Majid e Habibu não se conhecem. E mais que isso: fora a religião muçulmana, têm muito pouco em comum. Tanto na cultura quanto no canto do mundo onde nasceram. Mas, nos próximos dias, dois fatores vão unir esses estrangeiros: o futebol e a cidade que escolheram para viver. A Curitiba adotada nos anos 90 pelo iraniano Majid Azari será o palco da partida entre a seleção persa e a Nigéria, de Habibu Abidullahi, estudante da Universidade Federal do Paraná há três anos.
Vou ao jogo com toda a família. A seleção do Irã está mais forte para essa Copa. O difícil vai ser o jogo com a Argentina né, como parar o Messi? Mas acho que ganhamos da Nigéria e da Bósnia, diz o confiante Majid Azari. Ele nasceu em Teerã, capital do país, e veio para o Brasil em 1994, junto com o irmão Hamid, para abrir uma loja de tapetes persas. O negócio não deu muito certo e ele foi trabalhar em uma multinacional, antes de, no ano passado, abrir o Persian, restaurante de comida típica iraniana no bairro Mercês.
Fã do meio-campista Javad Nekounam, titular da seleção dirigida pelo português Carlos Queiroz, Majid tem dois filhos brasileiros e se comunica bem em português. Mas em casa falamos farsi, nossa língua local, para manter as tradições. Também vamos todo ano ao Irã e frequentamos a mesquita da Rua Kellers, no Largo da Ordem. Cozinheiro experiente, ele faz questão de preparar para os clientes o kebab, espécie de sanduíche do Oriente Médio, com todo tipo de recheio de carnes, e o dugh, um suco de coalhada com menta. Apesar da desconfiança, ele garante: essa bebida é uma delícia.
Aos 26 anos, Habibu Abdullahi, é um rapaz tímido. Gosta de andar pelos parques, conversar pelas redes sociais com amigos que deixou na África e ir ao cinema. Nascido na província de Bauchi, ao norte da capital Abuja, ele é um dos poucos nigerianos em Curitiba. Minha cidade é muito parecida com a de vocês, temos quase 2 milhões de habitantes, mas Curitiba é maior. Apesar da semelhança, foi por acaso que ele veio parar aqui. Eu queria conhecer o mundo, consegui uma bolsa de estudos e vim, sem pensar duas vezes, conta.
O estudante de Tecnologia de Análise de Sistemas é louco por futebol e torcedor fanático das Super Águias, apelido da seleção nigeriana. Não consegui ingresso para o jogo, mas os nigerianos do Paraná vão se reunir no Largo da Ordem para torcer. Aposto em um 3×0 contra o Irã. Segundo ele, os jogadores da Nigéria devem passar pelo local depois da partida, a convite da Associação de Nigerianos do Estado, que conta com cerca de 30 pessoas. Vai ser emocionante conhecer alguns ídolos, como Uche e Mikel, conta, se referindo aos craques que jogam no Villarreal e no Chelsea, da Europa.
Confiantes no sucesso de suas seleções, os dois curitibanos por adoção estão ansiosos pelo dia 16 de junho, quando Irã e Nigéria se enfrentam às 16 horas na Arena da Baixada, em partida da primeira rodada do Grupo F. Para os conterrâneos que virão a Curitiba acompanhar a Copa do Mundo eles deixam uma mensagem de boas vindas. Seja o khoshamadid de Majid, em farsi, ou o barka da zuwa de Habibu, no dialeto hausa, o mais importante é que todos sejam bem acolhidos, como eles, e, além do jogo, possam curtir tudo que Curitiba tem para oferecer aos quem vêm de fora.