Enquanto a venda de modelos 1.0 cresceu 18,5% no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2007, os emplacamentos de veículos com motores de mais de 1 litro até 2 litros foi de 42,3% no acumulado dos mesmos meses. Muito deste crescimento se deve à participação dos 1.4, que estão roubando espaço dos 1.0.

Chevrolet e Fiat têm os mesmos modelos com motores 1.0 e 1.4. No caso da primeira, 56% dos Palio ELX vendidos em 2006 tinham propulsor 1.4. No ano passado essa participação foi a 58% e já em 2008, considerando as vendas até abril, essa opção já responde por 58% dos Palio vendidos.

O Chevrolet Corsa também confirma a maior procura pelo 1.4. O propulsor mais potente ajudou a elevar as vendas totais do modelo, que subiram 26,6% nos três primeiros meses de 2008 ante o mesmo período do ano passado (o 1.4 representa 56,3% das vendas).

E vem mais por aí. Além da Volkswagen, que deve equipar o Fox e a nova família Gol ainda este ano com o motor 1.4 Total Flex da Kombi, a Ford também vai apostar no propulsor de maior cilindrada. A montadora anunciou investimentos na fábrica de motores de Taubaté, interior do Estado de São Paulo. O objetivo é a criação de outra família de motores. Batizados de Sigma, terão opção bicombustível e versão 1.4.

“O público brasileiro está gostando mais dos 1.4. Além de mais potentes, eles também são econômicos. Principalmente quando se agregam itens de conforto”, avalia o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive.

CRENÇA

A associação de motores 1.0 com carros mais baratos era incontestável até o início desta década. Naquele período a alíquota do IPI para modelos equipados com esse tipo de motorização era bem mais vantajosa em relação a modelos de maior cilindrada.

Isso fez com que as fábricas passassem a oferecer cada vez mais itens de conforto e segurança em modelos 1.0, encarecendo-os. Atualmente, o IPI dos 1.0 é de 7% e dos 1.4, 11%.

Com isso, Fiat e Chevrolet, por exemplo, oferecem os mesmos carros com cilindradas distintas por preços parecidos – a diferença gira em torno de R$ 2 mil. “As montadoras conseguem oferecer modelos 1.4 com preços muito próximos dos 1.0, pois na linha de produção o custo é quase igual”, diz o engenheiro mecânico e professor de pós-graduação da FEI, Heymann Leite.

A Peugeot, por exemplo, primeira fabricante a extinguir o 1.0 de sua linha nacional, utiliza como estratégia de marketing o fato de ter o 206 1.4 (carro de entrada da marca) com preço semelhante ao de concorrentes equipados com propulsores 1.0.

A exemplo da Peugeot, a Citroën (que pertence ao mesmo grupo) vende o compacto C3 a partir do motor 1.4. “Os 1.0 devem ficar com cerca de 30% a 35% do mercado brasileiro. Essa participação corresponderá à demanda de veículos adquiridos por empresas para ser utilizados como carros de serviço. Por isso a preferência pelas versões básicas”, explica Garbossa.

O consultor avalia que os 1.0 só são vantajosos para quem faz uso estritamente urbano do carro. “O consumo de combustível deles é muito próximo ao do 1.4. Este último pode até ser mais econômico quando a velocidade média supera os 60 km/h”, afirma.