Cultura Corporal

Carlos Mosquera

Apenas uma opinião
Esta semana foi pródiga em assuntos sobre atividades físicas. Entre muitos escolhi dois que talvez mostrem bem como as pessoas encaram a prática dos exercícios físicos. Nas páginas amarelas da “Veja”, a entrevista é com o dr. Mehmet Oz, conhecido pelos seus programas de televisão nos Estados Unidos. Seus estudos são sobre o antienvelhecimento, ou seja, manter o organismo mais jovem do que aponta a idade cronológica. Sua receita principal, sem falsa modéstia, é o que venho escrevendo aqui há muito tempo: exercícios físicos regulares, alimentação saudável e aqueles outros fatores que todos já conhecem.
Na terça-feira desta semana, leio na “Gazeta” a matéria do Miguel Sanches Neto, a quem não conheço, mas gostaria, que escreve sobre “Me deixem”, uma crônica contestando exatamente  o que o dr. Oz propõe: “Respeitem as manchas na minha pele, minha cintura adiposa, minhas veias à mostra, minhas mãos de bruxa velha, minhas varicosas por favor, não queiram que eu seja jovem.” Como posso questionar ou contrariar uma pessoa que tem como opção um envelhecimento sem “maquiagem”, um amadurecimento transparente, mostrando a todos sua disposição de envelhecer em paz?
Concordo com o Miguel quando diz “aos adestradores das inúmeras academias”, pois era assim que eu me sentia quando estava administrando uma, estava sempre na contramão do que eu idealizava, por isso sempre recusei os convites para ser “personal training”, por me sentir sempre um “adestrador”, ou melhor, um “personal psicólogo”. Nunca tive muito saco para escutar, durante os meus exercícios, o problema dos outros, já chega os meus.
Por outro lado, imagino que a leitura seja uma grande companheira do Neto, um grande prazer em estar ao lado dos livros, mas não posso acreditar que não exista outro prazer além da leitura.
Sem falar sobre sexo, há a caminhada. O caminhar é antropológico, pensar andando, refletir sobre a vida, em movimento, é próprio da nossa natureza, por que não continuar com esses costumes? Repito, admiro a posição radical do Miguel (se assim posso chamá-lo), mas uma caminhadinha para ver “a coisa mais linda” é fundamental.
Sobre os admiradores do dr. Oz, como posso contrariá-los? Cada um gasta seu dinheiro como pode e como quer. Insisto, a única coisa que não podemos esquecer é, sem prazer no que estamos fazendo, tudo vira um fardo, pesado e difícil. Não adianta pensar em ganhar alguns anos sem prazer, a vida perde o sentido. Além disso, quando pensamos e planejamos uma velhice mais longa, esquecemos que podemos morrer atropelados, que pode acontecer a qualquer momento. Esses fatores do meio, ou do nosso entorno, são mais decisivos do que a gente pensa. Portanto, nem o abandono do corpo nem uma clínica especializada, apenas viver. Dizem os orientais: curta o percurso, esqueça o final dele. É hoje.