Lembrar da Vila Capanema é lembrar do Clube Atlético Ferroviário, o estádio que trabalhava o capitão. Muitas gerações do Ferroviário conheceram o funcionário reformado que, além do trabalho diário na administração dos contratos dos jogadores, era pai de um jogador. Este, recém contratado, e que gostava de matar aulas do Grupo Escolar Conselheiro Zacarias para se divertir no infantil do Coxa. Ficava mais fácil controlar o rebento se estivesse jogando no próprio clube que trabalhava. Assim fez o Capitão Barcímio Baptista Lins Sicupira, que trouxe seu filho Barciminho, mais tarde conhecido como Sicupira, para jogar no juvenil do Ferroviário. Foram alguns anos de Vila antes de se transferir para o timaço do Botafogo do Rio. Grudada num radinho de pilha de marca philco tropic, todos os finais de semana uma torcedora especial, que não podia assistir aos jogos no campo, porque na época as mulheres eram proibidas pelos maridos, dona Ana, tinha dupla missão. Ela sofria como poucos, torcendo pelo filhinho, aquele menino que ainda podia dar certo na vida e, pelo emprego do marido. A torcida, obviamente, era pelos dois da Vila, o marido capitão e o filhinho promessa. Muitos anos se passaram depois do início da profissão do filho e quase aposentadoria do marido, mas Ana Ribeiro Sicupira, até hoje sente saudades daquela época. Tinha certeza que, em qualquer campo que Sicupira jogasse, seria consagrado. A mesma certeza tinha, pelo esforço e competência demonstrado pelo marido que os títulos eram questões de tempo. Tudo aconteceu, menos a presença no estádio de dona Ana. Hoje com 97 anos, com uma memória de elefante, gostaria de pelo menos uma chance de ver de perto, até porque ainda não precisou de óculos, de saborear dos prazeres de assistir um jogo de futebol na vila Capanema, de corpo e alma presente. Lógico que não quer ser homenageada, quer apenas relembrar dos anos dourados que passou ao lado do seu radinho, um velho companheiro de lazer. Hoje não é dia das mães, a vila já foi reinaugurada mas, o esporte também se faz como gente como dona Ana Sicupira, atrás dos bastidores, acreditando e incentivando as promessas do nosso esporte. Elas, as mães, nunca são lembradas nas grandes comemorações do esporte, dona Ana sim, fez parte do sucesso da Vila, parabéns.
Esta coluna é de responsabilidade do professor de Educação Física Carlos Mosquera