experiência de maternidade que nem é a idealizada nem a recusada, tampouco atende a manuais. Então, há uma pergunta: como pode haver o estranhamento singular de uma mulher diante da maternidade? Há algo nisso que me interessou na hora da escrita”.

Investigação pelo estranhamento

Com uma trajetória reconhecida no jornalismo cultural e no exercício da crítica de teatro, em jornais como a “Gazeta do Povo”, de Curitiba, e “O Tempo”, de Belo Horizonte, e no site “Horizonte da Cena”, do qual é fundadora, Luciana também é pesquisadora do teatro com doutorado pela USP e integrou a curadoria de festivais como o FIT-BH 2018 e a MITsp 2017 e 2020. Antes de estrear na poesia, ela se dedicou ao teatro.

“Sempre fui muito ligada à escrita, mas segui a via da racionalidade por algum tempo. Até que o teatro me trouxe esse susto do corpo, da presença.” A poesia, a seu ver, não se afasta disso, e permite um tratamento corpóreo da linguagem, pela materialidade das palavras e suas ressonâncias nos corpos. “Inclusive, para a psicanálise lacaniana, que venho estudando, é muito importante esse choque das palavras no corpo, é o que nos constitui como sujeitos. Acho que nesse livro há um processo de tentar alguma forma de reconciliar as palavras e o corpo”, comenta.

A poesia surge, para ela, como outra via de investigação de linguagem. “Ela me permite sair um pouco dos discursos correntes”, ressalta. O caminho que se abre é de uma “investigação pelo estranhamento”, algo que Luciana também busca instigar nas pessoas ao lançar o livro no momento em que a sociedade enfrenta incomensuráveis perdas durante a pandemia.

“Eu espero que de alguma forma, para alguém, esse livro também chegue como uma possibilidade de sustentar o espanto. Esse é um momento em que, talvez, a gente precise disso diante do horror que está vivendo, como uma forma de se haver com ele, não simplificar, não polarizar, não se alienar; é uma forma de olhar com respeito para as pessoas que estão indo embora”, conclui Luciana.

Além de livro impresso, “O Mistério de Haver Olhos” também vai estar disponível em formato digital (PDF) e na versão audiolivro, com gravação da premiada atriz, diretora e dramaturga mineira Grace Passô.

SERVIÇO

Lançamento do livro “O Mistério de Haver Olhos”: Dia 17/06, às 19h.

No canal da Quintal Edições:

https://www.youtube.com/channel/UCU_usdYa90larBRY-EiSs-A/videos

Live com bate-papo com a autora, sorteio de exemplares, exibição de video-poema dirigido por Clarissa Campolina e leitura de poemas feita pela atriz baiana Laís Machado, no canal do YouTube da Quintal Edições: