Nos meus tempos de lutador de judô, sofria muito nos torneios e campeonatos oficiais, pois diferentemente dos esportes coletivos o judô como uma arte marcial preserva a individualidade, a derrota ou a vitória recai apenas sobre uma pessoa, o lutador. A minha preferência pelos treinos ao contrário dos campeonatos, foi pelo fato de não precisar me expor, ou melhor, “amarelar”, isso explica um pouco estas diferenças. Muitas vezes os atletas de lutas passam meses se preparando para uma competição e quando chega o momento mais importante, o inesperado do fantasma aparece e o resultado melancólico acontece em segundos. Tudo se perde ou se pode perder num movimento inadequado, quem sabe até na estratégia inapropriada. Jigoro Kano, o fundador do judô, que significa Caminho Suave, buscou inspirações para a criação desta arte secular principalmente no movimento dos animais. Estes eram os verdadeiros caminhos, sem muito esforço, apenas suavidade. As evoluções de todas as artes marciais trilharam um caminho suspeito, como tudo na vida, agora a força e a agressividade são os recursos mais importantes. Antigamente percebia-se que o caminho da suavidade era respeitado nos praticantes que caminhavam e caiam com mais técnica. As quedas no judô nos mostravam que existiam outros caminhos e novas possibilidades de lutas. Nem sempre uma queda indicava um fim, mas uma nova oportunidade. Perdeu-se essa filosofia com o passar dos anos, agora o mais importante são as medalhas. Tive o prazer de acompanhar vários judocas das “antigas”, e aprendi nesta prática o quanto devemos treinar e lutar para se aproximar da perfeição, sem esperar nada em troca, talvez um parabéns no final do treino. Isso era suficiente para o nosso crescimento interior. Olhar de frente para um adversário, e se mostrar por inteiro, até que o final da luta apareça, essa era a receita, o resultado era a conseqüência. Pois é, toda vez que acompanho um debate na televisão, seja para governador ou presidente, me recordo dos meus modestos tempos do judô, fico imaginando o que os candidatos pensam antes de iniciar a “luta”. Mesmo com toda a aparência de seguros e conscientes, acredito que no íntimo devem coexistir castelos de areias. Nas “competições” não pode haver erros nem demonstrar fraquezas. Os olhos nos olhos são fundamentais, a agilidade de raciocínio para responder com segurança uma pergunta e principalmente, saber a hora certa de contra-atacar, esses preceitos são próprios dos grandes lutadores, já ensinavam os mestres orientais. Amanhã, que vença o melhor.
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