RAFAEL REIS, ENVIADO ESPECIAL RIO DE JANEIRO, RJ – A Fifa classificou de “rumores” o envolvimento de membros da entidade no esquema de desvio de ingressos da Copa do Mundo para cambistas. Além disso, a entidade voltou a afirmar que aguarda ser procurada pelas autoridades brasileiras para auxiliar na investigação do caso.
“Não temos nada a comentar por enquanto. Existem muitos rumores circulando [sobre o envolvimento da Fifa]. Vamos esperar uma reunião [com a polícia] para termos detalhes da operação”, disse a porta-voz da federação, Delia Fischer.
Segundo a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio, ao menos um integrante da entidade tem participação no esquema e ajudava a desviar ingressos do Mundial para cambistas. A operação “Jules Rimet” foi deflagrada na terça-feira, com a prisão de 11 de suspeitos de integrar um esquema ilegal de venda de ingressos da Copa, que faturava até R$ 1 milhão por jogo.
A quadrilha vendia entradas repassadas pela Fifa a três federações nacionais. A suspeita é de que essas associações sejam a CBF, a AFA (Associação de Futebol da Argentina) e RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol). Entre os presos está o franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, 57, que tinha passe livre para eventos da Fifa e circulava tranquilamente pelo Copacabana Palace, onde está hospedada a alta cúpula da entidade, no Rio.
DESDE 2002
O esquema de venda de ingressos, segundo a apuração, funcionava desde a Copa de 2002, realizada no Japão e na Coreia do Sul. No Brasil, por meio de escutas telefônicas e filmagens, descobriu-se que a quadrilha usou empresas de fachada para obter ingressos para jogos da Copa de diferentes formas e revendê-los por 1.000 euros (R$ 3.000) cada um.
Suspeita-se que o grupo tenha adquirido bilhetes da cota da Fifa para meia-entrada e gratuidade. Os 11 presos foram indiciados sob suspeita de cambismo, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Podem pegar até 18 anos de prisão.
CONEXÃO ZURIQUE
A cada jogo, a Fifa distribui 700 ingressos para cada federação cuja seleção está em campo. Além disso, a CBF recebeu uma carga de 30 mil entradas extras por ser a federação da sede do Mundial. De acordo com a investigação, o Lamine Fofana passava horas em telefonemas para Zurique (Suíça), cidade-sede da Fifa, o que levantou a suspeita de envolvimento de membros da entidade.
O franco-argelino usava um carro com credencial da Fifa. Entre os telefonemas, havia contatos com jogadores e ex-jogadores de diferentes países. Durante toda a segunda (30), Lamine Fofana oferecia por R$ 3.000 o ingresso para Argentina x Suíça. A polícia estima que a quadrilha pretendia faturar R$ 200 milhões nesta Copa do Mundo. Os cambistas agiam via agências de turismo em Copacabana, uma delas de fachada.