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Foto: Urânea Planetário

Nos últimos meses, imagens de manchas escuras na superfície do Sol têm chamado a atenção de cientistas e do público em geral. O fenômeno, associado ao aumento da atividade magnética solar, está se intensificando e pode trazer efeitos diretos para a vida na Terra que vão desde auroras boreais a um possível apagão geral. 

O astrônomo Marcos Calil explica que as manchas solares surgem devido à rotação diferenciada do Sol. Como a estrela não é um corpo sólido, o movimento em seu equador é mais rápido do que nos polos. Essa diferença provoca distúrbios no campo magnético solar, criando linhas de força que se entrelaçam e resultam nas manchas escuras observadas da Terra.

Apesar de parecerem pequenas no telescópio, essas regiões são imensas. “A menor delas pode ter o tamanho de dois ou três planetas Terra”, explica Calil.

Máximo solar

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Reprodução/Youtube

A atividade do Sol segue um ciclo aproximado de 11 anos, alternando períodos de calmaria e de intensa agitação magnética. Estamos justamente nos aproximando de um novo pico, que alguns astrônomos acreditam já ter começado, enquanto outros projetam para 2026, mas que só será possível confirmar após 2027, quando os sinais começarem a diminuir.

Esse período de maior turbulência é chamado de máximo solar e está diretamente ligado ao aumento do número de manchas solares, erupções e ventos solares.

Um dos efeitos mais visíveis desse fenômeno são as auroras boreais e austrais, causadas quando partículas carregadas do Sol interagem com a atmosfera terrestre. “São espetáculos belíssimos de luzes dançantes no céu, que infelizmente não são visíveis do Brasil”, comenta o astrônomo.

Mas os impactos não se resumem à beleza natural. O maior risco está na interferência em satélites artificiais, essenciais para comunicações, navegação aérea, sistemas de GPS e até para o fornecimento de internet.

Segundo Calil, hoje orbitam a Terra mais de 65 mil objetos, entre satélites ativos, desativados e lixo espacial. Durante tempestades solares mais intensas, a radiação pode danificar esses equipamentos, apagá-los temporariamente ou mesmo inutilizá-los.

Em casos extremos, já registrados no passado, tempestades solares chegaram a interferir em redes elétricas, provocando apagões em países inteiros. Embora raro, esse cenário é mais provável durante os períodos de máxima atividade solar, como aconteceu em 1989, quando uma tempestade solar intensa atingiu o Canadá e provocou um colapso no sistema elétrico da província de Quebec. Em apenas 90 segundos, a sobrecarga magnética derrubou toda a rede, deixando milhões de pessoas sem luz por cerca de nove horas. Além do apagão, satélites de comunicação também registraram falhas.

Monitoramento constante

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(Foto: NASA/GSFC/SOHO)

O fenômeno, apesar de imprevisível, é acompanhado de perto por cientistas no mundo todo. No Brasil, a principal instituição dedicada ao tema é o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que monitora a atividade solar. No exterior, projetos como o satélite SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) atualizam imagens do Sol a cada 20 minutos.

Além disso, telescópios solares permitem que observatórios e até astrônomos amadores acompanhem em tempo real a evolução das manchas e explosões. “É possível observar proeminências — explosões solares que se projetam para fora da borda do Sol — e prever, em certa medida, a intensidade dos ventos solares que podem atingir a Terra”, diz Calil.

O que esperar daqui para frente?

De acordo com o astrônomo, não há protocolos capazes de proteger satélites de forma eficaz. As partículas solares viajam à velocidade da luz e levam apenas 8 minutos e 30 segundos para chegar à Terra, tempo insuficiente para qualquer reação técnica. E em caso de um apagão generalizado causado por atividade solar, a recuperação poderia levar horas, dependendo da estrutura de cada país e operadora de energia.

Apesar das incertezas, Calil reforça que o monitoramento contínuo e a pesquisa são fundamentais para compreender melhor os impactos desse ciclo natural do Sol. “Ele é o objeto mais próximo de nós depois da Lua e continua sendo um grande mistério. Estudá-lo é essencial não só pela beleza das imagens, mas pelos efeitos diretos que pode trazer ao nosso cotidiano”, conclui.

Assista a uma das lives com o professor Calil:

Alana Morzelli, sob supervisão de Mario Akira