Na aparência, há pouca coisa em comum entre o tradicional Estádio Durival de Britto e Silva, conhecido como Vila Capanema, e o moderno Joaquim Américo, a Arena da Baixada. Mas há dois fatos que os aproximam e que colocam Curitiba numa situação curiosa: a de sediar jogos de duas Copas do Mundo em dois estádios diferentes localizados em extremidades da mesma rua. A Vila Capanema, que recebeu uma partida da Copa de 1950, e a Arena da Baixada, pronta para quatro jogos do Mundial que começa este mês, são ligadas pela Engenheiros Rebouças, uma rua de Curitiba repleta de história e tradição.

Aos 74 anos, o professor aposentado Paulo Osni Wendt é uma privilegiada testemunha dessa coincidência histórica, que une dois estádios separados por uma distância de apenas 2.200 metros. Em 1950, com 10 anos de idade, ele foi ao Durival de Britto e Silva para assistir à partida entre Paraguai e Suécia, que empataram em dois gols – depois de uma preliminar entre Internacional de Campo Largo e União da Lapa. Ao lado do pai, percorreu a pé a Engenheiros Rebouças – um trajeto que repetirá parcialmente este ano, agora na direção oposta, para assistir a três jogos da Copa na Arena da Baixada. Embora tenha como endereço oficial a Avenida Getúlio Vargas, a Arena fica exatamente no fim da Engenheiros Rebouças, no ponto em que esta se encontra com a Buenos Aires .

A emoção, diz Wendt, certamente será a mesma. A paisagem, porém, é outra. Em 1950, a Engenheiros Rebouças era uma rua recém-urbanizada e integrava a Zona Industrial de Curitiba, prevista no Plano Agache, o primeiro plano urbanístico da cidade, elaborado pelo urbanista francês Donat-Alfred Agache.

A pavimentação da rua tinha acabado de ser concluída – um benefício para as madeireiras, cervejarias, moinhos cerealistas e beneficiadoras de erva-mate então instaladas na região. Os postes de iluminação da rua eram novinhos em folha – tinham sido instaladas no ano anterior pela Companhia Força e Luz do Paraná.

Ainda havia campo e muito mato ao redor e uma única linha de ônibus passava na Rua Engenheiros Rebouças, hoje servida por 16 linhas, que permitem fácil acesso ao velho estádio ou à Arena da Baixada, no extremo oposto. Andando um pouco, quem morava por ali podia pegar uma das linhas de bondes que até 1952 circularam na vizinha Durival de Britto – depois transformada na Avenida Marechal Floriano.