Esta semana foi pródiga em assuntos sobre atividades físicas. Entre
muitos escolhi dois que talvez mostrem bem como as pessoas encaram a
prática dos exercícios físicos. Nas páginas amarelas da “Veja”, a
entrevista é com o dr. Mehmet Oz, conhecido pelos seus programas de
televisão nos Estados Unidos. Seus estudos são sobre o
antienvelhecimento, ou seja, manter o organismo mais jovem do que
aponta a idade cronológica. Sua receita principal, sem falsa modéstia,
é o que venho escrevendo aqui há muito tempo: exercícios físicos
regulares, alimentação saudável e aqueles outros fatores que todos já
conhecem.
Na terça-feira desta semana, leio na “Gazeta” a matéria do Miguel
Sanches Neto, a quem não conheço, mas gostaria, que escreve sobre “Me
deixem”, uma crônica contestando exatamente o que o dr. Oz propõe:
“Respeitem as manchas na minha pele, minha cintura adiposa, minhas
veias à mostra, minhas mãos de bruxa velha, minhas varicosas por favor,
não queiram que eu seja jovem.” Como posso questionar ou contrariar uma
pessoa que tem como opção um envelhecimento sem “maquiagem”, um
amadurecimento transparente, mostrando a todos sua disposição de
envelhecer em paz?
Concordo com o Miguel quando diz “aos adestradores das inúmeras
academias”, pois era assim que eu me sentia quando estava administrando
uma, estava sempre na contramão do que eu idealizava, por isso sempre
recusei os convites para ser “personal training”, por me sentir sempre
um “adestrador”, ou melhor, um “personal psicólogo”. Nunca tive muito
saco para escutar, durante os meus exercícios, o problema dos outros,
já chega os meus.
Por outro lado, imagino que a leitura seja uma grande companheira do
Neto, um grande prazer em estar ao lado dos livros, mas não posso
acreditar que não exista outro prazer além da leitura.
Sem falar sobre sexo, há a caminhada. O caminhar é antropológico,
pensar andando, refletir sobre a vida, em movimento, é próprio da nossa
natureza, por que não continuar com esses costumes? Repito, admiro a
posição radical do Miguel (se assim posso chamá-lo), mas uma
caminhadinha para ver “a coisa mais linda” é fundamental.
Sobre os admiradores do dr. Oz, como posso contrariá-los? Cada um gasta
seu dinheiro como pode e como quer. Insisto, a única coisa que não
podemos esquecer é, sem prazer no que estamos fazendo, tudo vira um
fardo, pesado e difícil. Não adianta pensar em ganhar alguns anos sem
prazer, a vida perde o sentido. Além disso, quando pensamos e
planejamos uma velhice mais longa, esquecemos que podemos morrer
atropelados, que pode acontecer a qualquer momento. Esses fatores do
meio, ou do nosso entorno, são mais decisivos do que a gente pensa.
Portanto, nem o abandono do corpo nem uma clínica especializada, apenas
viver. Dizem os orientais: curta o percurso, esqueça o final dele. É
hoje.
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