RAFAEL REIS, ENVIADO ESPECIAL RIO DE JANEIRO, RJ – O ex-capitão da seleção brasileira Cafu e o chefe da força-tarefa contra racismo e discriminação da Fifa, Jeffrey Webb, reclamaram nesta quinta-feira (3) da passividade no combate aos casos de preconceito e xenofobia registrados na Copa do Mundo.

O bicampeão mundial (1994 e 2002) cobrou “punições severas para quem cometer atos de desigualdade” a fim de educar a população, “não apenas nos estádios, mas também nas ruas”. Já o dirigente, que é presidente da Concacaf e um dos vices da Fifa, mostrou descontentamento com a não aplicação de um projeto que visava espalhar pelos estádios do Mundial vigias para monitorar comportamentos discriminatórios da torcida.

“Não há motivos para que não tenhamos delegados fazendo um trabalho de relatar casos assim nos jogos. Existe uma desconexão entre o discurso e a prática. É lamentável”, resumiu. O comitê disciplinar da Fifa abriu apenas um procedimento disciplinar por casos de discriminação neste Mundial. Mas após a analisar o grito de “puto” (homossexual) proferido pela torcida do México antes da cobrança do tiro de meta de todos os goleiros adversários, decidiu não punir a seleção azteca.

“A torcida usou palavras pouco apropriadas, mas não foi um insulto a um determinado jogador, por isso não consideramos como algo passível de punição. São palavras ofensivas, mas não havia vontade de insultar alguma pessoa em específico”, disse o presidente do comitê Claudio Sulser.

O grupo recebeu ainda mais duas denúncias de atos discriminatórios. As torcidas da Croácia e da Rússia foram acusadas de levarem às arquibancadas cartazes com símbolos neonazistas e mensagens de apoio à xenofobia. Em ambos os casos, não foi aberto nenhum procedimento disciplinar. “Como a gente pode punir os croatas se nem temos como saber se foram eles que levaram a bandeira ao estádio? É difícil determinar quem é quem em um estádio de Copa. A bandeira estava atrás da torcida brasileira, como vamos saber quem entrou com ela?”, adicionou Sulser.

A solução para dúvidas como essa poderia ser a implantação de um sistema de delegados para observarem atos de discriminação, como deseja Webb. Segundo o diretor de responsabilidade social da Fifa, Federico Aridechi, não foi possível treinar os delegados a tempo de trabalharem na Copa, já que o projeto foi aprovado apenas em março.