A arbitragem brasileira tem história nas Copas. Apenas nas edições de 1934, 1938 e 1958 não tiveram a presença de árbitros do Brasil. Com Sandro Meira Ricci no Brasil, que não conseguiu chegar à final, 14 árbitros no total apitaram em Mundiais. O gaúcho Carlos Eugênio Simon é o único a participar de três Copas, tendo arbitrado sete partidas.

Os cariocas Arnaldo César Coelho e Armando Marques estiveram em duas edições. O também carioca José Roberto Wright apitou quatro jogos na Copa de 1990 e é o segundo que mais comandou jogos. Arnaldo César e Romualdo Arppi Filho apitaram finais de Copa.

O paulista esteve na final de 1986, no México, vencida pela Argentina, após bater a Alemanha Ocidental por 3 a 2.

ITÁLIA X ALEMANHA Em 1982, na Espanha, a taça foi vencida pela Itália após derrotar a Alemanha por 3 a 1. No maior jogo de sua vida, o Arnaldo César lembra de um momento temido pelos árbitros. Quando a decisão ainda estava no 0 a 0, a seleção italiana fez um lançamento da defesa para o ataque, o atacante Conti invadiu a área e foi derrubado pelo defensor Briegel. Devido à velocidade do lance, Arnaldo estava distante. Mesmo assim, assinalou o pênalti. “Eu estava mal colocado por causa da velocidade do lançamento e corri para a linha de fundo. Foram os 35, 40 metros mais longos da minha vida. O mundo caiu na minha cabeça, pensei se tinha acertado ou não”, disse o ex-árbitro, que revelou alívio pela cobrança desperdiçada por Cabrini. “Quando o juiz marca um pênalti duvidoso, ainda mais em uma final de Copa, é um verdadeiro alívio quando o jogador chuta para fora. No subconsciente do árbitro ele fica satisfeito, pois o placar não mexeu e o pênalti passa a ser uma coisa secundária do jogo.”

AMEAÇA Simon também viveu uma experiência marcante, embora aterrorizante no seu terceiro Mundial -ele apitou as Copas de 2002, 2006 e 2010. O duelo entre EUA e Inglaterra pela primeira rodada, em Rustemburgo, no dia 12 de junho, foi marcado por uma ameaça de um atentado da Al Qaeda dentro do estádio. “Chegamos ao estádio eu, o [assistente Altemir] Haussman e o [Roberto] Braatz ao estádio e estavam presentes várias personalidades. Apesar da tensão, eu percebi que o último lugar que poderia acontecer alguma coisa seria naquele jogo. E é fato, pois os EUA bloquearam o espaço aéreo e acabou sendo uma partida tranquila”, afirmou.

Dos dois jogos arbitrados no Mundial de 1998, na França, Márcio Rezende de Freitas esteve na abertura da competição, em que a equipe da casa bateu a África do Sul por 3 a 0. Mas o que ficou na sua memória foi o empate por 1 a 1 entre Bélgica e Coreia do Sul, que eliminou ambas as seleções daquele Mundial. “Os jogadores da Bélgica saíram do campo cabisbaixos, chorando, foi uma cena muito triste. A Coreia nem era tão forte. Com o resultado, os dois saíram do torneio, e a Bélgica não acreditava que seria eliminada na primeira fase”, disse.

NOS ESTADOS UNIDOS Já o gaúcho Renato Marsiglia, que apitou a Copa de 1994, nos EUA, revela que a ansiedade da estreia também aflige o árbitro antes de um torneio do quilate de um Mundial. “O primeiro jogo que apitei foi um clássico dos Países Baixos [Bélgica 1 x 0 Holanda], com muita rivalidade e, por ser uma estreia para mim, eu não dormi, fiquei ansioso para chegar logo a partida”, contou.

“Mas depois que você entra em campo, você foca apenas no trabalho e esquece do resto.” Para Marsiglia, a Copa do Mundo é um evento mais “fácil” de se arbitrar do que jogos do Brasileiro e Libertadores. “No Mundial é mais fácil técnica e disciplinarmente por conta do nível técnico alto dos jogadores e por causa do tribunal de penas. Há um caderno onde constam as punições que deverão se cumpridas, o jogador já sabe quanto tempo vai ficar suspenso”, disse. “Antes dos jogos da Copa há uma reunião entre os comissários, o trio de arbitragem, os delegados de cada seleção e os treinadores, para falar sobre as normas disciplinares. Imagina isso no Brasil? Hoje os árbitros ficam no hotel escondidos.”

Rezende considera arbitrar o Mundial como uma experiência única. “É o ápice da carreira de um árbitro.” Para Arnaldo, a cobrança após estar em uma Copa do Mundo é ainda maior. “Depois da final eu continuei apitando e tinha obrigação de acertar, não podia errar nunca.”