As crianças têm feito perguntas às quais não sei responder. “Mãe, tô com um sentimento que eu não gosto e não sei qual é. Qual é?”

Então.

É duro sair do lugar de herói e heroína e dizer “não sei, não sei e não sei”. Confesso que essa tem sido a saída mais fácil, apesar de aprendermos na escola de pais (escola + sociedade antenada + avós) que o certo é dizer “o que você acha que é?” Essa não tem colado mais, ficam irritados e querem respostas prontas. Que eu não tenho.

O Google ajuda muito, obviamente, quando a pergunta é “como uma baleia beluga se parece” ou “quantas patas tem uma aranha”. Já pormenores um pouco mais aprofundados em entomologia como “qual a diferença entre o grilo fêmea e o grilo macho” não resultam tão fáceis nas buscas. Acabaram deixando o novo pet sem nome mesmo.

Quando a pergunta envolve sentimentos, esses vilões, tudo que a gente quer é congelar a cena, ampliar a tela e enxergar dentro da cabeça do filho. Tirar de lá toda a dúvida, ansiedade, medos, e fechar de volta. Mas dizem que é o sofrimento que faz crescer… e agora? Como explicar isso a uma mãe?

Assim que as crianças nasceram passei a chorar mais. A imaginação voa longe e me leva para dentro de outras casas, e fico sem saber se toda a raiva e frustração que vieram junto com as coisas incríveis da maternidade são mais contidas por lá. Ou menos. O que é que rola por lá na hora da ira.

O rádio, esse terrível, insiste em nos confrontar com a natureza humana em toda a sua maldade, e as notícias de filhos acorrentados, torturados ou mortos são difíceis de aguentar. 

Acho que me perdi um pouco no trem dos pensamentos, então é hora de falar um pouco sobre isso.

 

Por que escrever em 2021?

A crônica já foi muito debatida, incensada como gênero legitimamente brasileiro, e quem sou eu para me incluir num rol que inclui Ruy Castro e Rubem Braga. O que eu sei desses 20 anos de prática é que ela requer um pouco de ingenuidade e egocentrismo na medida certa.

Tenho esse espaço generoso num portal que resiste no jornalismo paranaense (salve, Bem Paraná!); algum ímpeto que me move ao teclado de vez em quando, e, pasmem, descobri que tenho até leitores (oi Lúcia! oi Severo!).

É demais para um coração escritor.

O que falta é a lauda. Ai, que saudade do layout de jornal impresso me informando o número de caracteres disponíveis para meus pensamentos em devaneio. A exigência de conter-se e fazer um recorte só do melhor (se ficar grande eu corto pelo pé, dizia o Goiaba) era um antídoto para a digressão.

Resiste ainda o fator tempo, e imagino que seja ele quem dita hoje a qualidade dos melhores escritos. Não que a abundância leve a frases perfeitas, talvez até o contrário: a pressão do deadline (fala aí, Ju Girardi) faz agir, decidir, fechar um texto. Como dizia a grande Sandra Gonçalves: não fique aí trocando seis por meia dúzia.