Manifestantes contrários à realização da Copa do Mundo no Brasil assistiram no centro do Rio, na tarde desta sexta-feira (6), ao amistoso da seleção contra a Sérvia. No espaço batizado de “Manifest-Território Livre da Fifa”, instalado na Cinelândia, uma televisão transmitia o jogo. A marca d’água da rede Globo foi tapada com um adesivo do movimento grevista dos professores estaduais e municipais do Rio. A locução do narrador Galvão Bueno foi substituída pela transmissão da rádio.
O evento é organizado pelo Comitê Popular da Copa. O objetivo é, além de discutir a realização do Mundial, chamar as pessoas para o ato Copa na Rua, marcado para as 10h da próxima quinta (12), data da abertura da Copa. Além disso, o comitê está divulgando o dossiê que enumera violações de direitos que, segundo a entidade, ocorreram em função da competição, como remoções forçadas de moradores de comunidades.
Durante o intervalo, os manifestantes abriram o microfone para quem quisesse fazer a sua crítica. Um farmacêutico explicava as pautas do movimento “valorização do farmacêutico” quando o atacante Fred conseguiu se desvencilhar do zagueiro sérvio e abrir o placar. Os espectadores comemoraram. “Nós acreditamos que é possível que mesmo a pessoa que seja fã de futebol tenha uma postura crítica em relação à Copa. O nosso problema não é a realização do campeonato, mas sim as proibições e violações que a Fifa impõe com a Copa”, disse Vítor Mariano, integrante do Comitê Popular. Uma banca com camisas estava a venda. Por R$ 15 era possível comprar camisetas verde e amarelas com as inscrições “Copa para quem?”, “PM: violência padrão Fifa”, e “Copa, cozinha e grana lavada”.
Mais de uma dúzia de jornalistas internacionais acompanhavam o evento. Em uma rua lateral, cerca de 40 policiais acompanhavam a movimentação à distância. Um dos espectadores era o ex-integrante do parlamento europeu Daniel Cohn-Bendit, do partido Verde alemão. Ele, que produz um documentário sobre a Copa para o canal de TV franco-alemão chamado Arte, disse que o Manifest é, em menor medida, um retrato das sociedade diversa e contraditória do país. “É interessante que as pessoas que sejam críticas à Copa estejam na praça torcendo pela seleção brasileira. Essas contradições ficaram bastante evidentes com os protestos de junho passado”, disse ele, que participou.do movimento de maio de 1968 na França. Segundo com Bendit, o governo não soube lidar bem com todas as condições da Fifa. Ele criticou o raio de cerca de dois quilômetros dos estádios que serão “território Fifa”. “Faz parte da cultura brasileira o comércio na ruas que não será permitido nos arredores dos estádios. Ou seja, a Fifa, que é um monopólio estranho, impôs condições que sobrepuseram a cultura local sem oposição do governo”, disse. O “Manifest” chegou a reunir cerca de 50 pessoas, parte das quais pessoas sem relação com os protestos.