Acompanhando alguns noticiários de esporte e vendo as imagens dos “Ronaldos” na televisão, comparo o quanto o bretão é diferente em formação e técnicas em relação aos outros esportes. Acho que nenhum estudo sério consegue explicar o futebol; talvez, no máximo, aproximar-se. Os gols que o Fluminense sofreu contra o Palmeiras, na quarta, são prova disso. Pode uma defesa tão alta como a do Flu levar gols de cabeça daquela forma? Por mais que se treine, se esforce, para ensaiar um posicionamento, nada. Nem o melhor dos cartomantes conseguiria explicar tal proeza.

Com uma barriga de Rei Momo, faltando 21 dias para a Olimpíada, alguém que não seja criança pode acreditar que o Ronaldinho Gaúcho pode entrar em campo para representar um país? Pode. Ele vai fazer isso. Nem quero entrar no mérito da questão, apenas confirmar as diferenças de condutas e necessidades. Se um corredor de 400 ou 800 metros ou qualquer outra prova do atletismo ficar parado duas semanas por algum motivo, vai precisar de, no mínimo, dois meses para voltar a se sentir competitivo. Nem estou ventilando a possibilidade de uns quilos a mais, como é o caso dos boleiros.

Todos os esportes olímpicos, insisto, todos, exigem treinos em dois períodos e com pouquíssimas horas de descanso. Nessas horas, os atletas entregam-se literalmente ao repouso, para recuperar as energias. Por que o futebol é diferente? Talvez aí esteja a magia do nosso esporte. Essa mistura de ginga com malandragem, dança espontânea, faro de criatividade e doação. Tudo se parece muito com a capoeira, candomblé, briga de galo, poesia, bossa nova, uma ação coletiva.

O que importa é estar no centro do palco, instigando o adversário e procurando domesticar a redondinha. O resto é lorota, é energia jogada fora, é conto de fadas, é esporte mecânico. Descobrir a magia em cada movimento corporal, insistir na beleza do seu talento esportivo é o segredo que cada um faz da sua prática esportiva. Sorte dos que não precisam se esforçar tanto, mesmo com barriga de pagodeiro. Podem fazer a alegria de uma nação.


Esta coluna é de responsabilidade do professor de Educação Física Carlos Mosquera